A sociedade do ressentimento
Tenho realmente refletido e me debruçado sobre o nosso tempo — a sociedade do ressentimento. Vivemos uma época em que a sinalização de virtude e o sentimento de culpa pelas injustiças do passado se tornaram o novo alicerce moral das sociedades ocidentais. Não há como reinventar o mundo: ele é como é. Negar sua natureza é adotar uma espécie de niilismo, uma negação do real que começa na infância e molda a mente daqueles que deveriam crescer capazes e confiantes.
Esse niilismo precoce domina a juventude, aprisionando-a em fantasmas da opressão e da injustiça, limitando-a a uma vida mais triste e medíocre. A sensação de que nada é superior a nada degenera em conformismo e ressentimento, direcionados por ideologias manipuladoras, criando uma incapacidade profunda de valorizar o que é realmente útil, belo e virtuoso. O resultado é um ciclo em que o talento e a criatividade se encontram cerceados, a curiosidade é punida e a coragem intelectual é substituída pelo medo de pensar diferente.
Hoje, tudo que se esforça por ser útil, belo ou virtuoso encontra resistência, desacordo ou desdém — tanto porque desafia a lógica da mediocridade e da culpa, quanto porque é percebido como elitista. Glorifica-se a miséria e enaltecem-se vícios, especialmente os da pobreza, enquanto se ignoram os valores virtuosos do mérito e do sucesso. Esse é o roteiro perfeito para populistas que querem manipular, manobrar e sufocar o pensamento crítico, transformando ressentimento e frustração em instrumentos de poder.
A educação segue o mesmo caminho: sob o nobre pretexto de inclusão, rebaixa o que deveria elevar, destrói a régua que separa o útil, o belo e o virtuoso do medíocre e celebra o que é fraco ou vulgar. A arte, muitas vezes nem arte sendo, é valorizada por sua origem e não por seu mérito. O que é digno é ignorado; o grotesco é elevado a símbolo. Sob esse verniz de justiça e nobreza, a mediocridade se transforma em padrão, e a excelência é percebida como ameaça.
Fui professor universitário por mais de trinta anos. Vi jovens capazes de feitos extraordinários quando encorajados a transcender seus preconceitos, pensamentos e comportamentos atuais. Quando estimulados a pensar criticamente e a transcender os fantasmas da opressão e da injustiça, alcançam realizações que jamais imaginaram possíveis. A juventude não é o problema; o problema está na mediocridade de quem a conduz e na ideologia que a paralisa.
É admirável como a ignorância se tornou instrumento de governo — e ainda aplaudida por multidões. Esse projeto de poder sustenta-se na exaltação da mediocridade, no triunfo do ressentimento apresentado como virtude, no niilismo transformado em programa de governo.
Em nome da justiça, sacrificamos a excelência. Em nome da inclusão, celebramos o grotesco. T. S. Eliot tinha razão: “Fazer o útil, dizer o corajoso, contemplar o belo — isso basta para a vida de um homem.”
É hora de reverter essa lógica e valorizar o que realmente importa. Será que somos capazes de fazê-lo? Em quanto tempo? Quantas gerações ainda serão condenadas a aplaudir o grotesco enquanto a excelência espera esquecida? Talvez o tempo, paciente e indiferente à ação humana — por vezes racionalmente equivocada —, seja apenas uma testemunha silenciosa da nossa sociedade do ressentimento.