O que a Polônia entendeu — e o Brasil finge não saber

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Nos meus quase 60 anos, que completo em dezembro, nunca imaginei escrever um texto como este. Nunca imaginei ver, em todos esses anos, setores expressivos da esquerda brasileira pregar, de forma aberta, censura, perseguição política, controle de redes sociais e o uso sistemático do Judiciário como trincheira ideológica. Nunca imaginei ver integrantes e apoiadores pedirem de volta a mordaça e ainda chamarem isso de progresso.

Escrevo porque é preciso estudar, conhecer a história, ler de verdade. Não dá mais para opinar a partir de narrativas embaladas em vitimismo e servidas como virtude. O que está em jogo não é uma eleição, tampouco um partido. É a sanidade institucional do país, que se esvai diante dos nossos olhos.

Enquanto isso, a retórica segue intacta. Justiça social, redistribuição, luta de classes, ou seja, os mesmos slogans de sempre. Mas o que foi feito com tudo isso? O PT, partido que retornou ao poder após anos de protagonismo nacional, já esteve à frente do país por mais de 15 anos. Teve tempo, apoio popular, recursos históricos. E o que fez? Loteou o Estado, aparelhou instituições, consolidou castas estatais e manteve a pobreza sob controle político, sem que a emancipação plena da população fosse prioridade real.

A verdade é incômoda: a prática política dominante jamais apontou para emancipar de fato. Sempre foi manter os cidadãos em posição de servidão “consciente”, como beneficiários submissos de um Estado protetor, mas controlador. O discurso da inclusão serviu muitas vezes como biombo para o autoritarismo.

A Polônia trilhou outro caminho. Após décadas de socialismo soviético, mergulhada em escassez, vigilância e repressão, viu surgir uma revolução real, o movimento Solidarność, liderado por Lech Wałęsa, um operário católico, anticomunista, genuíno. Eles não queriam controle. Ansiavam por liberdade. Quando ela chegou, o país rejeitou o socialismo não por simples opção ideológica, mas por vivência concreta. Naquele país, a lição foi clara: quando o Estado se torna gestor absoluto da economia, da moral e da vida cotidiana, a liberdade desaparece. O que se vende como justiça social se revela, cedo ou tarde, uma forma de dominação.

No Brasil, o socialismo nunca foi implantado de forma plena, mas frequentemente foi encenado como ideal político. Por isso, muitos ainda fantasiam com a ideia de um Estado salvador, guiado por um “pai dos pobres” que nunca viveu a pobreza, mas aprendeu a explorá-la politicamente. Não há qualquer inocência nesse projeto. Ele não é bem-intencionado como alguns preferem crer. É sofisticado, funcional e dependente da miséria para justificar o poder e do poder para perpetuar a miséria.

Friedrich Hayek já alertava com precisão: mesmo quando nasce das melhores intenções, o planejamento centralizado exige o controle de tudo. Onde tudo é controlado, não resta liberdade possível. No nosso caso, nem é preciso discutir as intenções. Pragmaticamente, os resultados falam por si.

A Polônia escolheu a liberdade, mesmo com seus riscos e imperfeições. O Brasil parece disposto a aprender tudo da pior maneira, procrastinando e apostando que o autoritarismo, desta vez, virá com feição humana.

Este texto não é desabafo, é advertência. De quem já viu muito, leu bastante e nunca imaginou viver em um país onde a esquerda voltaria ao poder pregando, como solução, a perseguição institucionalizada. É também uma afirmação de convicção pessoal: é sempre preferível buscar, mesmo que imperfeita, a liberdade, a se render a um projeto de poder que, mesmo que fosse bem-intencionado (e não é), impõe ao indivíduo a servidão como destino — funesto.

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Alex Pipkin

Alex Pipkin

Doutor em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS. Mestre em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS Pós-graduado em Comércio Internacional pela FGV/RJ; em Marketing pela ESPM/SP; e em Gestão Empresarial pela PUC/RS. Bacharel em Comércio Exterior e Adm. de Empresas pela Unisinos/RS. Professor em nível de Graduação e Pós-Graduação em diversas universidades. Foi Gerente de Supply Chain da Dana para América do Sul. Foi Diretor de Supply Chain do Grupo Vipal. Conselheiro do Concex, Conselho de Comércio Exterior da FIERGS. Foi Vice-Presidente da FEDERASUL/RS. É sócio da AP Consultores Associados e atua como consultor de empresas. Autor de livros e artigos na área de gestão e negócios.

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