O direito de criticar

Print Friendly, PDF & Email

James Baldwin é considerado um expoente da literatura americana. Novelista e ensaísta, segundo a resenha da  edição (03.08.24) da The Economist, sessão Culture,  dedicada ao seu centenário, poucos americanos viram o seu país mais claramente do que ele.

Nos ensaios, onde destacou-se como um dos melhores ficcionistas americanos, Baldwin , que era profundamente patriótico e resistente ao fanatismo, assumia: “Eu amo a América mais do que qualquer outro país do mundo e, exatamente por esse motivo, insisto no direito de criticá-la perpetuamente”.

A sua aversão ao fanatismo foi expressa em um pensamento que ganhou notoriedade. Disse ele: “Nem tudo o que pode ser enfrentado pode ser mudado; mas nada pode ser mudado se não for enfrentado”. Uma censura aos fanáticos que se recusam a criticar uma realidade.

O mundo conhece e a história registra ondas de fanatismos. Elas são notórias principalmente por  terem sido reconhecidas como ondas de fanatismos: as Cruzadas, a Santa Inquisição, a Revolução Comunista e tantas outras. O fanatismo alimenta-se das emoções. É da perda da racionalidade que nasce o fanatismo.

Oportuno levantar a existência de fanáticos quando estes estão  corrompendo a liberdade das ideias.  São os torcedores apaixonados que defendem os seus partidos com unhas e dentes no  campo dos esportes; na política e na religião. O fanático faz parte de uma turba movida à emoção.

Essa postura maniqueísta — o fanatismo — é de uma miopia condenável. O fanático não consegue, por ser psicologicamente insensível a opiniões outras que não a sua, olhar o outro lado da cerca com empatia. Ao fanático, irrita ser confrontado com a divergência, com as diferentes opiniões. Ele considera-se dono da verdade, mas, na verdade, é um ingênuo.

Justamente por amar a América é que Baldwin julgava-se no direito de criticá-la. Apontar os erros é uma forma de amar. Torcer por alguém que está na direção errada não contribui para o seu desempenho. O fanático quer adesão incondicional às suas posições. Opiniões contrárias são rechaçadas como torcida contra o objeto, não como crítica contra o caminho tomado.

Depois que os petistas dividiram o Brasil entre nós e eles, a nação separou-se em dois partidos. Os que criticam o governo e os outros. Estes não consideram críticas ao jeito petista de governar como discordância com o meio, mas como uma torcida cega contra o país – quando, na verdade, discutir outras maneiras de governar, sim, é amar o Brasil. Torcer para alguém que está no caminho errado é contribuir para o seu insucesso.

Parafraseando Baldwin: amo o Brasil mais do que qualquer outro país do mundo e, exatamente por esse motivo, insisto no direito de criticá-lo perpetuamente. Exatamente porque “nem tudo o que pode ser enfrentado pode ser mudado; mas nada pode ser mudado se não for enfrentado”.

Enfrentar a equivocada trajetória do Brasil em busca da civilidade,  criticando-o , é um direito de nós que o amamos.

Publicado originalmente no blog do autor

Faça uma doação para o Instituto Liberal. Realize um PIX com o valor que desejar. Você poderá copiar a chave PIX ou escanear o QR Code abaixo:

Copie a chave PIX do IL:

28.014.876/0001-06

Escaneie o QR Code abaixo:

Jorge Simeira Jacob

Jorge Simeira Jacob

Proprietário das lojas Arapuã, rede de lojas de tecidos originária de São Paulo. Diversificou os produtos comercializados em sua rede, iniciando com liquidificadores, e mais tarde voltou-se para o ramo de eletrodomésticos. Fez parte do Grupo Fenícia.

Pular para o conteúdo