O que Trump pode aprender com o protecionismo brasileiro?

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O presidente Donald Trump retornou ao poder nos Estados Unidos com uma promessa: “tornar a América grande outra vez”. Passados quatro meses de seu governo, o republicano adotou políticas protecionistas na tentativa de fortalecer a indústria nacional americana, o que pouco se diferencia das ideias nacional-desenvolvimentistas de países subdesenvolvidos, como o Brasil. Na economia, o governo Trump II abalou os mercados internacionais ao anunciar novas taxas de importação que, devido às suas altas alíquotas, reduzem o poder de escolha do cidadão americano, que necessariamente terá de priorizar produtos da indústria nacional, os quais nem sempre serão melhores. Veremos ao longo deste texto o motivo pelo qual as medidas de Trump são antiliberais e afetam negativamente o crescimento e a prosperidade dos países que optaram pelo caminho do protecionismo.

No último dia 2 de abril, o governo americano adotou uma postura arrojada, apresentando um conjunto de tarifas comerciais que atingem mais de 180 países, os quais terão suas exportações taxadas em, pelo menos, 10%. Apelidada de  Liberation Day, a medida teve rápida repercussão na economia global, causando uma forte desvalorização de ativos nas bolsas de valores, como foi o caso de empresas conhecidas como Apple e Microsoft. Essas iniciativas não só causam estranheza para o país historicamente reconhecido como a nação mais livre e globalizada do mundo, mas também, assustadoramente, se assemelham ao que é praticado por governantes populistas no Brasil, como na Era Vargas.

A lógica nacional-desenvolvimentista é uma política fracassada que atravessa governos e uma realidade no Brasil desde 1930. A ideia de que o governo deve ser o indutor da economia, intervindo em setores tidos como estratégicos, resulta na criação de diversas empresas estatais que se tornaram obsoletas e deficitárias ao ponto de serem entregues à iniciativa privada ou até mesmo extintas por sua incapacidade de entregar serviços e suprir a demanda da população. Essas visões trazem consigo não só a falsa premissa de um planejamento central –
fortemente combatido pelas obras de Hayek –, mas também uma sucessão de desequilíbrios de ordem macroeconômica, como o crescimento da inflação e o aumento da dívida nacional. Os Estados Unidos, por outro lado, se notabilizaram na história pelo seu modelo de federação coeso, que conta com um aparato jurídico-normativo que privilegia a segurança e a previsibilidade, possibilitando uma taxa de juros menor e uma maior aderência ao risco, fatores de extrema importância para empreendedores e negócios de qualquer segmento. Foi essa política que fortaleceu o dólar e o fez uma moeda forte, o que possibilitou ao país estabelecer as melhores relações de troca e paridades no poder de compra.

Os riscos aos quais Trump se submete com suas medidas colidem frontalmente com as ideias liberais de livre mercado e com a boa teoria econômica, que nos ensina sobre a ineficiência do desenvolvimentismo e sua propensão a gerar inflação e desigualdade. Não obstante, as medidas podem ter um custo elevado em relação aos conflitos de caráter ideológico e político com a China, principal alvo das ações de Trump, que tenta disseminar sua influência progressista por meio do bloco do BRICS, o qual se propõe a criar uma moeda única, colocando em xeque a soberania do dólar no cenário global.

Apesar de já demonstrar recuos, as altas tarifas, por mais que representem uma cartada da Casa Branca para garantir a hegemonia da nação no cenário geopolítico internacional, também trazem desconfiança, promovendo um cenário pessimista para as famílias americanas, que terão seu custo de vida aumentado e menor liberdade de escolha para consumirem os produtos que desejarem. Assim, apostar em um Estado protecionista e desenvolvimentista é uma política que se afasta, de forma drástica, dos sólidos valores liberais, que foram cruciais para a criação e manutenção dos Estados Unidos da América.

*Vinícius Bubols é presidente do Instituto Atlantos. 

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