Sobre a liberdade de empreender: quem cria, quem sabota

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Imagine uma orquestra em que o maestro não sabe ler partitura — e ainda assim insiste em reger a economia com uma batuta feita de impostos. Eis o Brasil: pela terceira e lamentável vez, assistimos ao retorno triunfal da velha fábula petista — um espetáculo que se vende como ópera social, mas não passa de ruído de uma nota só. Uma sinfonia desafinada onde o talento tenta tocar, mas o Estado entra berrando.

Como consultor empresarial, vivo no campo de batalha da realidade. Converso com empreendedores, donos de pequenas e médias empresas; os verdadeiros criadores de riqueza deste país. E o que ouço é um lamento silencioso: todos em compasso de espera, paralisados pelo medo. O risco político e fiscal já não é um risco — é um dado. E o nome do medo tem três sílabas: Es-ta-do.

E é por viver essa realidade que afirmo sem hesitar: a liberdade de empreender é o que separa a estagnação da esperança. Especialmente sob governos de esquerda, como o atual desgoverno petista, o Estado age como um colecionador de narrativas: justifica tudo em nome da justiça social, da equidade, da inclusão. Mas, por trás do vocabulário de seminário ideológico, o que temos é um Leviatã glutão, incapaz de criar, mas sempre disposto a confiscar. A fórmula é conhecida: tributa-se o que ainda respira, sufoca-se quem tenta empreender e glorifica-se a redistribuição do que não se produziu.

O resultado também é velho conhecido: investimento evaporando, empregos desaparecendo, inovação abortada. Mas os burocratas, confortavelmente apartados da realidade, continuam sua ladainha: “vamos taxar os super-ricos”. Como se houvesse uma padaria escondendo um bilionário em cada esquina.

O que me assombra não é o erro — é a fidelidade patológica ao erro. É a crença cega de que se pode combater a pobreza sem incentivar a criação de riqueza. É a ideia absurda de que se pode distribuir dignidade por decreto. No Brasil, o setor privado virou um vilão de novela. O empreendedor, aquele que gera empregos e paga impostos, foi rebaixado ao papel de suspeito. É tratado como explorador, evasor, sonegador em potencial – e, se ousa crescer, vira sempre o alvo.

Enquanto isso, a máquina estatal segue inchada, cara e ineficiente — uma sarcástica mistura de paquiderme e sacristia. Gasta-se demais, entrega-se de menos. Mas o discurso permanece moralista: o problema não é a ineficiência — é o mercado que “não coopera” com os objetivos do governo. Chegamos ao ponto em que a maior política social que se pode imaginar — o crescimento econômico — tornou-se heresia. Incentivar lucro? Recompensar produtividade? Premiar risco? Tudo isso soa ofensivo aos ouvidos da ortodoxia estatólatra.

Mas a verdade, essa teimosa, insiste em se mostrar: não há redistribuição sem produção. Não há justiça sem geração de valor. Quem bloqueia quem cria não combate a pobreza — a fabrica.

A principal fonte de desigualdade não está na liberdade de mercado, mas na sabotagem sistemática do crescimento. Quando o Estado torna-se o protagonista da economia, o enredo é sempre o mesmo: tributar, travar, travestir.

Em nome dos pobres, condenam-nos à estagnação perpétua. Em nome da igualdade, nivelam por baixo – e, em nome do povo, governam para a máquina. O Brasil não precisa de mais narrativas — precisa de solo fértil. E solo fértil não se aduba com decretos nem com discursos de ocasião — aduba-se com liberdade. Com estabilidade jurídica, impostos justos, respeito ao mérito e incentivo ao risco.

Os criadores de riqueza não querem favores. Querem apenas que o Estado não atrapalhe. Que pare de agir como agiota institucional e comece, ao menos uma vez, a servir àqueles que realmente movem o país. É hora de inverter a equação: o protagonista da justiça social não é o Estado — é o empreendedor. É ele quem dá ao trabalho o seu valor. Quem transforma ideias em produto, suor em salário, risco em progresso.

A prosperidade nasce onde há liberdade para criar, competir e crescer. O resto é narrativa: bonita, emocional — como maquiagem em economia doente: disfarça o colapso, mas não o impede.

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Alex Pipkin

Alex Pipkin

Doutor em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS. Mestre em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS Pós-graduado em Comércio Internacional pela FGV/RJ; em Marketing pela ESPM/SP; e em Gestão Empresarial pela PUC/RS. Bacharel em Comércio Exterior e Adm. de Empresas pela Unisinos/RS. Professor em nível de Graduação e Pós-Graduação em diversas universidades. Foi Gerente de Supply Chain da Dana para América do Sul. Foi Diretor de Supply Chain do Grupo Vipal. Conselheiro do Concex, Conselho de Comércio Exterior da FIERGS. Foi Vice-Presidente da FEDERASUL/RS. É sócio da AP Consultores Associados e atua como consultor de empresas. Autor de livros e artigos na área de gestão e negócios.

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