A fantasia democrática desnudada
A fantasia democrática de Luiz da Silva se esgarça a cada fala improvisada. Seu inconsciente autoritário escapa pelas brechas da retórica ensaiada e não se deixa conter por filtros de marqueteiros. É nesses momentos que o ex-operário revela sua essência. Evidente que não a do líder “popular” que respeita a pluralidade, mas a do caudilho que sonha com controle total, com silêncio forçado e com obediência cega.
A admiração por ditadores não é diplomática, é ideológica. Sobre Xi Jinping, ele declarou que “Xi governa com seriedade e responsabilidade, é uma figura admirável”. O elogio não é casual, é revelador de sua verdadeira identificação. O modelo chinês, com sua censura institucionalizada e seu desprezo por liberdades civis, representa a distopia que Da Silva gostaria de ver consolidada no Brasil.
A ideia de importar mecanismos de “regulação da internet” inspirados na China não é apenas absurda, é um insulto à democracia brasileira. E pensar que o “descondenado” voltaria para “salvar a mesma democracia”!
O que se tem é a admissão, ainda que disfarçada, de que o objetivo real não é combater fake news, mas calar vozes dissonantes, eliminar críticas e blindar o poder. Para isso, Da Silva conta com o apoio de um STF cada vez mais convertido em linha auxiliar do Executivo.
Hoje, o STF, aquele mesmo que queria “recivilizar” o país do capitão ditador, já não apenas interpreta a Constituição – ele a reescreve conforme os interesses do consórcio governante. Transformou-se num poder punitivo contra a oposição e protetor de aliados. A toga, que deveria garantir liberdade, passou a ser instrumento de intimidação.
No exterior, a aura de “salvador da democracia” começa a ruir. Até veículos “simpáticos” ao progressismo denunciam o autoritarismo lulista. Quando o próprio El País reconhece que “o Brasil ameaça normalizar a censura”, é porque o verniz começou a descascar. A Globo, “sua mídia oficial” idem.
O que se vê e o que não se vê não é novidade para quem conhece a trajetória do PT, partido dos trabalhadores que não trabalham, dos estudantes que não estudam – militam – e dos intelectuais que não pensam. É o velho novo projeto de hegemonia disfarçado de justiça social.
Com o retorno de Trump ao governo americano e a crescente exaustão global diante do teatro progressista, o jogo mudou. A narrativa de Lula não mais sobrevive quando confrontada com a realidade. As alianças com tiranos, o desprezo pelo Estado de Direito e o ataque sistemático à liberdade de imprensa e de opinião são transparentes.
Talvez estejamos, enfim, no limiar do momento em que a verdade — exilada por anos — volta a exigir lugar. Quando isso acontece, nem sentenças políticas, nem bilhões em propaganda, nem redações amordaçadas serão capazes de manter a farsa de pé. Quando a farsa cai, sobra o homem nu, autoritário, e finalmente reconhecido por aquilo que sempre foi.
Aí que surge, com toda sua estranha beleza, a imperfeita, perfeita verdade humana: aquela que resiste à encenação, sobrevive à propaganda e sempre retorna quando o palco desmonta.