A moral do professor livre

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A grandeza de uma sociedade depende da liberdade de seus mestres. Quando o professor perde o direito de pensar, a escola perde a alma e o aluno perde o sentido do aprender. O sistema educacional brasileiro, ao transformar o professor em funcionário do Estado e o ensino em cumprimento de metas, destruiu a vocação moral que sustenta o ato de educar. Nenhum currículo, diretriz ou decreto substitui o valor de um educador consciente de sua responsabilidade diante do espírito humano.

Durante séculos, o professor foi símbolo de sabedoria e autonomia. Era a ponte entre o conhecimento e a vida, o intérprete da cultura, o guia das consciências. Hoje, é prisioneiro de normas, submetido a orientações pedagógicas que o tratam como um técnico de instrução. O MEC, ao impor métodos, parâmetros e avaliações universais, retirou do professor sua soberania intelectual. Ele deixou de ser mentor e passou a ser executor. O ensino brasileiro perdeu a dimensão ética do ofício, reduzido a rotinas burocráticas e relatórios de desempenho.

A pedagogia estatal não confia no mestre, apenas o supervisiona. Acredita que a padronização substitui a sabedoria e que a repetição é mais segura que o discernimento. O professor, formado em cursos de licenciatura saturados de ideologia e carentes de filosofia, entra na sala de aula condicionado a seguir manuais. Não aprende a pensar sobre o ensino, mas a aplicar fórmulas de ensino. Sua criatividade é vista como risco, sua autonomia como desvio. Ao final, o que se produz é uma categoria desmoralizada, que ensina por obrigação e não por convicção.

Roger Scruton escreveu que educar é um ato moral porque envolve a transmissão da herança espiritual de uma civilização. O verdadeiro mestre não apenas informa, mas forma; não apenas transmite dados, mas desperta a consciência. Essa missão exige liberdade, pois o conhecimento não floresce sob vigilância. Um professor livre é aquele que ensina a pensar; um professor controlado é aquele que ensina o que se deve pensar. A diferença entre ambos define o destino de um povo.

A escola brasileira precisa redescobrir o valor do professor como indivíduo moral e intelectual. Ele não é uma peça da máquina estatal, mas um mediador entre o aluno e a verdade. A liberdade de ensino começa com a liberdade do educador. Em países como Finlândia e Estônia, a autonomia docente é tratada como um valor sagrado. Professores são formados com ênfase em filosofia, psicologia e ética, não apenas em técnicas pedagógicas. Confia-se neles porque são vistos como guardiões da inteligência nacional, não como operadores de uma burocracia. O resultado é uma educação de alto nível, onde o aluno aprende não por imposição, mas por inspiração.

No Brasil, o controle excessivo substituiu a confiança. Planos de aula, metas, provas e relatórios ocuparam o lugar do diálogo e do pensamento. O professor que tenta inovar é visto como indisciplinado. O que segue fielmente a cartilha é recompensado. O sistema ensina o docente a obedecer para sobreviver. Um professor que precisa escolher entre liberdade e estabilidade já deixou de ser livre. Nenhuma nação pode prosperar quando seus mestres têm medo de ensinar conforme sua consciência.

A recuperação moral da docência exige uma ruptura profunda. É preciso libertar as faculdades de educação do monopólio ideológico e restaurar o ensino das humanidades, da lógica e da filosofia. O educador deve ser formado para compreender o homem, não para reproduzir jargões políticos. O conhecimento pedagógico deve estar a serviço do aprendizado, não da militância. O professor deve ser incentivado a criar, refletir e discordar. Um sistema que pune a divergência destrói o pensamento e corrompe o espírito da ciência.

A moral do professor livre é a coragem de ensinar mesmo quando o sistema prefere o silêncio. É o compromisso com a verdade acima da conveniência, com a razão acima do manual, com o aluno acima da ideologia. Um educador que pensa por si mesmo não serve ao Estado, serve à civilização. É precisamente isso que os regimes centralizados temem: o mestre que não se ajoelha, o intelectual que não repete, o cidadão que não se submete.

O futuro da educação brasileira não depende de mais programas governamentais, mas da restituição da dignidade intelectual do professor. O Estado deve reconhecer que não forma mentes, apenas pode criar as condições para que elas floresçam. A escola precisa voltar a ser um espaço de liberdade, e o professor, um exemplo vivo de pensamento autônomo. Só assim o ensino recuperará seu verdadeiro sentido: o de conduzir cada indivíduo à luz da razão e da responsabilidade.

O renascimento educacional do Brasil começa quando o professor deixa de obedecer e volta a ensinar. Um mestre livre é a semente de uma sociedade livre. Enquanto o educador continuar acorrentado a cartilhas, o país permanecerá preso à ignorância que ele mesmo produz.

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João Loyola

João Loyola

Formado em administração pela PUC Minas e em Gestão de Seguros pela ENS, Pós-Graduado em Gestão Estratégia de Seguros pela ENS, é sócio sucessor da Atualiza Seguros, trabalha no programa Minas Livre para Crescer na Secretaria de Desenvolvimento Econômico de MG e é associado do IFL-BH.

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