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Sobre “A mentalidade anticapitalista”

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O capitalismo elevou o padrão de vida em países com certa liberdade econômica a um nível sem precedentes. Por que motivo, então, muitos indivíduos são contra esse regime?

A partir desta provocação inicial, o livro “A mentalidade anticapitalista”, de Ludwig von Mises, aborda, de forma direta (e sem meias palavras)como podem indivíduos aproveitarem de todos os benefícios do sistema capitalista e pregarem contra ele.

A despeito de uma crescente propaganda em diversos canais de comunicação sobre “as injustiças” do capitalismo, a falta de oportunidades ou a desigualdade entre empresários e funcionários, o que não se veem são as incongruências das narrativas construídas a respeito desse tema.

Mises infere que o capitalismo é um sistema que dá oportunidades a todos os indivíduos de galgarem os melhores cargos, atingirem os melhores resultados ou serem capazes de aumentar seus patrimônios a partir da capacidade criativa e resolução de problemas de clientes, visto que o fundamento desse sistema baseia-se nas trocas voluntárias de bens e serviços entre pessoas. Assim, o insucesso de alguém é imediatamente exposto nesse sistema, visto que a responsabilidade individual para o próprio sucesso é o que move uma sociedade capitalista, ou de livre mercado.

Ocorre que, mesmo aqueles que possuem certo padrão de vida acima da média, nunca se sentem satisfeitos com o que têm, quer seja por uma medida comparativa de seus pares ou, simplesmente, em função da natureza humana. Mises sugere que, “sob o capitalismo, o homem comum desfruta de vantagens que, em épocas passadas, eram desconhecidas e, portanto, inacessíveis até mesmo aos mais ricos, mas, com certeza, automóveis, televisores e geladeiras não fazem o homem feliz. No momento em que os adquire, ele pode sentir-se mais feliz do que antes. Porém, à medida que alguns de seus desejos são satisfeitos, surgem novos. Assim é a natureza humana”.

Com o aumento populacional surgem muitas ideologias que visam ações com foco no bem comum. Todavia, quando se retira a premissa de trocas livres em um mercado com aspectos subjetivos, como é o caso do preço de uma mercadoria em que comprador e vendedor precisam chegar a um acordo, e passa-se para determinação de aspectos objetivos (como seria o caso de fixação de preços), remove-se a base de toda geração de riqueza e não há, portanto, cálculo econômico, retirando-se, assim, os pilares do que fez a sociedade avançar drasticamente nos últimos séculos, após o advento do capitalismo.

Desse modo, percebe-se que, em uma sociedade livre e em expansão, existe apenas uma maneira exequível de se melhorar as condições materiais da humanidade: acelerar o crescimento do capital acumulado em oposição ao crescimento da população.

Por isso, a figura do consumidor é tão importante num livre mercado: é ele quem premia os indivíduos que melhor solucionam os maiores problemas da forma mais eficiente. Por conseguinte, o que torna um homem mais ou menos próspero não é a avaliação de sua contribuição a partir de um princípio “absoluto” de justiça, mas a avaliação por parte de seus semelhantes, que aplicarão somente o critério de suas necessidades, desejos e objetivos pessoais. O sistema democrático de mercado é exatamente isto. Os consumidores são supremos, isto é, soberanos. Desejam ser satisfeitos.

O ponto central do livro reside em denunciar o ressentimento daqueles que não se adaptam às nuances do capitalismo e, por conseguinte, não atingem o sucesso de outrem, sentindo-se infelizes com a própria realidade. O autor destaca que “a busca de um bode expiatório é a atitude das pessoas que vivem sob uma ordem social que trata todos de acordo com sua contribuição para o bem-estar de seus semelhantes e na qual, portanto, cada um é a origem de sua própria sorte, neste tipo de sociedade, cada indivíduo cujas ambições não tenham sido totalmente satisfeitas odeia a sorte de todos os que conseguiram mais êxito. O tolo libera esses sentimentos através da calúnia e da difamação. Os mais sofisticados não descambam para a calúnia pessoal. Sublimam seu ódio numa filosofia, a filosofia do anticapitalismo, a fim de calar a voz interior que lhes diz que, se falharam, é totalmente por culpa própria. Seu fanatismo ao criticar o capitalismo está exatamente no fato de eles lutarem contra a consciência que têm da falsidade desta crítica”.

