O dinheiro é a raiz de todos os males; será?

Print Friendly, PDF & Email

Experimente chegar para qualquer pessoa e perguntar: “Você tem certeza de que o que você acredita é o que VOCÊ acredita?” e verá algumas reações no mínimo interessantes. Elas provavelmente irão da citação de algum filósofo até o questionamento quanto a se você usou algum psicotrópico estragado. Mas, explicando um pouco melhor sua pergunta sobre o interesse em saber se a pessoa tem consciência de como foi formada sua visão de mundo, as respostas terão uma convergência maior para um espectro de respostas que provavelmente citará a família, a religião, alguma linha filosófica ou ideológica.

Contudo, faço já de antemão uma ressalva: você pode se surpreender atualmente com o número de pessoas que não saiba como responder. Entre tantos fatores, isso se deve ao pouco tempo destinado ao pensamento livre e crítico. Focarei um pouco neste último aspecto (o crítico), pois o primeiro (o livre) seria necessário um livro (ou mais), e um breve resumo como o proposto não entregaria ou levantaria devidamente a discussão sobre este fato fundamental.

Ter um pensamento crítico nunca foi fácil, seja pelo preço a ser pagar, desde exclusão social até encarceramento, seja pelo processo reflexivo de escrutínio das ideias recebidas pelo nosso filtro pessoal, passando esse mesmo filtro por outro processo de avaliação para se questionar “o porquê você pensa o que você pensa”. Esse ambiente analítico, como dito acima, cobra seu preço. O ser humano possui uma forte necessidade de crer de maneira absoluta em algo para que ele tenha a sensação de segurança que seu sistema biológico e fisiológico clama a fim de que ele possa “descansar” ou, tecnicamente falando, entrar em homeostase, que, simplificadamente, é quando tudo está funcionando no “automático”. E isso é bom! Desencadeia um processo regenerativo importantíssimo para nossa saúde como um todo. O ponto chave é o equilíbrio, como sempre, entre estímulo e descanso. Quando falamos em analisar o porquê de crermos no que cremos, pessoalmente, acredito que isso deve ser feito de forma organizada, regular e, principalmente, com um senso da infinitude do conhecimento e da finitude cognitiva e temporal que temos – isto é, balanceando a vital importância e o prazer dessa jornada.

Quando mergulho nesta prática, entre os vários fatores que percebo conscientemente que me influenciam, citarei alguns adiante para que possamos discutir de maneira mais pontual o título deste artigo.

Quando analiso minha relação com o dinheiro, minhas primeiras lembranças são de não ter noção da sua existência. Paradoxal? Na verdade, eu apenas tinha minhas necessidades básicas supridas e ainda tinha, pelos esforços dos meus pais, acesso ao lazer. Logo, diferentemente de muitas pessoas no nosso país, que já nascem sabendo qual o “preço” do dinheiro, até uma fase adolescente, parecia que era por osmose que o dinheiro saía da carteira dos meus pais e se transformava em bens para mim.

Então, numa segunda fase, o desejo por mais coisas nos mostra duas coisas: não temos o dinheiro suficiente que gostaríamos e outras pessoa têm. Uns, quando constatam isso, investirão todos os seus esforços em pesquisar, aprender e aplicar métodos e ações para angariar a riqueza no patamar que desejam. No lado oposto, não pelo desejo, mas pelos métodos, alguns entenderão essa desigualdade como fator de opressão do que tem contra o que não tem, e seus esforços serão em buscar corrigir essa situação. No meio, estão os que não têm realmente os recursos financeiros que gostariam, mas também não estão dispostos a se esforçar como os dois anteriores. Quando leio a frase anterior, automaticamente acende-se meu primeiro alerta mental, porque já estive de um lado e agora estou no oposto. Lembro-me, na minha juventude, de a literatura (principalmente os clássicos do Brasil), a formação escolar (Paulo Freire em doses cavalares) e a cultura (filmes, música, teatro) serem o combustível do que ainda tenho dentro de mim, mas alimentado de outra forma, para que meu senso de indignação com os problemas da desigualdade fosse canalizado contra o capitalismo e seu suposto deus, o dinheiro. Numa etapa seguinte, no início da busca espiritual, aprendi o versículo acima, que está na primeira carta de Timóteo, no capítulo 6, versículo 10, segundo a versão Almeira Revisada: “Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé”. Não farei uma análise teológica, porque não é a proposta aqui, mas apenas de interpretação de texto, algo tão mal ensinado para mim e os demais brasileiros na escola, que desencadeia o que estamos discutindo.

