Odete Roitman não é uma mulher racional – saiba o porquê
Uma das principais características das novelas da Rede Globo é a criação de personagens que são divididos como o vilão e o herói da narrativa. O remake da novela Vale Tudo não podia ser diferente. A novela tem como objetivo ser um retrato crítico do Brasil, em que são levantados assuntos como a corrupção, o “jeitinho brasileiro” e as questões morais envolvendo a população como um todo, sendo o dualismo entre a corrupção e a honestidade o cerne central da trama, com Débora Bloch interpretando a vilã aristocrata narcisista Odete Roitman e Taís Araújo a heroína Raquel Accioli.
Odete Roitman é uma bilionária herdeira da TCA, uma empresa de aviação executiva que pertencia ao seu ex-marido. Ela tem três filhos, sendo Afonso o progressista, Helena uma alcoólatra que carrega o fardo dos problemas de sua mãe e Leonardo, seu ex-filho preferido que foi deserdado após um acidente. Mesmo com sua alta fortuna e status, Odete não mede esforços para manter o seu padrão de vida. Utilizando-se de métodos questionáveis, quando não narcisistas ou até mesmo irracionais para evitar que os demais alcancem seu status.
Em sua rotina, Odete critica constantemente o Brasil e o modo de vida dos brasileiros, comparando-o frequentemente com a França e Paris como sendo exemplos de civilidade. Entretanto, ela mesma se beneficia da desordem social, da corrupção e do parasitismo aos demais para se beneficiar e beneficiar a TCA. Logo, mesmo que ela diga aos outros que aprendeu a jogar o jogo no Brasil, ela precisa que o cenário pegue fogo para aumentar ainda mais as chamas.
Em contrapartida, Raquel Accioli, a heroína da história, tem a sua casa vendida pela sua filha, Maria de Fátima, que foge para o Rio de Janeiro e deixa sua mãe sem moradia e sem recursos financeiros. Na tentativa de ir atrás de sua filha, Raquel decide sair de Foz do Iguaçu e ir ao Rio de Janeiro, mesmo que, para isso, ela precise vender sanduíches na praia. Ao conquistar clientes pelo seu mérito e por contatos, Raquel consegue construir um restaurante e expandir os seus negócios de forma ética e racional a ponto de chegar na esfera de influência de Odete. Ademais, a racionalidade e o sucesso de Raquel são vistos como uma ameaça aos negócios de Odete, pois, ao adquirir a Snack Fly, que estava à beira da falência, com a ajuda de Celina, irmã de Odete, Raquel passa a ser uma rival declarada de Odete.
Mesmo que a ascensão de Raquel seja racional e ética, alguns ainda optam pela irracionalidade e o egoísmo irracional. É o caso de sua filha, Maria de Fátima. Ao vender a casa de sua mãe sem autorização, fugir para o Rio de Janeiro, aproximar-se de Odete Roitman e se interessar por Afonso apenas pelo dinheiro, Maria de Fátima mostra, de forma maquiavélica, que os fins justificam os meios quando se trata de ascensão social e que a honestidade é apenas um vazio.
Entretanto, ao conquistar o status, Maria de Fátima começa a agir conforme seus interesses, atuando como influencer nas redes sociais, o que atrai milhares de seguidores e até mesmo uma certa quantia em dinheiro. Mas essa ação leva Odete à fúria e reafirma que seu casamento com Afonso já é o suficiente para que ela não precise de outros métodos para enriquecer.
Mesmo que implícito ao telespectador, o dualismo entre Odete Roitman e Raquel Accioli na novela Vale Tudo pode ser facilmente interpretado sob a perspectiva da filosofia objetivista de Ayn Rand, pois, segundo a filosofia objetivista, todo ser humano deve ter como fim em si a busca de seus próprios interesses de forma racional, a busca da felicidade e da razão diante da realidade
como ela é. Para o Objetivismo, um indivíduo racional conquista a riqueza através de seus méritos e talentos por conta própria em vez da herança, saque e parasitismo dos demais.
A novela Vale Tudo, indiretamente, mostra Odete como sendo irracional, pois não teve mérito em suas ações, age de má fé e precisa do parasitismo para que possa continuar enriquecendo, mesmo exibindo esperteza em suas maldades, diferentemente de Raquel que, mesmo diante das adversidades, conseguiu gerar riqueza por métodos racionais e honestos. Ao final, Odete Roitman odiaria a filosofia objetivista, porque o próprio Objetivismo colocaria em xeque os métodos e o modo de vida pelos quais um indivíduo pode ascender na vida de forma ética, racional e sem se aproveitar dos outros com comportamento parasita. Odete é rica, não porque ela tem mérito em suas ações baseadas em um egoísmo racional, mas porque ela precisa que os outros vivam para ela e sejam parasitados por ela a todo custo. Para terminar: “Vale tudo” para subir na vida, mesmo que seja às custas dos demais?
*Guilherme S. Esparza é coordenador do Instituto Atlantos e do Students for Liberty Brasil.