Entre a modernização e o emprego: qual o papel do Estado?
Nos últimos anos, especialmente a partir de 2023, o governo do estado do Espírito Santo e as empresas de transporte coletivo que operam na Região Metropolitana da Grande Vitória (Sistema Transcol) vêm promovendo a gradual extinção da função de cobrador de ônibus com base na digitalização da bilhetagem e no estímulo ao uso de cartões e aplicativos de pagamento. Essa transformação tem gerado reações por parte dos trabalhadores, com greves e manifestações contra o que consideram demissões em massa e impactos sociais negativos. Contudo, esse cenário é apenas um exemplo da revolução tecnológica existente no mundo. Diante disso, surge uma pergunta essencial: até onde o Estado deve se preocupar e atuar?
A extinção da função de cobrador faz parte de um processo natural de modernização. A digitalização dos serviços públicos é uma tendência global, que busca tornar o sistema mais ágil, seguro e econômico. Ignorar essa realidade seria manter um modelo ultrapassado, financeiramente ineficiente e que limita avanços em áreas críticas, como qualidade da frota e pontualidade.
O diferencial, nesse caso, está na forma como o Espírito Santo vem conduzindo a transição. Ao contrário de decisões abruptas tomadas em outros estados, aqui há tentativas de negociação, com propostas de requalificação profissional, realocação de trabalhadores e indenizações complementares para os desligados. Essas ações, mesmo que não resolvam todos os desafios, demonstram um esforço legítimo para mitigar os impactos sociais da mudança.
É evidente que a função de cobrador, essencial por muitos anos, agora precisa ceder espaço a modelos automatizados. Isso, no entanto, não significa desprezar os trabalhadores, mas sim integrá-los a novas funções, oferecendo capacitação e oportunidades de adaptação. O foco deve ser construir uma transição justa; não resistir à inovação, mas sim incluí-la como ferramenta de progresso coletivo.
O papel do Estado não é manter “empregos artificiais”, mas garantir um ambiente propício à inovação e à liberdade econômica. Intervenções excessivas apenas atrasam o desenvolvimento e criam distorções que penalizam o contribuinte e o consumidor. Em vez de proteger estruturas antigas, o Estado deve preparar o terreno para que novas formas de trabalho floresçam, promovendo educação de qualidade, liberdade de iniciativa e dinamismo econômico.
Quem hoje perde o emprego para uma função automatizada deve encontrar no mercado oportunidades para empreender, inovar e crescer. O futuro pertence a quem se adapta — e o papel do Estado é garantir esse caminho.
*Lenita Bodart Guimarães Caetano é associada do Instituto Líderes do Amanhã.