A juventude e o sequestro do ensino brasileiro

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Durante muito tempo, enxerguei a juventude brasileira seduzida por uma estética revolucionária pronta para consumo. Jovens mobilizados mais por uma fantasia épica do que pela realidade concreta, inebriados por slogans vazios e causas plastificadas. Genuína massa de manobra de um projeto de poder que, sob o pretexto de justiça social, serve sempre para o controle, o aparelhamento e a manutenção de uma elite que não produz, apenas doutrina.

Contudo, recentemente identifiquei o surgimento de uma névoa de esperança, já que uma parcela da juventude começou a romper com a pirotecnia retórica e a desejar algo escandalosamente simples: que o básico funcione. Saúde, segurança, educação de qualidade, emprego digno. Menos cruzadas ideológicas, mais soluções práticas.
Esse movimento nasce da frustração, do confronto diário com a realidade que desmente a retórica. Porém, esbarra num obstáculo monumental: o sistema de ensino brasileiro foi sequestrado.

O que deveria ser um espaço plural, aberto à divergência e à investigação livre, foi reduzido a um repositório de ideias recicladas do século XIX. A universidade brasileira — com honrosas exceções — foi tomada por uma hegemonia ideológica que transformou a sala de aula num púlpito e o professor num militante. A doutrinação é estrutural. Ela habita os currículos, os livros, os corredores, os centros acadêmicos e, pior, as cabeças.

Falo com conhecimento de causa. Sou doutor em Administração, com formação pela UFRGS, e atuei por anos como professor em universidades privadas. Transitei por dentro desse sistema e testemunhei, não apenas nos discursos, mas nas práticas cotidianas, como a militância progressista se tornou regra, não exceção. Vi colegas que falavam com veemência contra o capitalismo e os privilégios da elite enquanto desfrutavam com gosto dos prazeres que o próprio sistema oferece: salários estáveis, consumo sofisticado e blindagem institucional. A hipocrisia como método de sobrevivência.

Mais de 70% dos professores universitários, inclusive em cursos de negócios e gestão, professam uma visão estatista, coletivista, que demoniza o lucro – por vezes, inconscientemente -, o mérito e a liberdade individual. Vendem uma justiça social que se realiza apenas por meio da tributação e do subsídio. Tudo com uma retórica emocionalmente irresistível, mas economicamente fraudulenta.

O problema se agrava pelo medo! O viés da prova social aprisiona os estudantes na obediência tácita à opinião dominante. Poucos ousam discordar. Essa cultura do medo se instalou com naturalidade nas universidades, dominadas por uma deselite intelectual que impõe narrativas e silencia dissidências. Não há liberdade onde há coerção moral.

É urgente abrir uma discussão nacional sobre o domínio ideológico no ensino brasileiro. O que está em jogo não é apenas a formação acadêmica dos jovens, mas a saúde intelectual do país. Fundamental desencastelar as bolhas, que propagam uma visão romântica da realidade, em que o mercado é sempre o vilão, o indivíduo é culpado por sua liberdade, e a salvação vem, invariavelmente, do Estado.

Enquanto não houver uma reforma profunda dos currículos, uma abertura real ao pensamento liberal — não o caricaturado, mas o baseado em fatos, evidências e resultados —, seguiremos formando gerações preparadas para protestar, mas incapazes de produzir.

Há uma juventude despertando, sim. Mas ela precisa de espaço. De coragem para desafiar o que lhe foi imposto como verdade absoluta. É hora de romper a hegemonia ideológica nas universidades. É hora de devolver ao ensino seu papel: formar indivíduos livres, avançar nas fronteiras das respectivas áreas do conhecimento, deixando de formar peças de uma engrenagem política disfarçada de consciência social.

Como opinador que sou, meu papel é auxiliar a juventude a pensar por conta própria. Parafraseando Albert Camus, a grande questão é que “revoluções” acabam nas mãos de burocratas. Simples assim.

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Alex Pipkin

Alex Pipkin

Doutor em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS. Mestre em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS Pós-graduado em Comércio Internacional pela FGV/RJ; em Marketing pela ESPM/SP; e em Gestão Empresarial pela PUC/RS. Bacharel em Comércio Exterior e Adm. de Empresas pela Unisinos/RS. Professor em nível de Graduação e Pós-Graduação em diversas universidades. Foi Gerente de Supply Chain da Dana para América do Sul. Foi Diretor de Supply Chain do Grupo Vipal. Conselheiro do Concex, Conselho de Comércio Exterior da FIERGS. Foi Vice-Presidente da FEDERASUL/RS. É sócio da AP Consultores Associados e atua como consultor de empresas. Autor de livros e artigos na área de gestão e negócios.

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