Sobre dar crédito a Gramsci pela hegemonia marxista na “guerra cultural” brasileira
Em primeiro lugar, é complicado afirmar sobre uma guerra cultural no Brasil. Acredito que aqui a hegemonia da esquerda se deu por aclamação.
Os Cadernos do Cárcere sequer haviam sido redigidos quando em 1922 a Semana de Arte Moderna lançou as bases do niilismo pós-moderno que tomou conta da cultura nacional.
Ninguém conhecia Gramsci do lado de cá do Oceano Atlântico quando em 1932 intelectuais de peso assinavam o Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, criando as bases pedagógicas para a educação estatal, obrigatória, universal e gratuita institucionalizada na Constituição de 1934, promulgada por Getúlio Vargas.
O coletivismo estatista defendido por Gramsci atingiu o Brasil tardiamente. Aqui, o catolicismo, o positivismo, o pós-modernismo, o fascismo, o trabalhismo e o pragmatismo já haviam pavimentado o caminho.
Os intelectuais de esquerda da segunda metade do século XX e deste início de século XXI, com o lulopetismo, desde Chico Buarque até Paulo Freire, têm vínculos com a ideologia de seus antepassados compatriotas muito maiores do que com os ditos ensinamentos gramscianos.
O Brasil é sui generis; somos coletivistas estatistas por formação voluntária, não por doutrinação forçada. Para mudar a mentalidade reinante hegemônica, foram os liberais que precisaram declarar a guerra cultural da qual os conservadores tanto falam.
Todos os liberais que se prezam devem estar preparados. A guerra cultural mal começou, ataques pelos flancos à direita e à esquerda virão; não se enganem: a defesa da liberdade nunca foi fácil e Gramsci nunca foi o verdadeiro inimigo – pelo contrário, pode até servir de inspiração para que comecemos a mudar tudo devagarinho.
Como dizia Brizola, sopa quente se toma pelas bordas.