Percebe-se logo de cara que não está escrito “O dinheiro é a raiz de todos os males”. Apesar disso, se você colocar no Google ou no YouTube, verá diversos sermões das mais variadas denominações que utilizam a Bíblia como regra de fé, ou deveriam, citando esse versículo dessa forma, como se fossem exatamente essas as palavras que Paulo escreveu para seu discípulo. Uma simples leitura deveria ser capaz de derrubar essa noção, mas não se dá assim. O processo em cadeia desde QUEM falou essa frase e analisou para você, o QUE você já aprendeu sobre dinheiro até o dia em que a ouviu e COMO está sua vida quando a ouviu faz toda a diferença. Esses termos em caixa alta são as perguntas que me faço sempre que analiso o que acredito e penso. Claramente, Paulo está dizendo que “o amor ao dinheiro” é o problema. Ou seja, o que importa é onde está seu amor. Conforme o próprio Messias ensina e condensa, não somente o pensamento cristão, mas também judaico, sobre o que se deve amar, reza que é a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Logo, o amor direcionado ao alvo errado é o problema – pode ser em relação a time de futebol, política, hobbie etc.

Na formação cultural brasileira, seja a pedagógica pela ótica de opressor e oprimido, seja religiosa, crescemos aprendendo que “pessoas boas não gostam de dinheiro”. Trabalhos que ajudam pessoas, que trazem impregnadas premissas virtuosas, são menosprezados por críticos que enxergam neles a valorização do lucro a qualquer custo, seja por meios ilícitos, seja por falta de qualidade, vociferando que as pessoas não devem jamais almejar serem ricas. Pessoas que sentem chamados para serem motores de transformação da sociedade, para o bem, não poderiam esperar desfrutar de vidas confortáveis e buscar a possibilidade de deixar seus descendentes iniciarem a vida em melhor situação do que aquela em que começaram.

Será que foi somente um engano interpretativo ou premeditado por alguém? Minha teoria sobre isso ficará para um próximo artigo.

Vou chegando à conclusão do que gostaria de trazer neste momento, iniciando por dizer que, depois daquela fase relatada acima, tendo imergido em outras fontes filosóficas, literárias e culturais, meu entendimento sobre riqueza mudou diametralmente sem renunciar àquele senso de justiça, àquela indignação com a falta de liberdade, de condições e de consciência do meu povo. Apenas entendi – e já vivenciei – que não existe uma incoerência inerente entre riqueza e virtudes. Pelo contrário, devemos iluminar nossos sentimentos e ações para que tudo e todos ao nosso redor prosperem, e, assim como essa energia precisa ser boa, a riqueza, que também não passa de energia, pois tudo no nosso universo o é, apenas mais ou menos densamente, quando canalizada para esses fins, essa riqueza se torna o instrumento certo e poderoso para viabilizar as condições de mudanças concretas na sociedade. Meu pedido ao leitor desta simples reflexão é que não aceite simplesmente o que digo. Se ressoa com seu entendimento, pois pode ser que comunguemos das mesmas fontes, ou se discorda completamente, tire um momento para refletir sobre como e por que você “enxerga” as coisas dessa forma.

Shalom a todos!!

*Thiago Braga é graduado em Licenciatura Plena em Educação Física pela Universidade Paulista. Possui pós-Graduação em Gestão e Auditoria em Serviços de Saúde pela Faculdade Lions e Extensão em Saúde Integrativa pelo IBEED. É membro da Academia Europeia de Alta Gestão, coautor de dois livros pela Academia Europeia de Alta Gestão, ex-Diretor de Comunicação da UNIDAS DF, ex-Coordenador da Comissão de Modelos de Atenção à Saúde da UNIDAS Nacional, palestrante em diversos eventos nacionais e internacionais na área da saúde e atualmente Diretor de Operações de Saúde em Operadora do seguimento de Autogestões. É também fundador da Braga Consultoria.

Faça uma doação para o Instituto Liberal. Realize um PIX com o valor que desejar. Você poderá copiar a chave PIX ou escanear o QR Code abaixo:

Copie a chave PIX do IL:

28.014.876/0001-06

Escaneie o QR Code abaixo:

Instituto Liberal

Instituto Liberal

O Instituto Liberal trabalha para promover a pesquisa, a produção e a divulgação de ideias, teorias e conceitos sobre as vantagens de uma sociedade baseada: no Estado de direito, no plano jurídico; na democracia representativa, no plano político; na economia de mercado, no plano econômico; na descentralização do poder, no plano administrativo.

Deixe uma resposta

Pular para o conteúdo