O país do pano de prato no ombro

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Uma cafeteria. Um desabafo. Um país à deriva.

Fui tomar um café com um amigo — empreendedor, dono de uma cafeteria há mais de dez anos. Bastou perguntar como estavam os negócios para ouvir o diagnóstico seco: “Tô pensando em fechar”. Evidente, não é exclusividade do amigo… Não por falta de café. Mas por falta de gente com alma.

O que mata o empreendedor brasileiro não é apenas o custo, o imposto, a burocracia. É o colapso invisível da atitude. O Brasil, há tempos, vem fraturando sua coluna vertebral mais silenciosa, ou seja, a cultura do trabalho.
Ele me contou um episódio quase cômico – se não fosse trágico. Um funcionário foi servir com o pano de prato jogado no ombro. Ao ser advertido — por uma questão de higiene, de padrão mínimo —, irritou-se, achou-se ofendido e pediu demissão. Não aceitou correção. Preferiu sair. E levou consigo algo mais grave do que um pano sujo. Levou o retrato de uma geração que já não tolera esforço, não reconhece autoridade e se enxerga como vítima em qualquer contexto.

Como escreveu Max Weber, o trabalho foi por séculos a medida da dignidade do homem. Hoje, virou um incômodo. Uma afronta à autoestima inflada por discursos que ensinam o jovem a exigir antes de entregar, a reivindicar antes de compreender.

Claro que há escassez de técnicas, mas essas são ensinadas, como faz meu amigo empreendedor. Porém, a falta maior é a escassez do “tônus vital”, vulgo “tesão”. Falta “grit”, aquela garra que os americanos prezam como virtude fundadora. Falta a vontade de aprender, de crescer, de se aperfeiçoar. Falta humildade.

Enquanto isso, cresce o exército de dependentes do Estado. Mais da metade da população brasileira vive de algum tipo de transferência pública. O assistencialismo deixou de ser ponte para se tornar morada, e o brasileiro, outrora orgulhoso de construir sua vida com esforço, virou refém de um Estado que compra apatia com moedas políticas.

Na Brasília das narrativas, o Brasil avança. No balcão da cafeteria, o Brasil sangra. Empresas fecham não por falência financeira, mas por falência moral. Jovens fogem do trabalho como se fosse punição. Reagem a um puxão de orelha como se fosse uma agressão.

Corrigir virou humilhação. Trabalhar virou humilhação. Empreender virou martírio. O resultado salta aos olhos em vermelho, verde-amarelo. Cafeteiras vazias de mão de obra, empresas órfãs de comprometimento, jovens que exigem respeito antes mesmo de aprender a cumprimentar. Há trinta anos, um jovem queria seu primeiro emprego. Hoje, exige home office, respeito irrestrito e plano de carreira. Note-se, sem jamais ter lavado um copo.

Não se enganem. O Brasil não quebrou por falta de capital. Quebrou por falta de caráter. Não é o empreendedor que está cansado. É o Brasil que está adoecido. E só uma geração disposta a suar de novo poderá reerguê-lo. Singelo assim.

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Alex Pipkin

Alex Pipkin

Doutor em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS. Mestre em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS Pós-graduado em Comércio Internacional pela FGV/RJ; em Marketing pela ESPM/SP; e em Gestão Empresarial pela PUC/RS. Bacharel em Comércio Exterior e Adm. de Empresas pela Unisinos/RS. Professor em nível de Graduação e Pós-Graduação em diversas universidades. Foi Gerente de Supply Chain da Dana para América do Sul. Foi Diretor de Supply Chain do Grupo Vipal. Conselheiro do Concex, Conselho de Comércio Exterior da FIERGS. Foi Vice-Presidente da FEDERASUL/RS. É sócio da AP Consultores Associados e atua como consultor de empresas. Autor de livros e artigos na área de gestão e negócios.

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