Por que tantas empresas brasileiras estão fugindo para o Paraguai?
Nos últimos anos, tornou-se cada vez mais comum que empresas brasileiras transfiram parte de sua produção para o Paraguai. O caso da Lupo, uma das maiores e mais tradicionais fabricantes têxteis do país, é simbólico: a companhia decidiu instalar operações industriais no Paraguai alegando que os custos tributários e regulatórios no Brasil tornaram a produção doméstica economicamente inviável.
Esse movimento não é isolado. Ele reflete um problema estrutural e crônico da economia brasileira: um sistema tributário complexo, caro e incerto, aliado a um ambiente regulatório que desestimula o investimento e reduz a competitividade das empresas nacionais.
O peso insustentável dos impostos no Brasil
O setor industrial brasileiro convive com uma das maiores cargas tributárias do mundo. Mais do que altos, os impostos no Brasil têm três características que tornam a operação empresarial insustentável:
Carga tributária elevada
Empresas industriais podem pagar entre 40% e 65% do faturamento em tributos diretos e indiretos, dependendo do regime e da cadeia produtiva. Isso reduz margens, encarece produtos e dificulta competir com países vizinhos.
Complexidade e insegurança jurídica
O chamado “custo Brasil” é fortalecido por:
• dezenas de tributos federais, estaduais e municipais;
• milhares de normas que mudam constantemente;
• alto custo com contabilidade e compliance;
• interpretações divergentes entre estados e entre tribunais.
A empresa não paga apenas impostos, ela paga para entender os impostos.
Efeito acumulativo na cadeia produtiva
O modelo tributário brasileiro penaliza cadeias longas, como a têxtil, fazendo com que várias etapas de produção gerem efeitos cascata, aumentando preços antes mesmo de o produto chegar ao consumidor.
O atrativo do Paraguai: impostos menores, regras claras e custos competitivos
O Paraguai vem se consolidando como destino de empresas brasileiras por três motivos principais:
Impostos drasticamente menores
O Impuesto a la Renta Empresarial (IRE) costuma ficar entre 8% e 10%, e a legislação das Zonas Francas e do regime “Maquila” reduz ainda mais o custo de operar.
Legislação trabalhista mais simples
O modelo paraguaio reduz encargos, facilita contratações e dá maior previsibilidade às empresas. A folha de pagamento no Brasil é uma das mais caras do mundo, com encargos que podem dobrar o custo do funcionário.
Energia barata e burocracia reduzida
O Paraguai possui uma das energias mais baratas das Américas e um ambiente regulatório mais simples e estável. Isso permite operar com custos muito inferiores aos do lado brasileiro da fronteira.
O que a fuga de empresas revela sobre a economia brasileira
O caso da Lupo e de tantas outras empresas que já migraram revela que o Brasil está perdendo capacidade de reter suas próprias indústrias.
Isso ocorre porque:
• produzir no Brasil é caro;
• o retorno do investimento é baixo;
• a burocracia é enorme;
• a insegurança jurídica gera riscos constantes;
• o sistema tributário penaliza quem produz.
Quando uma empresa avalia onde instalar uma fábrica, ela compara custos, riscos e previsibilidade. Hoje, em vários setores, o Paraguai oferece mais racionalidade econômica do que o Brasil.
Consequências para o país: emprego, arrecadação e competitividade
A saída de empresas traz impactos diretos:
Perda de empregos
Fábricas que deixam o Brasil levam consigo oportunidades de trabalho e renda.
Evasão de investimentos e baixa inovação
Indústrias que poderiam expandir produção no Brasil passam a expandir em outro país, com perda de arrecadação e menor atividade econômica local.
Enfraquecimento da indústria
Cada fábrica que cruza a fronteira representa uma redução da capacidade industrial brasileira, agravando a dependência de produtos importados.
O que o Brasil precisa fazer para reverter esse movimento
Para impedir que o fenômeno continue, três reformas são imprescindíveis:
Reforma tributária verdadeira
Não apenas reorganizar tributos, mas reduzir a carga, simplificar regras e aumentar previsibilidade.
Modernização trabalhista contínua
Flexibilizar vínculos, reduzir encargos e aumentar segurança jurídica para empregadores e empregados.
Desburocratização profunda
Criar um ambiente onde:
• abrir empresa seja simples;
• cumprir obrigações seja claro;
• litígios tributários sejam raros;
• regras não mudem todo ano.
Sem essas mudanças, o Brasil continuará empurrando empresas para fora e países vizinhos continuarão ganhando fábricas, empregos e competitividade às nossas custas.
Conclusão
A decisão de empresas como a Lupo de migrar para o Paraguai não é falta de patriotismo nem oportunismo: é o resultado racional de um sistema que pune quem produz e premia quem busca alternativas mais eficientes. Enquanto o Brasil insistir em manter um ambiente pesado, caro e incerto, outras empresas seguirão o mesmo caminho, prejudicando empregos, inovação e crescimento econômico no longo prazo.
O movimento é um alerta claro: não é que o Paraguai seja atrativo demais, é o Brasil que se tornou caro demais para produzir.
*Isaías Fonseca é associado do IFL-Belo Horizonte.



