Como influenciar o eleitor mediano a votar melhor

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A ascensão de líderes políticos com práticas antiliberais, como Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo após escândalos como o mensalão, o petrolão e condenações judiciais posteriormente anuladas por tecnicalidades processuais, revela uma falha estrutural na maturidade política do eleitorado brasileiro. Esse fenômeno não é isolado. O teorema do eleitor mediano, desenvolvido por Anthony Downs na obra An Economic Theory of Democracy (1957), sustenta que, em democracias representativas, as decisões políticas tendem a refletir as preferências do eleitor médio e não do eleitor mais consciente ou ideologicamente alinhado. Assim, se o eleitor mediano for mal informado, vulnerável ao populismo ou dependente de benesses estatais, o sistema democrático, embora legítimo, não necessariamente produzirá os melhores governantes.

No Brasil, esse cenário se torna evidente quando se observa o comportamento eleitoral em regiões onde o assistencialismo predomina como principal mecanismo de fidelização política. Em 2022, Lula obteve 81,31% dos votos válidos no Piauí e 76,86% na Bahia. Esses mesmos estados são, historicamente, os que mais concentram beneficiários do Bolsa Família, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social. Embora a transferência de renda seja moralmente defensável em determinados contextos de emergência social, a permanência indefinida desse modelo transforma o voto em um instrumento de preservação da dependência, minando o incentivo à autonomia econômica. A captura do eleitor pelo Estado, por meio do assistencialismo prolongado, transforma cidadãos em súditos.

Diante dessa realidade, como fomentar uma mudança de mentalidade que permita a eleição de candidatos com agendas liberais, comprometidas com responsabilidade fiscal, segurança jurídica, simplificação tributária e liberdade econômica? A resposta está na pedagogia política. É necessário um esforço articulado para educar o eleitor e não apenas disputar sua atenção em redes sociais ou em slogans de marketing eleitoral. A vitória de Romeu Zema em Minas Gerais, reeleito com 56,18% dos votos no primeiro turno de 2022, demonstra que, em ambientes onde há coerência entre discurso e prática administrativa, o eleitorado responde positivamente ao projeto liberal. Sob sua gestão, o estado melhorou sua posição no ranking de liberdade econômica dos estados brasileiros elaborado pelo Instituto Liberal e Mackenzie, avançou na desburocratização de processos, reduziu o déficit fiscal e atraiu investimentos privados por meio de parcerias público-privadas. A chave está em demonstrar que o liberalismo não é apenas uma teoria de livros, mas uma prática capaz de melhorar a vida concreta das pessoas.

Além disso, é preciso entender que o voto do eleitor mediano não é movido apenas por ideias, mas também por emoções, percepções e simbolismos. A esquerda compreendeu isso com maestria, construindo narrativas afetivas, identificando inimigos imaginários e apresentando-se como protetora dos vulneráveis. A direita liberal, por outro lado, frequentemente falha em comunicar seu projeto de modo acessível, limitando-se a argumentos técnicos que não sensibilizam o público mais amplo. O desafio, portanto, é traduzir o liberalismo em linguagem popular sem trair seus fundamentos. É mostrar que defender a liberdade econômica é defender o direito do pequeno empreendedor a crescer sem ser esmagado pela máquina estatal. Que combater o gigantismo do Estado é permitir que mais recursos fiquem nas mãos de quem produz. Que exigir meritocracia no serviço público é valorizar o bom servidor e proteger o pagador de impostos.

Outro ponto essencial é romper com a estratégia de “pregar para convertidos”. Muitos liberais permanecem restritos a bolhas intelectuais, acadêmicas ou digitais, reforçando uma sensação de impotência diante do avanço do populismo. No entanto, é fora dessas bolhas que estão os votos decisivos. É preciso ocupar escolas, sindicatos, igrejas, universidades, influenciar lideranças comunitárias, formar candidatos com carisma e conteúdo, produzir materiais educativos de fácil compreensão, fomentar clubes de leitura política nas periferias e utilizar o marketing de forma estratégica. A Fundação Lemann, por exemplo, é uma referência em mobilização e formação de lideranças com agenda progressista. O liberalismo ainda carece de uma estrutura institucional semelhante no Brasil.

Também é necessário enfrentar a cultura política do “menos pior”, que perpetua o ciclo de escolhas limitadas entre o populismo de esquerda e o reacionarismo de direita. Uma estratégia liberal eficaz deve rejeitar ambos os extremos, oferecendo ao eleitorado uma alternativa realista, honesta e eficiente. Essa alternativa não pode ser construída apenas em ano eleitoral, mas ao longo de ciclos contínuos de formação, ação social e engajamento cívico.

O liberalismo precisa reconquistar seu lugar na arena política nacional por mérito, consistência e presença. Não basta vencer debates; é preciso vencer eleições. Para isso, o foco deve ser o eleitor mediano — não como um inimigo a ser ridicularizado, mas como um cidadão a ser elevado. Um povo educado, economicamente livre e politicamente consciente é a maior barreira contra o autoritarismo disfarçado de justiça social. Como disse Ludwig von Mises, “A liberdade não pode ser mantida sem uma consciência ativa de seus fundamentos”. Enquanto a maioria dos brasileiros não for capaz de distinguir liberdade de dependência, o risco de continuarmos elegendo os piores continuará presente.

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João Loyola

João Loyola

Formado em administração pela PUC Minas e em Gestão de Seguros pela ENS, Pós-Graduado em Gestão Estratégia de Seguros pela ENS, é sócio sucessor da Atualiza Seguros, trabalha no programa Minas Livre para Crescer na Secretaria de Desenvolvimento Econômico de MG e é associado do IFL-BH.

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