A obra é a primeira de autoria do CEO e cofounder da Netflix, Reed Hastings, em coautoria com Erin Meyer, e retrata a história e os bastidores da empresa, bem como a sua cultura.

Hastings é empresário e filantropo. Graduado nas universidades de Bowdoin e Stanford, foi professor voluntário do Corpo da Paz no sul da África, integrou o comitê administrativo de diversas organizações educacionais, como Dreambox Learning, KIPP e Pahara e foi presidente do Conselho de Educação do Estado da Califórnia. Em 1997, fundou a Netflix e, anos depois, revolucionou a indústria do entretenimento. Atualmente ele ainda é o CEO e presidente da companhia. Meyer é autora do livro The Culture Map e professora da INSEAD, uma das mais conceituadas instituições de ensino de negócios do mundo. Seu trabalho já foi publicado em veículos como Harvard Business Review, The New York Times e Forbes. Entre 1994 e 1995, também atuou como professora voluntária do Corpo da Paz no sul da África. Em 2019, foi indicada pela lista Thinkers50 como uma das principais pensadoras do mundo dos negócios.

O livro retrata um modelo de cultura corporativa que serve de exemplo nos quesitos liberdade e responsabilidade. Nesse sentido, o autor dá vários exemplos de como diversas burocracias são evitadas, seja com gastos ou com planejamentos como férias e dresscode, por exemplo. A ideia é que a densidade de talentos na companhia seja fortalecida e as equipes, todas de alto desempenho, sejam remuneradas com os melhores salários do mercado, e gerem valor suficiente para permitir tal feito. Para isso, os funcionários são incentivados a compartilhar suas visões, erros e acertos, visando à melhoria de desempenho.

No início do livro, o autor relata sua visita à Blockbuster, uma empresa concorrente, no início dos anos 2000. Ele estava preocupado com a bolha das empresas de tecnologia na internet e ofereceu 50 milhões de dólares para adquirir a Netflix. Com isso, ele propôs dominar não apenas o mercado físico, mas também o digital. O então CEO da Blockbuster precisou segurar o riso e recusou a proposta. Hoje, a Netflix vale mais de 200 bilhões de dólares. Já a Blockbuster entrou em concordata desde 2010.

O livro é um exemplo da importância de sempre olhar o futuro, não negligenciar a evolução e sempre pensar fora da caixa no mundo corporativo. A experiência da Netflix mostra que, quando há uma desconstrução de políticas, a maioria dos colaboradores fica mais atenta, a fim de entender os limites do que é considerado aceitável na empresa. O resultado imediato foi a redução de atividades ligadas ao gerenciamento de exceções. Tudo dependerá da capacidade do líder em liderar com contexto, não com controle. Essa se mostra uma excelente maneira de capacitar a equipe para a autonomia. Entretanto, ela também demanda uma incrível força de vontade.

Acredito que essa seja a grande razão pela qual o livro retrata uma história corporativa de sucesso: força de vontade da equipe. Embora a obra traga um aspecto de desconstrução de políticas e de aparente redução do nível de governança, contando pura e simplesmente com a responsabilidade e autonomia de seus colaboradores, há no mercado um gap de qualidade para a construção de um time de tal perfil. Logo, nem toda companhia tem a possibilidade de realizar o que foi feito, apesar de esse ter sempre que ser o objetivo: buscar gente de qualidade, com valores alinhados ao seu negócio.

Por fim, é importante abordar um segundo conceito, de outro autor, para que seja feita uma reflexão sobre a real efetividade dessa estratégia. Nassim Taleb diz que o cemitério está repleto de evidências silenciosas. No contexto do livro A Regra é não ter Regras, deixa-se a questão: quantas empresas sem regras não nasceram e morreram antes de conquistar um patamar como o da Netflix?

Jhonnilo Cunha – Associado II do Instituto Líderes do Amanhã.