A Armadilha de Tucídides

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No clássico A Guerra do Peloponeso, o historiador Tucídides identificou um padrão que atravessa os séculos: quando uma potência emergente ameaça substituir a dominante, o risco de guerra se torna quase inevitável. Essa “Armadilha de Tucídides” é o ponto de partida de A Caminho da Guerra, de Graham Allison, professor de Harvard e referência em política internacional.

O autor examina 16 episódios semelhantes nos últimos 500 anos. Em 12 deles, a disputa resultou em guerra; apenas em 4 houve soluções pacíficas. A pergunta que orienta o livro é direta: Estados Unidos e China estão destinados ao mesmo desfecho?

Allison responde com cautela. O perigo é real e crescente, mas não inevitável. O livro demonstra como choques entre potências costumam ser alimentados por dois gatilhos psicológicos: hubris (orgulho excessivo) e paranoia (medo irracional). Ambos estão presentes no cenário atual: a China se vê em ascensão firme, enquanto os EUA, acostumados desde 1945 à hegemonia global, reagem com ansiedade e desconfiança.

Os números impressionam. Em 1980, a China representava apenas 2% da economia mundial; hoje, já soma 18% e pode alcançar 30% até 2040. Para os EUA, essa mudança “sísmica” equivale a uma ameaça existencial. Trump respondeu com tarifas e retórica belicosa, inaugurando uma guerra comercial que deixou evidente a rota de colisão.

Mas o livro também lembra que há precedentes de acomodação. Portugal e Espanha recorreram ao Tratado de Tordesilhas para evitar conflito; EUA e Grã-Bretanha ajustaram pacificamente sua relação no século XIX; e americanos e soviéticos administraram a Guerra Fria sem confronto direto. Esses exemplos mostram que é possível adaptar-se a uma nova balança de poder sem recorrer às armas.

Um dos pontos mais interessantes da obra é a comparação cultural entre os adversários. Os americanos, escreve Allison, jogam xadrez, calculando poucos lances à frente. Os chineses jogam Go, pensando em movimentos graduais e de longo prazo. Essa diferença estratégica explica tanto a paciência de Pequim quanto a impaciência de Washington.

À Caminho da Guerra não é apenas uma análise histórica, mas um alerta. Se a competição entre as duas maiores potências se limitar ao campo econômico e tecnológico, o mundo pode ganhar. Se descambar para o militar, o resultado será destrutivo para todos.

Com clareza, erudição e equilíbrio, Allison oferece ao leitor uma reflexão essencial sobre o maior desafio geopolítico do nosso tempo. Uma leitura indispensável para quem quer compreender não só a história, mas também o futuro que se desenha.

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Jorge Simeira Jacob

Jorge Simeira Jacob

Proprietário das lojas Arapuã, rede de lojas de tecidos originária de São Paulo. Diversificou os produtos comercializados em sua rede, iniciando com liquidificadores, e mais tarde voltou-se para o ramo de eletrodomésticos. Fez parte do Grupo Fenícia.

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