A sabedoria acumulada

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Até 200 anos atrás, a população mundial vivia pouco (idade média de 25 anos) e muito mal, com uma  renda anual per capita ínfima (US$400 em 1810 e mais de US$40 mil em 1991), segundo o site Vespeiro – 200 países em 200 anos, em um vídeo do YouTube de 23.11.22. Não há como deixar de admirar um avanço que baixou o nível de miséria mundial de 95% para os atuais 5%.

Com dados tão animadores, torna-se imperativo tentar entender as suas causas. O inicio deste processo coincide, como muitos estudiosos explicam, com a revolução industrial, que tirou o mundo do mercantilismo para o capitalismo.

Não só o capitalismo provocou uma melhora nos dados econômicos e na qualidade de vida em geral como deu um salto no conhecimento geral. Devemos à tipografia inventada por Gutenberg a redução da ignorância institucionalizada, inclusive as inovações do capitalismo. Até então, só as elites tinham acesso aos textos escritos à mão até a idade média. A leitura era para os privilegiados ligados aos monastérios. O povo vivia no obscurantismo, sem acesso nem às velhas e muito menos às novas ideias.

O que os livros fizeram foi democratizar o conhecimento e difundir as novas ideias. Entre elas, a virtude do capitalismo de superar a miséria, alterando com isso o ponto de partida para os pensadores. Era como começar a subida de uma escada não mais do primeiro degrau, como acontecia, mas de andar superior, onde outros já tinham chegado.

Os números, como os demonstrados no vídeo do YouTube, acima citado, são expressivos para quantificar a melhoria do desenvolvimento provocado pela descoberta de Gutenberg. A idade média de vida dobrou e a miséria mundial, como conhecida até a Idade Média, quase foi eliminada. Nada parecido aconteceu nos 5.000 anos da humanidade antes de o capitalismo surgir.

É sabido que as pessoas inteligentes aprendem com a própria experiência; já os sábios aprendem também com a experiência alheia, e a experiência alheia é transmitida modestamente de boca a boca e/ou  pela observação, mas é universalizada pela leitura. São os livros, os jornais, as revistas e os outros meios de divulgação que colocam o indivíduo em patamares mais altos para começar a subida. Voltaire já dizia, antecipando-se a estas ideias, que “o discípulo que não supera o seu mestre é um infeliz”. Pois ele começa do ponto de onde o outro terminou.

Uma nação que não lê vale menos do que aquela de homens que leem — plagiando a famosa ideia propagada pelas editoras de livros. A ignorância, portanto, é um fator negativo. Mark Twain, escritor americano, acrescentava: “ O homem que não lê não tem vantagem sobre o homem que não sabe ler”.

Levada a sério essa observação do Twain, como no Brasil se lê muito pouco, valemos na mesma proporção que a de uma nação de quase-analfabetos. Nesse sentido, os diferentes níveis de  analfabetismo explicam a qualidade de vida das diversas regiões do país. Esta aí um grande obstáculo à superação da nossa pobreza e distribuição de renda.

O processo é cruel. O ignorante, analfabeto literal ou funcional, desconhece os benefícios do conhecimento. Está sempre partindo nas suas escadas do primeiro degrau. Nunca vão superar os que foram bem sucedidos e, portanto, estão nos andares superiores. A sua ignorância os torna presas fáceis dos demagogos, pois, não valorizando os candidatos melhor preparados, que podem decidir com a sabedoria aprendida de outros, deixam-se levar pelos ignorantes intuitivos, que infelicitam o país.

Em 2018, estatística mais recente, o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) apontou que 29% dos brasileiros eram considerados analfabetos funcionais. Não eram capazes de entender um texto.

O custo mais caro na economia e o maior prejuízo sócio-político é o desperdício de não se aproveitar da sabedoria acumulada nos textos escritos. Os brasileiros são pobres como nação, não por falta de condições naturais, mas por serem campeões de eleger ignorantes que não leem e nem estimulam a leitura — o que não nos permite partir da sabedoria acumulada nas leituras.

Publicado originalmente no blog do autor

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Jorge Simeira Jacob

Jorge Simeira Jacob

Proprietário das lojas Arapuã, rede de lojas de tecidos originária de São Paulo. Diversificou os produtos comercializados em sua rede, iniciando com liquidificadores, e mais tarde voltou-se para o ramo de eletrodomésticos. Fez parte do Grupo Fenícia.

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