Itamaraty: chancelaria em miniatura

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A etimologia da palavra Itamaraty remete ao tupi: “rio das pedras pequenas”. Nos dias atuais, contudo, não são as pedras que se apequenaram. O que encolheu foi a própria instituição, que, antes sinônimo de altivez e sofisticação, hoje se arrasta como chancelaria menor, comprometendo o relacionamento do Brasil com a comunidade internacional no longo prazo.

O Itamaraty abandonou alianças históricas com democracias e parceiros culturais próximos para cortejar regimes proto-autoritários ou ditatoriais — China, Venezuela, Irã. O resultado? Uma queda brutal na credibilidade e a renúncia a qualquer protagonismo sério no cenário global.

Nossa diplomacia apequena-se ainda mais ao apoiar nações belicistas como a Rússia em sua agressão à Ucrânia, ao defender terroristas como Hamas e Hezbollah e ao acusar Israel de genocídio em uma guerra que só existe porque Israel foi atacado primeiro e de forma vil, com assassinatos, sequestros e torturas.

O nanismo diplomático também se expressa no asilo oferecido à ex-primeira-dama do Peru Nadine Heredia e na defesa explícita da ex-presidente argentina, Cristina Kirchner, condenada por corrupção. Para o Itamaraty, a soberania virou princípio de conveniência.

A cena beira a farsa quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chama o líder da maior potência mundial de “nazista” e, há poucos dias, a delegação brasileira abandona o plenário da Organização das Nações Unidas (ONU) durante o discurso de Benjamin Netanyahu. É a política externa transformada em birra ideológica.

Um espectador sem brilho no comando do Itamaraty

Em todos esses episódios, o ministro Mauro Vieira, diplomata de carreira, porta-se como um espectador sem brilho. Ex-embaixador nos Estados Unidos, na Argentina e na ONU, deveria ser capaz de construir pontes. Em vez disso, quando age, é como um burocrata incompetente, ao ser superado por um deputado federal e uns poucos jornalistas exilados, que tiveram mais influência no governo Trump do que todo o corpo diplomático brasileiro.

“O nanismo diplomático de Lula é contagioso, pois contaminou até um diplomata tarimbado” (André Burger)

O episódio dos asilados na Embaixada da Argentina em Caracas — resgatados por forças dos EUA sob o nariz do Brasil — foi a consagração da incompetência. Um vexame que confirma o diagnóstico de que o nanismo diplomático de Lula é contagioso, pois contaminou até um diplomata tarimbado.

O que já foi uma instituição admirada, capaz de produzir intelectuais como Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto, Raul Bopp e Vinícius de Moraes, hoje parece reduzido a repartição de funcionários interessados em contracheques gordos e no acúmulo de regalias, exatamente como descreve Javier Milei ao falar da “casta”.

É verdade que o desastre não começou agora. O fundamentalismo ideológico de Ernesto Araújo, no governo Bolsonaro, e a militância partidária de Celso Amorim, desde o primeiro governo Lula, já vinham erodindo a credibilidade do Itamaraty. Entretanto, o governo atual conseguiu dar sequência e escala à degradação.

Motivo de vergonha

O resultado é simples e triste: a diplomacia brasileira, que já foi referência, tornou-se motivo de vergonha. Vergonha para os cidadãos, vergonha para a história — e certamente uma bofetada na memória do Barão do Rio Branco, patrono da nossa política externa.

Se resta algum consolo, talvez seja este: apesar de sua incompetência crônica como chancelaria, o Itamaraty já prestou serviço inestimável à cultura nacional. Foi dele que saíram alguns de nossos maiores literatos e poetas. No fim das contas, é possível que o Itamaraty tenha sido mais relevante para a literatura brasileira do que para a diplomacia.

Sobre o autor: André Burger. Economista e conselheiro do Instituto Liberal. Artigo publicado originalmente na Revista Oeste.

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