Alinsky e as Regras para Radicais: como o blefe de Collor nocauteou Lula em 1989

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O cenário era amplamente favorável a Fernando Collor de Mello (PRB) nas últimas semanas do segundo turno da eleição presidencial de 1989. Do lado oposto, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tinha no último debate sua única alternativa para virar o jogo, mas teria que nocautear o rival.

Collor, que tinha como principal assessor de campanha Sebastião Nery, fez vazar que faria durante o debate uma grave denúncia contra Lula. A acusação seria de que o petista teria “comprado um aparelho de som para uma amante em Brasília”.

No dia do debate na Globo, Collor apareceu com uma pilha de supostos documentos contra Lula, que ficaram posicionados e exibidos estrategicamente em seu púlpito do debate. Envolvidos de ambos os lados nas campanhas da época reconhecem que a estratégia de Collor desestabilizou Lula.No entanto, era tudo mentira. Puro blefe! Collor não tinha nada contra Lula. As pastas de “documentos” estavam vazias.

No debate mais importante do segundo turno, aquele em que Lula tinha a obrigação de vencer por nocaute, o morador da Casa da Dinda neutralizou o adversário com um saco cheio de vento.
Poucas vezes na política brasileira a primeira regra de Saul Alinsky foi tão claramente colocada em prática. Isso mesmo! “Poder não é apenas o que você tem, mas o que o inimigo pensa que você tem” é a primeira das 13 regras de Rules for radicals (1971).

Aliás, na prática, Collor usou também a 9ª regra alinskyana: “A ameaça geralmente é mais aterrorizante do que a coisa em si”. Outrossim, poderíamos tentar entender a complexidade da sinuca de bico em que o petista se encontrava com uma frase atribuída a Epicleto, que diz assim: “O homem não é tanto preocupado com os problemas reais quanto com as ansiedades imaginadas sobre os problemas reais.” Todavia, o traga-mouros Lula foi tirado do eixo por uma ameaça fake, não por uma ameaça de algo real.

Quem viu o debate percebeu um Lula inócuo, sem o tradicional tom jocoso e repleto de malabarismos retóricos. Foi engolido psicologicamente por Collor, que “entrou na sua mente”.

Os arquitetos da campanha de Collor em 1989 leram Alinsky? É possível.

Alinsky nasceu em 30 de janeiro de 1909 em Illinois. Formou-se em Filosofia na Universidade de Chicago. Suas ideias moldaram o pensamento de democratas como Barack Obama e Hillary Clinton, que chegou a publicar uma tese sobre Alinsky em 1969. Obama, por sua vez, sempre usou o pensamento alinskyano como escada na política.

Se as ideias de Maquiavel em O Príncipe têm como objetivo a perpetuação no poder, Alinsky ajuda aquele que não tem poder algum a alcançá-lo.

As 13 regras são:

    1. “Poder não é apenas o que você tem, mas o que o inimigo pensa que você tem.”
    2. “Nunca vá além da competência do seu pessoal.”
    3. “Sempre que possível, vá além da área de atuação do inimigo.”
    4. “Faça o inimigo viver de acordo com seu próprio livro de regras.”
    5. “O ridículo é a arma mais poderosa do homem.”
    6. “Uma boa tática é aquela de que seu pessoal gosta.”
    7. “Uma tática que se arrasta por muito tempo se torna um empecilho.”
    8. “Mantenha a pressão. Nunca desista.”
    9. “A ameaça geralmente é mais aterrorizante do que a coisa em si.”
    10. “A principal premissa da tática é o desenvolvimento de operações que mantenham uma pressão constante sobre a oposição.”
    11. “Se você pressionar um negativo com força e profundidade suficiente, ele penetrará em seu lado oposto.”
    12. “O preço de um ataque bem-sucedido é uma alternativa construtiva.”
    13. “Escolha o alvo, congele-o, personalize-o e polarize-o.”

Nos próximos textos, vamos desdobrar juntos a sistematização das regras de Alinsky e buscar exemplos práticos de sua aplicação para compreendermos como a manipulação foi, é e seguirá sendo a maior arma política.

Voltando a Collor…, a série da Globo Play “Caçador de Marajás” merece ser vista com atenção. São sete episódios que mostram a ascensão e a queda de Collor no impeachment de 1992 em um mergulho no Brasil terceiro-mundista de 1980 e 1990.

Bibliografia

Alinsky, Saul David, 1909-1972. Rules for radicals: a practical primer for realistic radicals/Saul D. Alinsky. — Vintage Books ed. p. cm. Reprint. Originally published: New York: Random

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Ianker Zimmer

Ianker Zimmer

Jornalista e escritor. Autor de três livros.

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