O socialismo como inimigo da inovação

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A inovação é fruto de liberdade, risco e escolha individual. Onde o Estado concentra demais o poder econômico, decide sobre investimento, produção e recompensa, as condições para que um inventor, um empreendedor ou um pequeno negócio introduza algo novo ficam drasticamente reduzidas. O socialismo, ao colocar no centro a autoridade estatal para determinar o que deve ser produzido, a que preço e para quem, remove o estímulo essencial: a possibilidade de se ganhar com a novidade. O capitalismo premiou quem resolve problemas, quem identifica lacunas, quem ousa falhar e tentar de novo. Já o socialismo, ao nivelar, ao planejar rigidamente ou ao desincentivar a recompensa privada, revela-se um freio à criatividade humana.

A base teórica dessa crítica tem raízes profundas. Ludwig von Mises, em O Socialismo (1922), demonstrou que, sem preços livres formados pelo mercado, não há possibilidade de cálculo econômico racional; sem esse cálculo, não há orientação para alocação eficiente de recursos, e, consequentemente, a inovação torna-se especulativa ou inútil. Friedrich Hayek estendeu essa crítica ao destacar que o mercado funciona como sistema de coordenação de conhecimento disperso: não é possível para um planejador central jamais deter todo o conhecimento relevante para decidir com sabedoria onde investir em novos produtos ou tecnologias, porque esse conhecimento está espalhado entre milhões de agentes individuais. Joseph Schumpeter introduziu o conceito de destruição criativa: inovação constante exige que velhas indústrias e modelos sejam superados por novos, algo impossível sob regimes que buscam preservar estática institucional ou econômica. A base fornecida por esses autores identifica no socialismo um inimigo não apenas econômico, mas epistemológico da inovação.

Os casos históricos reforçam a teoria com evidência prática. Na União Soviética, grandes feitos tecnológicos ocorreram: satélites, programas espaciais, avanços militares. Mas faltou inovação nos bens de consumo, na qualidade, na variedade, no serviço, e faltou também no incentivo para o indivíduo lançar algo novo que pudesse variar conforme as preferências dos consumidores. A Alemanha Oriental, apesar de partilhar idioma, cultura e know-how próximo da Alemanha Ocidental, ficou atrás no padrão de vida e no número de inovações patenteadas, justamente porque empresas não privadas e mercados controlados repunham pouco os custos do risco. Cuba e Venezuela ilustram ainda hoje regimes em que o Estado assume muitos papéis, mas os resultados inovativos são escassos, com dependência de importações ou de tecnologia externa. Em contraste, democracias de mercado, mesmo modestas, têm produzido inovações constantemente: startups surgindo, patentes registradas, investimento privado em pesquisa aumentado. Países que abriram suas economias após regimes socialistas, como a China após as reformas de Deng Xiaoping, cresceram muito em inovação, pois liberaram partes do mercado, permitiram propriedade privada e recompensaram investimento em tecnologia.

As estatísticas confirmam essa diferença. Em 2023, foram registrados aproximadamente 3,6 milhões de pedidos de patentes no mundo, um crescimento de 2,7% em relação ao ano anterior. Os países que mais aparecem no topo do Índice Global de Inovação (Suíça, Estados Unidos, Singapura, Coreia do Sul) são justamente aqueles com maior liberdade econômica, forte proteção da propriedade intelectual e ecossistema privado de P&D. Já economias centralizadas apresentam baixa performance inovativa. O Brasil, por exemplo, em 2024, ocupava a 58ª posição em insumos de inovação e a 49ª em resultados de inovação, evidenciando dificuldades em transformar insumos em produtos e serviços competitivos. No setor agroindustrial, até março de 2025, haviam sido publicados 89.925 pedidos de patentes relacionadas ao agronegócio no mundo, dos quais apenas 20.111 tinham origem em inventores brasileiros, algo em torno de 0,5% do total global, ilustrando a defasagem de países ainda presos a barreiras institucionais. Estudos também mostram que liberdade acadêmica e de pesquisa tem forte correlação com inovação: um aumento de uma unidade padrão em liberdade acadêmica está associado a 41% mais pedidos de patentes e 29% mais citações dessas patentes.

A personalização de produtos é um exemplo moderno de como a inovação depende de liberdade e de mercado fragmentado. Quando consumidores têm gostos heterogêneos, desejam versões ligeiramente diferentes de um produto, variações de design, funcionalidades extras ou serviços adicionais, os sistemas inovativos respondem melhor em ambientes em que empresas menores e ágeis podem experimentar. Sob regimes de controle centralizado, a produção é padronizada, as variantes são poucas, os ciclos de resposta ao consumidor são longos. Já em mercados livres com inovação, vemos personalização intensa: marcas que permitem customizar itens (roupas, calçados, mobiliário, software), empresas que oferecem produtos sob demanda, startups que exploram nichos muito específicos. Essa capacidade de ajuste fino às preferências do consumidor estimula inovação incremental e radical, pois cada variação se torna uma oportunidade de experimentar novos materiais, novas interfaces, novas cadeias de produção. O socialismo, ao homogeneizar produção e priorizar eficiência massiva, tende a suprimir esse tipo de inovação fina, que muitas vezes é fonte de valor agregado e satisfação do consumidor.

A inovação exige risco, competição, diversidade de pensamento, tolerância ao fracasso e propriedade privada protegida. O socialismo ataca todos esses pilares. Sem propriedade privada, não há segurança para investir. Sem competição, não há pressão para melhorar. Sem diversidade, as ideias se estagnam. Sem liberdade para falhar, não há teste de hipóteses nem aprendizado. Quando o Estado assume o papel de inovador central, ele normalmente prefere estabilidade ao risco, planejamento ao experimento, conformismo ao desvio criativo. Resultado: atraso tecnológico, escassez de diversidade de produto, mercado pouco responsivo às mudanças de gosto ou necessidade.

A escolha que uma sociedade enfrenta é clara. Pode optar por modelos em que o empreendedor é estimulado, o risco recompensado, o consumidor atendido em suas preferências diversas, ou pode aceitar que a inovação seja vista como possibilidade secundária, sujeita ao arbítrio burocrático. O socialismo, ao colocá-la em segundo plano, age como inimigo direto da inovação. Uma sociedade que deseja progresso real deve defender liberdade de empreender, segurança jurídica, propriedade intelectual forte, mercados competitivos e tolerância ao fracasso.

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João Loyola

João Loyola

Formado em administração pela PUC Minas e em Gestão de Seguros pela ENS, Pós-Graduado em Gestão Estratégia de Seguros pela ENS, é sócio sucessor da Atualiza Seguros, trabalha no programa Minas Livre para Crescer na Secretaria de Desenvolvimento Econômico de MG e é associado do IFL-BH.

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