A trajetória de Milton Campos
Em geral, quando se trata das ideias e lutas liberais, é quase sempre inevitável lembrar a relevância de Minas Gerais neste contexto.
E em Minas, um dos maiores liberais, e também mais esquecidos membros do liberalismo brasileiros, foi onde nasceu e fez carreira política o advogado e jornalista Milton Campos, que hoje completa 51 anos de seu falecimento.
Milton Campos se formou na faculdade de direito de Minas Gerais em 1922, e durante este ano em especial, começou sua carreira e envolvimento na política ao se postar contra o candidato apoiado pela situação política local, o ex governador mineiro Arthur Bernardes, se posicionando a favor da chapa montada pelo ex presidente do Brasil, Nilo Peçanha, chamada Reação Republicana.
Durante a revolução de 30, Milton esteve à parte dos eventos, pois, por mais que fosse contra o estilo do regime vigente apoiado pela candidatura de Júlio Prestes apoiada por São Paulo, tinha muitas suspeitas sobre o apoio da elite política mineira da época a Getúlio Vargas, julgando que o conflito de interesses vigente indicava apenas um racha na disputa de poder. De forma semelhante, esteve a parte também dos eventos da Revolução Constitucionalista.
Porém, com a promulgação de uma assembleia constituinte em 1933, Milton Campos se candidatou através do Partido Progressista, um dos vários e insólitos partidos regionais criados durante a brevíssima democracia de 34, para a assembleia regional de Minas Gerais.
O Partido Progressista era uma reunião dos partidários mineiros que se opunham à elite política da República Velha e do Partido Republicano Mineiro e reuniu elementos que, até então, se colocavam a favor dos resultados da Revolução de 1930 e reuniram em grande parte pessoas que seriam relevantes para a política nacional durante a democracia de 46, desde elementos adesistas de Vargas até o fim da vida como Benedito Valadares, governistas do PSD de Kubitschek como José Maria Alkimin e oposicionistas da UDN como Pedro Aleixo, Bias Fortes e o próprio Milton Campos.
Milton seguiu como deputado estadual por Minas até quando no dia 10 de novembro de 1937, o auto-golpe da Polaca de Getúlio Vargas decretou o absoluto fechamento de todas as assembleias nacionais e o eventual rompimento do partido em várias facções, sendo alguns beneficiados diretamente por Vargas e outros, sentindo-se traídos, e com a devida razão, se afastam do governo e passam a seguir carreiras paralelas ao poder, incluindo Milton Campos.
Milton, enquanto advogado, passou a advogar em favor da Caixa Econômica Federal no estado de Minas Gerais até 1944, quando se viu obrigado a renunciar ao cargo por ser signatário da carta que deu início ao fim da ditadura Vargas, o Manifesto dos Mineiros.
O nome se dá ao fato da grande maioria dos 92 signatários da carta serem mineiros, inclusive Milton Campos.
A carta denunciava a contradição política pela qual o Brasil passava durante os anos 40. Enquanto a FEB era mandada para a Europa para combater o regime nazi-fascista de Hitler e Mussolini, enquanto no Brasil se executavam as mesmas práticas antiliberais destes regimes e promulgaram-se leis inspiradas nos mesmos
O congresso seguia fechado com Vargas e seus interventores concentrando o poder em si mesmos, a liberdade de imprensa e de expressão não existiam sob a vigilância do DIP de Lourival Fontes e Filinto Muller praticava prisões arbitrárias e sucessivas torturas pelo Brasil.
A carta, finalmente publicada em jornal em 1943, desafiou diretamente a ditadura e contou com a participação de Milton Campos, iniciando um processo de distensão que termina com a deposição de Getúlio Vargas em outubro de 1945.
Milton então se candidata à assembleia constituinte em 1945 e é eleito para deputado federal, sendo um dos signatários da Constituição Federal de 1946, se opondo ao anteprojeto do varguista Nereu Ramos de replicar a Constituição de 1937, e defendendo se inspirar na de 1934, que saiu vitoriosa.
Em 1947, com o restabelecimento das eleições para governador, se candidata para o governo de Minas Gerais onde vence, contradizendo as previsões de vitória do PSD de Benedito Valadares.
Enquanto governador, Milton Campos se destaca em 3 grandes legados: educação, na qual tornou à época Minas Gerais o estado com uma das menores taxas de analfabetismo do país, aplicando as ideias educacionais da Escola Nova de Anísio Teixeira, embora não tivesse a presença do mesmo, servindo como secretário da educação da Bahia; agricultura, revitalizando a agricultura mineira que ainda estava estagnada desde a revolução de 1930, e na energia elétrica, ao estabelecer as primeiras grandes hidrelétricas brasileiras ao longo do Rio São Francisco e aumentando a capacidade de geração de energia estadual.
Ao sair do Palácio da Liberdade, articulações políticas e rachas dentro do governo o impediram de fazer um sucessor, caindo assim a sucessão em Juscelino Kubitschek.
Após o governo mineiro, serviu como senador e foi um dos mais ativos opositores do governo Kubitschek e Goulart, sendo considerado um dos membros da ala de juristas da UDN.
Em 1960, Milton era o vice presidente da chapa de Jânio Quadros, quando na época se elegia o presidente à parte do vice, e este fora sabotado por Jânio Quadros, que além de não dissuadir os votos Jan-jan, ainda fomentou a candidatura do PDC de Fernando Ferrari, deputado paulista, que dividiu os votos udenistas e permitiu que João Goulart fosse eleito e toda a crise de sua renúncia se instaurasse.
Em 1964, como grande parte da elite política brasileira, apoiou a deposição de Goulart, sustentando que o artigo da CF de 1946 que delega às forças armadas a responsabilidade de manter a ordem e a estabilidade política usado em 1955 contra Carlos Luz se encaixava no contexto de Goulart, e devido a isto acabou nomeado ministro da justiça de Castelo Branco.
Porém, em relações de atritos com os rumos que o golpe militar tomava em 1965, Milton passou a ter severos atritos, como quando da promulgação da suspensão da eleição de 1965, do qual ele entendia ser apenas uma manobra para os militares estenderem sua estadia no poder e que se confirmou quando promulgado o AI-2, suspendendo a existência dos partidos políticos, que levou a sua renúncia e oposição ao regime vigente pelos rumos tomados.
Milton faleceria em 16 de janeiro de 1972 afastado pela linha dura militar das atribuições de poder, que passou a cada vez mais tensionar e trair os objetivos udenistas de 1964.
*Artigo publicado originalmente na página Liberalismo Brazuca no Facebook.