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A Rússia e a situação na Ucrânia

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Ao que tudo indica, a situação na Ucrânia está se acalmando e não haverá invasão por parte da Rússia. Se realmente o recuo se confirmar, é difícil imaginar que houve apenas um único motivo para tal, mas sem dúvida o custo financeiro do conflito foi colocado na equação. Se a invasão russa na Criméia mostrou-se bastante dispendiosa, o que dizer então de um confronto de larga escala entre ambos os países?

Logo após a anexação, ocorreram sanções que causaram uma inevitável queda no comércio, que trouxe impactos negativos nas diferentes economias envolvidas.

Como era de se esperar, a Rússia foi bastante atingida. Em 2015, o Fundo Monetário Internacional (FMI) estimou que “sanções ocidentais e contra sanções russas reduziram o PIB russo em até 1,5%”, e que sanções prolongadas levariam a uma perda de produção cumulativa ainda maior. Em 2019, o FMI estimou que as sanções reduziram a taxa de crescimento da Rússia em 0,2 pontos percentuais a cada ano entre 2014 e 2018. Já sobre os cidadãos russos, o impacto é amplo, mesmo quando essas sanções são direcionadas a bancos privados e estatais. O rublo perdeu o seu poder de compra, o que levou a uma redução dos salários e da poupança em termos reais. Desnecessário dizer que uma invasão em larga escala, se ocorresse, iria piorar esse cenário.

Os EUA, por outro lado, não serão afetados de maneira muito significativa, haja vista que as trocas comerciais entre ambos são relativamente baixas — atualmente a Rússia não está nem entre os 30 maiores parceiros comerciais dos EUA (o Brasil está em décimo-primeiro). De acordo com a Bloomberg, os americanos importaram cerca de US$ 30 bilhões da Rússia em 2021 e exportaram US$ 13,2 bilhões. O problema são os impactos indiretos, principalmente no setor alimentício e energético para o consumidor final. A Rússia é um player global relevante na exportação de metais, bens agrícolas e energéticos, e as sanções afetam os preços marginais nos mercados globais.

Já os europeus sofrerão as maiores consequências caso venham a ocorrer novas sanções. Segundo o Eurostat, a Rússia é o quinto maior parceiro comercial da União Europeia, com importações de US$177,9 bilhões e exportações de US$104,1 bilhões. Além disso, há a dependência do gás natural russo, principalmente em países como Alemanha e República Tcheca. Onze países da UE importam mais de 50% de suas demandas de gás natural da Rússia. Para muitos deles – ainda que estivessem dispostos a aceitar preços proibitivos -, seria impossível compensar o fluxo de gás russo com gás natural liquefeito, mesmo usando caminhões. Duvido que hoje exista algum diplomata ou analista político europeu que não considere que foi uma péssima ideia tornar o continente tão dependente da energia vinda de Moscou.

Para a Ucrânia, o cenário é tenebroso. As professoras Julia Bluszcz e Marica Valente, em The Economic Effect of Hybrid Wars, mostraram que, após a Guerra Civil no Leste da Ucrânia — iniciada após a invasão da Criméia —, o PIB per capita perdido foi de 15,1% entre os anos de 2013 a 2017. Há também a perda populacional. Por ser o país da União Europeia mais próximo, a Polônia vem sendo um destino para imigrantes ucranianos e, por isso, em 2018, cerca de 1 milhão de ucranianos trabalhavam legalmente na terra de Chopin, frente a cerca de 50 mil em 2009. Hoje há quem coloque esse número em quase 2 milhões.

Se há uma coisa de que ninguém precisa no momento é um conflito desses. Se vier a ocorrer, uma consequência será o aumento nos preços da energia e dos alimentos, algo terrível para os consumidores, cujos salários foram corroídos nos últimos anos pela inflação causada pelas impressoras dos bancos centrais mundo afora – inclusive na Rússia. No fundo, Putin sabe que tem pouco a ganhar e muito a perder se entrar nessa guerra, mas, como disse no meu texto anterior sobre o assunto, ditadores não são conhecidos por sua racionalidade.

*Artigo publicado originalmente por Conrado Abreu na página Liberalismo Brazuca no Facebook.

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