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Putin e a crise energética na Europa

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Em outubro, os governos da Áustria e da Holanda alertaram para o risco de um “grande apagão” no Velho Continente. O aumento dos preços do gás natural, o fechamento de plantas nucleares na Alemanha e a falta de segurança no fornecimento energético (em grande parte por causa da Rússia) deixaram os governos extremamente preocupados com uma fonte segura de energia barata para residências no inverno. No entanto, um aliado inesperado evitou uma crise energética na Europa e, ironicamente, tal aliado havia sido banido na maioria das nações europeias: o gás de xisto.

De acordo com a Administração de Informações sobre Energia dos EUA, cerca de metade dos volumes recordes de gás natural liquefeito dos EUA foram enviados para a Europa em dezembro de 2021, ante 37% em janeiro do mesmo ano.

Enquanto a maioria das nações europeias proibiu a exploração e o desenvolvimento de recursos domésticos de gás natural, os Estados Unidos têm suprimentos abundantes e competitivos graças à revolução do petróleo e do gás de xisto, que tornou o país quase independente de energia. Segundo a Reuters, a produção doméstica de gás natural superou a demanda dos EUA em cerca de 10%. Uma ironia digna de nota é que os maiores destinatários do gás natural russo são justamente países da União Europeia.

Há uma lição dos EUA para a Europa. Muitas políticas energéticas europeias foram ideologicamente direcionadas, e os subsídios energéticos maciços e a intervenção política não fortaleceram a competitividade da economia, garantiram o fornecimento de energia ou mesmo reduziram significativamente as emissões de carbono. Merece destaque uma recente fala de Robert Habeck, ministro da Economia alemão: “provavelmente perderemos nossas metas (de emissões de CO2) para 2021, também para 2022, e mesmo em 2023 será muito difícil (cumpri-las)”. O principal motivo que levará a esse fracasso germânico é o aumento do uso de carvão, enquanto o uso de energias renováveis ​​permaneceu quase estagnado. O interessante é que depois de centenas de bilhões em subsídios renováveis, as contas elétricas domésticas são 65% mais altas do que em 2006.

Em suma, o grande erro dos europeus foi eliminar e/ou diminuir fontes de energia baratas e confiáveis (nuclear e desenvolvimento de gás natural doméstico) e compensá-las com fontes intermitentes e voláteis de energia – eólica e solar – que ainda não estão prontas para serem confiáveis. Isso ocorre porque não há como “estocar vento” ou “estocar sol” e, assim, em dias nublados ou pouco ventosos, tais fontes deixam os consumidores “na mão”. Assim, quando a demanda energética aumenta (por exemplo, no inverno) ou a produção de energia solar e eólica diminui, isso coloca em risco a segurança do fornecimento e a competitividade porque os preços sobem para níveis recordes.

Os preços da energia na Europa também atingiram recordes porque o custo das emissões de CO2 – um imposto oculto – subiu de 20 euros por tonelada métrica para mais de 80. Devido a esse imposto oculto, os governos europeus estão arrecadando dezenas de bilhões de euros em receitas fiscais, mas o fardo recai sobre as empresas e as famílias.

Os preços da eletricidade residencial na União Europeia entre 2010 e 2014 foram em média de US$ 240/MWh, enquanto os EUA atingiram a média de quase US$ 120/MWh. Os preços da gasolina e do diesel também foram duas vezes mais caros na média da União Europeia em comparação com os Estados Unidos. Ao que tudo indica, não há melhora no horizonte, pois, em 2021, os preços da eletricidade na Europa atingiram um novo recorde.

Não há como pensar em redução da emissão de carbono sem repensarmos nossa matriz energética. No momento, para descarbonizar (ou pelo menos reduzir), a melhor ferramenta tecnológica disponível é uma combinação de gás natural, energia nuclear, hídrica e renovável (solar e eólica). As energias renováveis ​​são intermitentes, enquanto o consumo é contínuo. Em outras palavras, enquanto não tivermos tecnologia para armazenar energias de fontes intermitentes, teremos que trabalhar com energia atômica e com hidrocarbonetos menos danosos ao meio ambiente; mas também é preciso pensar nos consumidores. Reduzir a emissão de CO2 não precisa ser sinônimo de preço alto para a população – lembrando que a nuclear está entre as fontes mais baratas que a humanidade já inventou.

Outra questão é a crise na Ucrânia. Com a Rússia fornecendo ⅓ do gás natural consumido pelos europeus, isso os deixa de mãos atadas para dar uma resposta mais dura às ameaças de Putin à soberania ucraniana. No momento, a Europa é quase uma refém energética da Rússia. É verdade que uma paralisação no fornecimento de energia seria mutuamente destrutiva, haja vista que a economia russa é muito dependente da exportação energética. Porém, se uma coisa a história nos ensinou é que ditadores e déspotas, como Putin, não são conhecidos por sua racionalidade mas sim por sua imprevisibilidade.

*Artigo publicado originalmente por Conrado Abreu na página Liberalismo Brazuca no Facebook.

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