O preço das escolhas
Sempre que uma operação policial de grande repercussão — e letalidade — ocorre no Brasil, ressurge uma narrativa conhecida: a de que os criminosos mortos são “vítimas da sociedade”. Essa leitura, travestida de sociologia, explica o crime como produto da pobreza ou da desigualdade — e não como resultado de escolhas conscientes. Assim, o indivíduo deixa de ser agente moral e passa a ser tratado como marionete das circunstâncias.
Mas uma sociedade livre se sustenta na responsabilidade individual. A liberdade não é apenas o direito de agir, mas o dever de responder por essas ações. John Stuart Mill já ensinava que a liberdade só existe quando o indivíduo aceita pagar o preço de suas escolhas. Negar isso é infantilizar o cidadão e corroer o próprio alicerce da civilização liberal.
O homem não é refém do meio. Como lembrou Ortega y Gasset, “eu sou eu e minha circunstância” — mas a circunstância é o cenário, não o destino. Mesmo em condições adversas, permanece a possibilidade — e o dever — de agir segundo valores. O homem íntegro não se refugia nas desculpas: transforma a realidade por meio das escolhas que faz.
Quando o Estado troca a justiça pela compreensão, nasce a cultura da tutela. O criminoso passa a ser visto como vítima, e a verdadeira vítima como dano colateral do “contexto social”. Essa inversão moral, movida por falsa compaixão, destrói o senso de justiça e ensina aos jovens que ninguém é responsável por nada.
Como advertiu Hayek, “a liberdade não apenas significa que o indivíduo tem a oportunidade e o fardo da escolha; ela também significa que deve arcar com as consequências de seus atos. Liberdade e responsabilidade são inseparáveis”. Sem essa noção, triunfa o coletivismo moral — o nivelamento por baixo, onde todos são desculpados e ninguém responde pelos próprios atos.
Tratar o criminoso como “fruto da exclusão” é ofender milhões de brasileiros que enfrentam pobreza sem jamais recorrer à violência. A diferença entre eles e os delinquentes está nas escolhas, não nas condições. Ao exaltar o contexto do agressor e ignorar o sofrimento das vítimas, a sociedade inverte sua bússola moral.
Defender a responsabilidade não é negar o papel das políticas públicas. É reconhecer que o Estado pode criar oportunidades, mas só o indivíduo decide o que fazer com elas. Compaixão verdadeira não absolve: acredita na capacidade de cada pessoa de escolher melhor.
Negar a responsabilidade pessoal é negar a liberdade — e, portanto, a própria humanidade. A civilização existe porque homens e mulheres decidiram ser responsáveis. A liberdade é o mais nobre dos dons, mas também o mais exigente, e, como toda conquista humana, tem um preço: o preço das próprias escolhas.
*Djonathan Chiarel é advogado, colaborador do Instituto Atlantos e Analista de Políticas Públicas da Fecomércio-RS.



