Déficits comerciais e o equívoco trumpista

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Fui a um programa de debates. Na bancada, além de mim, outros três conservadores e – talvez – liberais. Quando emergiu o tema sobre a política comercial internacional de Donald Trump, aparentava uma legítima batalha entre Alex Davi e outros três Golias. Como sou coerente com aquilo que estudo e penso, como também tangencio o zero quanto àquilo que pensam de mim, não sucumbo aos sabores da hora.

Logicamente, sou contra a desarrazoada estratégia de Trump para reduzir o déficit comercial americano por meio do protecionismo. Embora muitos não tenham lido e/ou rasguem o “papel luminoso” de Adam Smith, de Ludwig von Mises, de Friedrick Hayek, entre outros, eu nunca o farei.

Primeiro, começo dizendo que barreiras comerciais não exercem impactos significativos nas balanças comerciais. Verdadeiramente, aumentam a taxa de câmbio no país e reduzem a renda de sua população. Se taxar a China, isso resultará em uma balança comercial mais baixa com outros países. Ao impor tarifas de importação para os EUA, mais altas, isso aumenta os preços dos importados, corroendo o poder de compra – e renda – dos consumidores americanos. Além disso, aumenta o custo de insumos e de bens intermediários para as empresas americanas, que repassariam tais aumentos de preços para os consumidores.

A economia funciona como um sistema de vasos comunicantes. Assim, tarifas mais altas beneficiam alguns setores às custas de outros. Não, independente da retórica, o protecionismo não beneficia trabalhadores e empresas locais, gerando prosperidade. Esse é, de fato, o caminho para o baixo crescimento econômico.

Há uma vasta literatura e evidências inquestionáveis de que o livre comércio permite que os cidadãos de um país acessem produtos de melhor qualidade e preços mais baratos, principalmente pelo aumento da produtividade industrial. Não há dúvidas de que o comércio internacional acelera as mudanças estruturais na indústria de uma nação, resultando em ganhos muito maiores do que somente aqueles para as indústrias protegidas.

O custo do protecionismo é o aumento de preços para os consumidores e a redução do poder de compra deles para aquisição de outros bens e serviços, acarretando em destruição – não aumento – de empregos locais. Fico incrédulo diante de como, em certas circunstâncias, alguns liberais mudam de posição, reorientando seu raciocínio pela lógica ilógica do nefasto intervencionismo estatal, da ainda maior expansão do poder estatal.

Não, a prosperidade não advém de canetadas “protecionistas” em defesa de certas indústrias, mas de instituições e de políticas macroeconômicas que as façam lidar melhor – e se fortalecer – sob condições de mudança e risco.
Sem querer me alongar, reflitam onde a fechadura verde-amarela colocou o país, escravizando o aumento de produtividade?

Elementar, meu caro Watson! Na armadilha de um país de baixo crescimento, às custas de uma retórica completamente populista. Não abdico de minhas convicções, mesmo ao ouvir as opiniões de três Golias, além dos comentários desabonadores de alguns telespectadores trumpistas.

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Alex Pipkin

Alex Pipkin

Doutor em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS. Mestre em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS Pós-graduado em Comércio Internacional pela FGV/RJ; em Marketing pela ESPM/SP; e em Gestão Empresarial pela PUC/RS. Bacharel em Comércio Exterior e Adm. de Empresas pela Unisinos/RS. Professor em nível de Graduação e Pós-Graduação em diversas universidades. Foi Gerente de Supply Chain da Dana para América do Sul. Foi Diretor de Supply Chain do Grupo Vipal. Conselheiro do Concex, Conselho de Comércio Exterior da FIERGS. Foi Vice-Presidente da FEDERASUL/RS. É sócio da AP Consultores Associados e atua como consultor de empresas. Autor de livros e artigos na área de gestão e negócios.

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