Um outro ponto relevante abordado por Mises está relacionado às críticas que grandes empresas e empresários sofrem. O que não se percebe é que a característica fundamental dos grandes negócios é a produção em massa para satisfazer as necessidades das massas, sendo, portanto, os próprios operários, direta ou indiretamente, os principais consumidores de tudo o que as fábricas produzem. Se não houvesse empresas eficientes para a produção de alimentos a baixo custo, certamente haveria um número muito maior de pessoas sem condições básicas de subsistência.

O autor comenta sobre certas políticas que sempre surgem no discurso progressista, e que teriam um impacto positivo imediato para aliviar o fardo das massas sofredoras. Recomendam, por exemplo, a expansão do crédito e o aumento do volume de moeda em circulação (como se viu em diversos países após o início da pandemia no fim de 2019), o piso do salário-mínimo a ser determinado e imposto seja pelo governo, seja pela pressão e coerção dos sindicatos (como ocorreram com os profissionais de saúde recentemente, além dos professores que reivindicam aumento salarial em todo o país), o controle de preços das mercadorias e dos aluguéis, bem como outras medidas intervencionistas. Mas os economistas têm demonstrado que todas essas panaceias não levam aos resultados que seus defensores desejam alcançar. Seu efeito, do exato ponto de vista dos que os recomendam e concorrem para sua execução, ainda mais insatisfatório do que o precedente estado de coisas que eles se propunham a alterar. A expansão do crédito provoca a recorrência de crises econômicas e de períodos de recessão, a exemplo da crise dos subprimes ocorrido em 2008 nos EUA com reflexos em todo o mundo. A inflação faz com que subam os preços de todas as mercadorias e serviços. As tentativas de impor aumentos de salário superiores aos que seriam determinados pela liberdade de mercado provocam o desemprego em massa que se estende ano após ano. Tabelamento de preços tem como efeito a queda no fornecimento dos produtos tabelados. Os economistas têm provado essas teses de modo irrefutável. Nenhum pseudoeconomista “progressista” jamais tentou negá-las. O ataque essencial que os progressistas fazem ao capitalismo é que a recorrência de crises e recessões, bem como do desemprego em massa, são características inerentes a esse sistema. Demonstrar que esses fenômenos são, pelo contrário, resultantes das tentativas intervencionistas no sentido de regular o capitalismo e de melhorar as condições do homem comum é dar à ideologia progressista o golpe final.

O autor ainda comenta sobre as objeções não econômicas ao capitalismo, tais como o argumento da felicidade (de que a posse de bens não faz o homem mais feliz), o materialismo (que faria o homem se afastar de seus objetivos mais nobres e elevados) e a injustiça (como se naturalmente todos tivessem certos direitos). Todos esses pontos baseiam-se em aspectos negativos da existência humana, deixando de lado diversos fatores-chave para a plena compreensão dos benefícios do sistema capitalista. Um indivíduo que satisfaz suas necessidades básicas tem mais condições de realizar atividades que o tornem mais feliz, sem necessariamente basear-se apenas nas suas posses. Além disso, ao entender a natureza humana e suas capacidades de moldar o mundo, deixar de utilizar a criatividade e a inventividade de manuseio de equipamentos e recursos para transformar insumos em seu estado natural em coisas úteis é um passo natural do ser humano. E, por fim, à medida em que há avanços para a sociedade em geral, cabe a cada um entender como alcançar seus objetivos, preservando o equilíbrio de propriedade privada e o direito à vida.

 

Bruno Rigamonti Gomes – Associado II do Instituto Líderes do Amanhã.

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