A morte do Papa Francisco e o desafio de defender valores em uma sociedade livre
A morte do maior líder espiritual do mundo, o Papa Francisco, não é apenas um evento religioso: é um convite à reflexão sobre os alicerces invisíveis que sustentam a vida em uma sociedade livre.
Em tempos onde a liberdade é celebrada como valor supremo, é fácil esquecer que ela não se mantém de pé sozinha. A liberdade verdadeira, aquela que permite a convivência pacífica entre indivíduos diversos, depende de princípios morais compartilhados. Não nasce do decreto nem da imposição estatal, ela brota da cultura, da consciência, da responsabilidade de cada um.
Como já dizia Lord Acton, pensador liberal do século XIX, “a liberdade é o fim político mais alto que o homem pode buscar, mas ela depende de princípios morais eternos”. Assim, sem raízes sólidas, a liberdade individual se torna só mais um capricho — fácil de ser engolido pelo caos ou pela tirania.
É nesse sentido que a figura do Papa Francisco, com todas as suas complexidades e divergências que possam existir, ocupava um espaço simbólico importante: o de lembrar ao mundo que existem limites além da própria vontade. Em
um século onde a verdadeira liberdade é confundida com a ruptura de qualquer ordem, sua figura representava a tentativa de equilibrar moral e progresso.
As imagens de seu funeral deixam isso ainda mais claro. A liturgia solene, os gestos repetidos há séculos, os símbolos carregados de significado, tudo ali comunicava algo maior do que a pessoa do papa Francisco. Comunicava a ideia de que a vida humana é parte de uma história maior — e que valores transcendentes moldam civilizações livres. Sem tradições que carreguem simbolismos profundos, a sociedade se perde no próprio vazio.
Edmund Burke, um dos grandes pensadores da tradição política anglo-saxã, enxergava isso como poucos: na ânsia de romper com o passado, muita gente acaba destruindo também o que sustenta o futuro. Sem instituições e valores
morais, a liberdade perde o chão.
Assim, a partida de Francisco lembra a necessidade de valores que sustentem a liberdade sem sufocá-la. Valores que não são impostos, mas aceitos, não por força, mas por consciência, e que passem de geração para geração através de símbolos e tradições que falem mais alto que qualquer decreto. Acima de tudo, princípios que transcendam a moda e o ego. Essa é a liberdade que vale a pena ser defendida.
*Henrique Flores é colaborador do Instituto Atlantos.