Bom Dia Brasil transforma até queda de inflação em notícia ruim no governo Temer
Um misto de “keynesianismo de quermesse”, como diria Alexandre Schwartsman, com uma obsessão em atacar o governo Temer: eis a única explicação que consigo encontrar para a reportagem no “Bom Dia Brasil” de hoje sobre a queda da inflação. Antes, vamos aos fatos:
Ao cair para 4,08%, a inflação oficial medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) no acumulado em 12 meses atingiu o menor nível em dez anos em abril e voltou a ficar abaixo do centro da meta estabelecida pelo BC, de 4,5% no ano. O resultado não vinha tão baixo assim desde julho de 2007, quando ficou em 3,74%. Em abril do ano passado, a taxa estava em 9,28% no acumulado nos 12 meses imediatamente anteriores. Em relação a março, o índice desacelerou para 0,14%, o menor para o mês desde o início da série histórica em 1994. No ano passado, a taxa havia ficado em 0,61% nesse mesmo mês. Em 2017, o índice acumulado é de 1,10%.
Ou seja, o índice de preços caiu mesmo, para valer, o que não se via no governo do PT. Mas o que deveria ser uma boa notícia acabou se transformando em algo ruim, pela ótica de Chico Pinheiro e sua equipe. Em vez de entrevistarem algum economista sério, daqueles que acertaram a cagada que a gestão petista fez, preferiram perguntar a transeuntes desempregados, que “explicaram” o motivo da queda: ninguém mais está consumindo.
O jornal transmitiu, então, essa “informação” de maneira totalmente cúmplice, sem crítica, sem questionamento. Diria inclusive que a pauta foi escolhida antes, as pessoas que foram entrevistadas, depois. Havia certamente um viés que deveria ser “demonstrado” nas respostas. E o telespectador leigo sai acreditando que os preços caíram por conta da recessão.
Fica claro que inflação não tem ligação direta com aquecimento da economia, o que todo economista sério sabe. Milton Friedman, um desses, já dizia que inflação é sempre e em todo lugar um fenômeno monetário. Ou seja, o índice de preços depende muito mais da quantidade de moeda em circulação do que do consumo. Mas tem “economista” por aí que pensa que o rabo é que balança o cachorro, e não o contrário.
São os tais “keynesianos de quermesse”, que até hoje não entenderam o que causa inflação, e por isso são os maiores inflacionistas do planeta, ironicamente chamados pelo eufemismo “desenvolvimentistas”. Estiveram há pouco tempo no poder, com Lula e Dilma, e deu no que deu. A economia desabou e o índice de preços continuou elevado, bem acima da meta, por muito tempo.
Veio o governo de transição, Temer colocou gente mais séria e capaz no comando da economia, algumas reformas necessárias ameaçam sair do papel, o Banco Central tem mão mais firme e ancorou as expectativas, a emissão de moeda e crédito estatais foi reduzida, e aí está o resultado: queda no índice de preços, sempre uma boa notícia para a imensa maioria (alguns perdem, pois vivem da inflação).
A notícia deveria, portanto, ser festejada. Mas o “Bom Dia Brasil” do petista Chico Pinheiro consegue fazer isso, num governo Temer? E aí vem o casamento perfeito, entre o anti-Temer e o “keynesianismo de quermesse”, sempre doido para produzir inflação, como se isso fosse produzir crescimento econômico (aprendemos com a história que essa turma nunca aprende com a história).
É lamentável mesmo, pois induz o telespectador a acreditar que “um pouco mais de inflação” é algo positivo, que a inflação é um sintoma de uma atividade econômica saudável, em crescimento. Talvez por isso os países asiáticos tenham baixa inflação e alto crescimento, não é mesmo? Já a Venezuela “desenvolvimentista”…
PS: Gostaria de oferecer a Chico Pinheiro e sua equipe meu curso “Bases da Economia“, no qual explico em detalhes as origens da inflação e como ocorro o fenômeno. Poderão, assim, evitar passar vergonha perante economistas sérios ou assustar desnecessariamente seus telespectadores, que deveriam celebrar a notícia que virou motivo de tristeza.