Páscoa e Liberdade

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A Páscoa, mesmo para quem não compartilha da fé cristã, carrega um simbolismo poderoso. É o tempo da renovação, do renascimento, da passagem da escravidão para a liberdade, da morte para a vida. Para os judeus, é a libertação do Egito. Para os cristãos, é a ressurreição de Jesus. Para todos nós, deveria ser um momento de reflexão sobre aquilo que nos aprisiona e aquilo que nos liberta.

Falo como judeu. Reconheço e respeito profundamente a força da mensagem deixada por Jesus, de mais amor, de caridade, de atenção ao próximo. Há um dever moral da preocupação com os outros. Porém, tal preocupação não pode ser confundida com o projeto político de um Estado que se arroga o direito de cuidar de todos às custas da liberdade de cada um. Preocupar-se com o outro não é colocá-lo sob tutela; é ajudá-lo a se levantar para que caminhe por si.

Vivemos hoje, no Brasil, mergulhados numa teia de dependência indireta, alimentada por empregos e serviços inúteis ligados ao governo. Isso não é apenas um fardo econômico, é uma degeneração cultural. A grande escala de dependência do Estado entre a maioria dos adultos explica muitos dos males da terra de Macunaíma. O funcionalismo público é ineficiente, inchado, custoso, e milhões dependem de programas sociais contínuos que alimentam essa cultura de dependência. Pessoas e recursos estão presos em áreas de baixo valor, sem incentivo à autonomia. Evidente que é muito difícil romper com essa situação, pois, para muitos, é uma ameaça à própria sobrevivência.

Essa estrutura cria uma sociedade paralisada, em que o setor privado – criador de valor, de inovação, de liberdade – carrega um fardo desproporcional. Cada real drenado para sustentar essa máquina é um real a menos em investimento, emprego e oportunidade. Isso não pode ser corrigido sem desfazer o crescimento do poder estatal que caminha lado a lado com a expansão dessa dependência.

A ironia é que, sob o pretexto de promover o bem comum, o Estado faz exatamente o oposto, ou seja, perpetua a miséria moral, a estagnação econômica e a servidão voluntária. Objetivamente, tem-se uma falsa caridade, que anestesia a população com pequenas migalhas enquanto corta suas asas. O resultado pragmático é um povo domesticado, infantilizado e incapaz de se reconhecer como protagonista da própria vida.

Mas, se a Páscoa é símbolo de renascimento, que renasça também a consciência individual. Como ensinava Adam Smith, nosso “espectador imparcial” interior é o verdadeiro juiz de nossas ações, e ele nos diz que a responsabilidade pessoal, o esforço próprio, a liberdade de escolha são fundamentos de uma sociedade virtuosa. O cuidado com o outro deve ser livre, voluntário, fruto da compaixão, não da coerção fiscal nem da manipulação política.

Parece-me que essa é a verdadeira travessia pascal que o Brasil precisa percorrer. Necessitamos sair da escravidão disfarçada de bem-estar e caminhar rumo à terra prometida da liberdade. Um país onde o Estado não seja senhor, mas servidor. Em que a iniciativa individual não seja sufocada, mas incentivada. Onde a caridade venha da alma e não do orçamento público.

A mensagem da Páscoa, portanto, deve nos lembrar não apenas da importância de nos preocuparmos com os outros, mas também do dever de garantir que essa preocupação não se transforme em dependência, mas em liberdade. Só assim seremos, de fato, uma sociedade mais justa, mais próspera e, acima de tudo, mais feliz.
Uma Feliz Páscoa a todos.

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Alex Pipkin

Alex Pipkin

Doutor em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS. Mestre em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS Pós-graduado em Comércio Internacional pela FGV/RJ; em Marketing pela ESPM/SP; e em Gestão Empresarial pela PUC/RS. Bacharel em Comércio Exterior e Adm. de Empresas pela Unisinos/RS. Professor em nível de Graduação e Pós-Graduação em diversas universidades. Foi Gerente de Supply Chain da Dana para América do Sul. Foi Diretor de Supply Chain do Grupo Vipal. Conselheiro do Concex, Conselho de Comércio Exterior da FIERGS. Foi Vice-Presidente da FEDERASUL/RS. É sócio da AP Consultores Associados e atua como consultor de empresas. Autor de livros e artigos na área de gestão e negócios.

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