A economia da atenção como ameaça silenciosa à liberdade individual
A liberdade individual, valor central do pensamento liberal, enfrenta hoje uma ameaça invisível: a economia da atenção. Plataformas digitais transformaram o foco humano em mercadoria, usando estímulos dopaminérgicos para capturar escolhas sem consentimento consciente. O resultado é uma erosão da autonomia, com cidadãos cada vez mais guiados por algoritmos em vez de pela razão.
Anna Lembke, em Nação Dopamina, alerta que estímulos contínuos moldam cérebros vulneráveis, substituindo propósito por compulsão. Pesquisas em neurociência publicadas na Nature Reviews Neuroscience e na Nature Human Behaviour confirmam que estímulos digitais de alta recompensa, como: likes, notificações, vídeos curtos, hiperativam os circuitos dopaminérgicos e reduzem a capacidade do córtex pré-frontal de sustentar o pensamento crítico e inibir impulsos. Em termos práticos, indivíduos expostos a esse ambiente tornam-se mais suscetíveis à manipulação e menos aptos a deliberar de forma autônoma.
A preocupação é global. Pesquisas do MIT Media Lab apontam que a economia da atenção está migrando para uma “economia da intenção”, na qual algoritmos não apenas disputam o foco humano, mas moldam preferências e decisões. O Fórum Econômico Mundial, em seu Global Risks Report, já classifica a autodeterminação digital como uma das maiores ameaças contemporâneas à liberdade.
No Brasil, levantamentos de 2025 mostram que adultos passam em média 3,5 horas diárias em aplicativos de entretenimento e redes sociais, tempo superior ao dedicado a atividades de educação ou leitura. Esse desvio cognitivo tem impactos diretos sobre produtividade, engajamento cívico e saúde mental. A Organização Mundial da Saúde, em relatório publicado no início de 2025, alertou para o crescimento expressivo de quadros de ansiedade e déficit de atenção associados ao uso abusivo de tecnologias digitais.
A previsibilidade institucional, a responsabilidade individual e o respeito à liberdade de escolha são a base para que a economia de mercado floresça. Em um cenário digital, cabe a cada indivíduo cultivar disciplina atencional e consciência crítica, reconhecendo que sua autonomia depende da forma como gerencia o próprio foco. Dessa forma, a liberdade só se sustenta quando acompanhada da responsabilidade de não terceirizar decisões aos algoritmos.
A economia da atenção ameaça transformar cidadãos livres em consumidores cativos. O risco não está apenas em perder tempo diante de uma tela, mas em perder a capacidade de escolher com independência. Quando a atenção se torna um ativo explorado por plataformas e marcas, o indivíduo passa a reagir mais do que decidir. Essa inversão reduz a capacidade de planejamento, enfraquece o senso de prioridade e compromete a produtividade intelectual. A consequência é uma sociedade mais imediatista, menos reflexiva e, portanto, menos preparada para sustentar decisões autônomas e de longo prazo. Proteger a atenção é proteger a liberdade e o próprio Estado de Direito. É dessa responsabilidade individual que nasce a confiança, e é da confiança que brota a prosperidade.
*Rayane Borges é associada do Instituto Líderes do Amanhã.