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Mises e Hayek contra Keynes

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É curioso notar que Ludwig von Mises, que morreu em 1973, e Friedrich Hayek, falecido em 1992, não são mencionados na prestigiosa Enciclopedia Britannica, na edição de 1968 que possuo. Essa edição veicula, todavia, um capítulo escrito pelo professor americano D. Dillard sobre o capitalismo, onde esse sistema econômico é condenado a desaparecer, vencido pelo planejamento socialista de estilo soviético. Dillard foi autor de um livro sobre a teoria econômica de John Maynard Keynes, refletindo o prestígio que o economista inglês adquiriu, nos anos quarenta a sessenta, como “salvador do capitalismo” e profeta do planejamento e do intervencionismo estatal.

Mises, Hayek, Friedman, Buchanan e os outros modernos economistas liberais são mal conhecidos nesta terra. A obra dos dois primeiros, que se colocam entre os maiores pensadores do século, está aos poucos se difundindo entre nós, graças sobretudo ao trabalho meritório dos Institutos Liberais. A obra monumental de Mises, Ação Humana, que data de 1949, só agora foi traduzida graças aos esforços daquele Instituto do Rio de Janeiro. Pode-se adiantar que a total contaminação das universidades brasileiras pela pseudo-economia de Marx e do governo brasileiro pelas ideias ambíguas e incoerentes de Lord Keynes são responsáveis pelo estado lastimável de nossas finanças e pela fragilidade de nossas expectativas de ingresso na Modernidade.

A. Pedreira de Cerqueira, secretário-geral do Instituto Liberal de Minas Gerais, foi levado a declarar que “ou o Brasil acaba com a Unicamp ou a Unicamp acaba com o Brasil”. Alimento minhas dúvidas se o próprio presidente Collor já se haja convencido disso ao demitir a zelosa Zélia e sua patota.

Keynes ficou famoso entre as duas guerras, por lhe haver sido atribuída a superação da Grande Depressão. Mises e Hayek provaram posteriormente, a contento, que as medidas keynesianas de Roosevelt de nada serviram para liquidar com o dramático fenômeno, responsável em parte pela catástrofe de 1939-1945. O nacionalismo, o protecionismo e as iniciativas financeiras errôneas tomadas pelos governos ocidentais foram os motivos do agravamento desastroso do que não teria passado de uma mera crise cíclica passageira. “Não se pode ser bom economista sendo só economista”, afirma Hayek. Foram fatores políticos e não econômicos, na metástase ideológica provocada pela universalização do nacional-socialismo nos anos 30, em seu verdadeiro sentido, o que determinou no Ocidente o colapso da economia.

Alemanha nazista, Rússia comunista, Itália fascista e os bandos ululantes de seus seguidores foram, ao mesmo tempo, resultado e causa da psicologia demoníaca que se apossou dos povos da Terra e os manteve sob seu domínio hipnótico, até estes últimos anos. Hoje, salvo os brasileiros e alguns poucos patetas retardatários de outras bandas, quase todo o mundo acredita que a livre economia democrática capitalista, ou o que Adam Smith chama de “economia natural”, é o método adequado para o mais justo e rápido desenvolvimento. O próprio ex-presidente Gorbachev afirmou que a economia de mercado “já existe há muitos séculos. É um invento da civilização” (mas será que o deputado Roberto Freire já se deu conta disso?).

Na obra de 1944, a que ninguém na época prestou atenção, O Caminho da Servidão, Hayek procurou provar os perigos da intervenção estatal. É verdade, sem dúvida, que pode o planejamento estatal, em certos casos – sobretudo negativamente – estimular a economia. No Brasil ficamos fascinados com o planejamento quando o presidente Juscelino Kubitschek desenvolveu seu Plano de Metas, colocou a transferência da capital como primeira dessas metas, promoveu a entrada maciça de capital estrangeiro para a criação da indústria automobilística e providenciou a construção de uma ampla infraestrutura de energia, comunicação e transporte, o que talvez no momento não poderia ter sido feito de outra forma.

Graças, de novo, a medidas tomadas oportunamente pelo então ministro do Planejamento no governo Castelo Branco, Roberto Campos, puderam os primeiros presidentes militares desencadear o que foi chamado de “milagre brasileiro”, com crescimentos anuais de 10 e mesmo 14 por cento na economia. Esquecemos, no entanto, que o segredo desses dois sucessos foi sobretudo de ordem psicológica. Juscelino nos deu a confiança no futuro. Castelo e Médici a estabilidade, seriedade e segurança sem as quais não se atreve a iniciativa privada, nacional e estrangeira, a empreendimentos custosos a longo prazo. Brasília demonstrou, pelo espantoso crescimento populacional, ter sido um projeto inteligente de interiorização do desenvolvimento, mas o vício do nacional-socialismo estava implícito no planejamento marxista-keynesiano que então inspirava os governantes – quer os da chamada direita, quer os da chamada esquerda.

Numa carta a Hayek de 28 de junho de 1944, a que Hayek nunca respondeu e só foi até hoje publicada em espanhol (no livro Sociologia Econômica, de J. E. Miguens), Keynes argumenta que o planejamento pode ser eficiente e que, em algum momento, sempre é necessário. Talvez tenha razão. O momento, porém, é hoje favorável a Mises e Hayek. No Brasil talvez só o Estado possa planejar o desmantelamento da própria estrutura nacional-estatizante do Estado burocrático. Vemos isso quando a tenebrosa reação dos corporativistas, patrimonialistas, clientelistas e fisiológicos procura, por todos os meios, combater esse desmantelamento. Mas que Mises e Hayek não se afobem: um dia eles aqui chegarão!

Nota: Este artigo foi originalmente publicado no Jornal da Tarde em 13/06/1991 pelo embaixador José Osvaldo de Meira Penna (1917-2017) e republicado no livro Decência Já, editado pelo IL em 1992.

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