A crise da promessa: o lulopetismo e seus limites
No Brasil, a promessa virou um gênero dramático — tragicômico, farsesco, tropical. Mas há promessas que superam o riso e a tristeza. Há, sim, promessas que ofendem. Quando feitas por um conhecido, reincidente, quase folclórico, elas não inspiram — corrompem.
Luiz da Silva, o presidente, elegeu a picanha e a cervejinha como sacramentos do paraíso popular que sua volta ao poder traria. Nada de produtividade, responsabilidade fiscal ou reforma: bastava elegê-lo, e o churrasco voltaria, ungido pela retórica messiânica do boteco. Não era um programa de governo, mas uma liturgia do populismo. E o povo, sedento de mito, mordeu a isca com fé de noviço.
Mas a realidade é um fiscal implacável — e veio cobrar a conta. Hoje, 67% dos brasileiros já não acreditam na promessa da picanha, segundo a Paraná Pesquisas. A inflação galopa, a renda mingua, e a cerveja — se vem — chega quente. Promessa não foi apenas duvidosa; foi tóxica. A palavra, para valer, exige confiança. Confiança exige caráter. Prometida e não cumprida, a promessa não vale pela intenção, mas pela carga de cinismo que transporta. Não comunica esperança: espalha desilusão.
E não se trata de um erro isolado. Essa impostura faz parte do DNA do lulopetismo. Trata-se de um sistema que se alimenta do engano, que transforma promessa em método e que recobre o fracasso com discurso moralista reciclado. O lulopetismo não apenas mente — ele precisa mentir para existir. Sua lógica é parasitária: acusa para se blindar, distribui migalhas para manter o cabresto, e sempre culpa o outro. Nada é responsabilidade sua. A inflação? Culpa do clima. A estagnação? Da elite. A mentira? Um mal necessário “em nome do povo”.
Sim, todos mentimos. A mentira branca — social, circunstancial, até piedosa — é humana. O que nos destrói, como nação, é a mentira cínica, o embuste como doutrina. O que se espera de um homem público não é pureza, mas integridade. Que erre tentando acertar. Que prometa o possível. Que tenha vergonha, pelo menos. Mas o lulopetismo não tem vergonha. Tem estratégia. O fracasso é rebatizado de resistência. O delírio é vendido como ousadia. A mentira, promovida a pilar de governo. E os que denunciam a farsa são logo taxados de “elitistas”, “reacionários” ou “inimigos da democracia”.
O efeito é nítido — a linguagem pública apodrece. A promessa vira performance. A política, encenação. A república, um teatro de máscaras. O povo? Plateia exausta, faminta — e, enfim, desperta.
No exterior, o verniz já rachou. Os aduladores nórdicos, encantados com o exótico do “retorno do Brasil ao mundo”, hoje desconversam. A picanha prometida não chegou nem aos salões das embaixadas. Quem antes encantava ONGs e colunistas com sua retórica de feira livre, agora soa repetitivo, previsível, desacreditado.
E aqui dentro, a promessa se volta contra o próprio profeta. Como todo embuste, o espetáculo se desfaz quando cai a luz. O povo, que antes ouvia com olhos brilhando, agora escuta com os dentes cerrados. O riso virou ironia. A devoção, cansaço. O carisma, ruído. Se a mentira tem perna curta, essa já rasteja; e a promessa, essa sim, será cumprida. O preço da impostura será cobrado — com juros, correção monetária e vergonha histórica.
O banquete não virá. Restarão apenas os ossos. E, talvez, o amargo gosto de quem acreditou em mais uma promessa de um mentiroso contumaz. E, mesmo assim, há quem ainda acredite — seja por fé, por vício ou por puro apego à ilusão bem temperada.