A casa da praia do Brasil
Imagine uma viagem com amigos, talvez daquela juventude em que tudo parecia mais leve. Cinco decidem alugar uma casa na praia. Dois chegam antes, limpam, organizam, cozinham. Três se acomodam, abrem uma cerveja, contam histórias, aproveitam o trabalho pronto. No fim do dia, todos aparecem na foto, mas o esforço ficou concentrado em poucos. Essa metáfora, tão conhecida dos trabalhos em grupo na escola, é a fotografia mais honesta do Brasil atual. Uns criam riqueza, empreendem, arriscam; outros apenas pegam carona.
Essa carona virou política de Estado. Hoje, vivemos sob um coletivismo cada vez mais monitorado, que se veste de justiça social, mas se alimenta da coerção. Mais de 94 milhões de brasileiros dependem de programas assistencialistas — algo que deveria ser temporário. Adam Smith já dizia que o “espectador imparcial” nos leva a exercitar simpatia, colocando-nos no lugar do outro. É um princípio civilizatório. Mas há um limite. Quando a simpatia vira cortina de fumaça para sustentar uma máquina arrecadatória insaciável, o sistema mata a galinha dos ovos de ouro. Não há justiça quando se pune quem cria nem liberdade quando se obriga a viver da redistribuição.
Na psicologia, existe um fenômeno chamado reatância. Ele ocorre quando somos pressionados a agir contra nossos valores e escolhas. Sentimo-nos violentados, restringidos e naturalmente nos afastamos. É justamente o que o coletivismo faz, impondo a vontade do todo sobre a do indivíduo, substituindo a escolha pela coerção, sufocando o pensamento e esterilizando a ação. Onde deveria haver autonomia, instala-se conformismo forçado. O resultado é ressentimento, não harmonia; submissão, não solidariedade.
E aqui reside a grande contradição. Os que mais vociferam sobre “justiça social” — professores, advogados, psicólogos, historiadores — são, em geral, os que mais se beneficiam da estrutura que condenam. Vestem-se bem, viajam, consomem, vivem de privilégios, mas, na retórica, posam como defensores da igualdade. É a moral do discurso dissociada da prática. Pregam igualdade em público, mas vivem da diferença que o mérito e a produtividade dos outros sustentam. Nada de “mexer no meu queijo”.
A esquerda repete seus surrados mantras: pobreza, desigualdade, injustiça social. Como resposta, exige mais impostos. Agora a moda é taxar os “super-ricos”. Só que esse raciocínio é falacioso. Primeiro porque, no Brasil, o aumento de impostos não redistribui riqueza; serve para inchar uma máquina estatal perdulária, que gasta muito e devolve quase nada em educação, saúde, segurança e infraestrutura. Segundo, porque sufoca os que realmente criam oportunidades: empreendedores, empresas, aqueles que arriscam capital e esforço para gerar emprego. É o investimento privado, não a esmola estatal, que cria postos de trabalho e mobilidade social verdadeira.
O lulopetismo intervencionista insiste em gastar mal, endividar o país e manter uma dívida pública que já beira 80% do PIB. Para segurar essa desordem, os juros permanecem altos, travando o crescimento, desestimulando o investimento e matando empregos.
Vejam o paradoxo: em nome de combater desigualdades, esse modelo as aprofunda. Confunde pobreza com desigualdade e perpetua a miséria que diz combater.
Este é o Brasil da casa de praia, onde poucos lavam a louça e a maioria posa para a foto. O Estado assumiu o protagonismo da bondade, mas converteu compaixão em papelada, protecionismo em dependência. O cidadão virou cadastro, a vida virou dado, a liberdade virou concessão.
Carona obrigatória para todos, luxo garantido para poucos, e a conta, como sempre, sobra para quem trabalha de verdade.