A Republiqueta Democrática do Estado de Direito Vermelho, Verde e Amarelo

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Você já ouviu falar em Mobutu, aquele gênio da pilhagem institucionalizada na gloriosa República Democrática do Congo? Se não ouviu, não precisa nem pegar um avião para Kinshasa.

Para encontrar um governo Mobutu, agora em versão vermelho, verde e amarelo, com sotaque tropical e manual de cleptocracia atualizado, basta ligar a telinha.

Nós assistimos, lemos, ouvimos, e assistimos de novo, mesmo com essa mídia do Partido Oficial. Agora imagine se o Pix não pingasse. A mesma história reencenada, com brilho de circo decadente, na nossa Republiqueta Democrática e do Estado de Direito Vermelho, Verde e Amarelo. Mudam-se os nomes, os sobrenomes e as narrativas sentimentais, mas o enredo permanece o mesmo. O Estado como butim, o governo como quadrilha organizada e a honestidade reduzida a mera irrelevância.

Mobutu, dizem os estudiosos, confundia com maestria o erário com a carteira pessoal. Mas, convenhamos, ele era um aprendiz perto da engenharia moral que desenvolvemos por aqui.

Naquele Congo atormentado, ao menos havia uma distinção estética entre família, governo e crime. Já no Brasil do século XXI, tudo se mistura como uma feijoada institucional, onde empresários que confessaram distribuir propinas ao presidente viajam agora ao seu lado; parentes mergulhados em escândalos embarcam em comitivas oficiais; e ministros togados — sempre eles — aparecem sorridentes ao lado de advogados de bancos investigados, sobre os quais, ironicamente, decretaram sigilo absoluto.

É o caso do Banco Master, cuja trama, digna de novela barata, envolve ministros, advogados especializados em milagre judicial, pilotos e aeronaves emprestados do universo folclórico de Beto Loco e aquele odor inconfundível de dinheiro público tratado como renda familiar ampliada. Denunciado pelo senador Alessandro Vieira, o uso do avião do tal Beto Loco seria apenas cômico, não fosse trágico. Aqui, até o piloto vira personagem do nosso teatro da corrupção.

Transformamos o crime político em um espetáculo grotesco, o nosso autêntico teatro da corrupção tupiniquim, onde a plateia, perdida entre a incredulidade e a fadiga moral, continua rindo para não chorar copiosamente. Este país não perde a oportunidade de perder a oportunidade de ser o campeão do surrealismo. De acordo com a imprensa, a maior investigação da história do PCC prescreveu, e o “amigo do meu amigo” Marcola foi absolvido!

Voltando ao patrimonialismo criminoso, o mais tenebroso, é que parte do próprio povo se projeta nesse teatro, desejando ocupar o lugar do “pai dos pobres”, dos seus e da sua trupe de “acéclas”. Pois é, como se a tragédia fosse um ideal de ascensão moral.

Sim, o Congo teve Mobutu. E daí? Nós temos algo ainda mais ousado. Um Mobutu tropical, pluripartidário, sentimental e judicialmente blindado. Por aqui, convenhamos, nem o arsenal naval americano — aquele mesmo, estacionado de olho na Venezuela — seria capaz de “desblindar” a blindagem da nossa suprema pequena corte. É nesse ponto que a ironia desce e a realidade sobe ao palco.

O que vivemos hoje não é apenas corrupção, é a banalização estruturada da corrupção. O patrimonialismo se transformou em método do desgoverno, a cleptocracia virou paisagem, e a imoralidade pública transformou-se, mais uma vez, em rotina de governo lulopetista. O Brasil, que já carregava a fama internacional das maracutaias petistas dos governos anteriores, conseguiu superar o próprio passado. Horripilante.

Não há adjetivo que acompanhe o ritmo da degradação. Se Mobutu virou símbolo mundial da rapinagem estatal, nós conseguimos a proeza de ir além. Criamos um modelo sofisticado, sentimentaloide, com verniz democrático e blindagem judicial integral. Uma obra-prima do extrativismo político moderno.

Lamentável não é apenas constatar o descalabro. É perceber que muitos já não se chocam. Quando a moral se acostuma ao abismo, o abismo vira casa. Esse é o verdadeiro legado da nossa Republiqueta Vermelho, Verde e Amarelo. Que país é esse, minha gente?!

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Alex Pipkin

Alex Pipkin

Doutor em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS. Mestre em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS Pós-graduado em Comércio Internacional pela FGV/RJ; em Marketing pela ESPM/SP; e em Gestão Empresarial pela PUC/RS. Bacharel em Comércio Exterior e Adm. de Empresas pela Unisinos/RS. Professor em nível de Graduação e Pós-Graduação em diversas universidades. Foi Gerente de Supply Chain da Dana para América do Sul. Foi Diretor de Supply Chain do Grupo Vipal. Conselheiro do Concex, Conselho de Comércio Exterior da FIERGS. Foi Vice-Presidente da FEDERASUL/RS. É sócio da AP Consultores Associados e atua como consultor de empresas. Autor de livros e artigos na área de gestão e negócios.

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