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A vida e pensamento de Friedrich Hayek (primeira parte)

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Um dos principais expoentes da Escola Austríaca, Friedrich Hayek nasceu em Viena em 1899, sendo descendente da nobreza austríaca. Na infância e adolescência, manifestou diversos interesses, como botânica, fotografia e teatro, além de esquiar, velejar e escalar. Pensava em se tornar um psiquiatra, mas os eventos da I Guerra Mundial – onde serviu por um ano no front italiano pelo exército austríaco – e a Revolução Russa de 1918 o influenciaram ao ponto de se encantar pela “nova ordem” e pelo socialismo.

Hayek admitiu anos depois que a tentativa de resolver os males sociais aplicando o planejamento governamental e controle da economia o fascinou. Contudo, sempre abominou as violentas revoluções defendidas pelos marxistas, preferindo o socialismo fabiano, que, em contraposição, propunha intervenções graduais e pacíficas.

Aos 23 anos, já era doutor em Direito e Economia Política pela Universidade de Viena, à época entre as três melhores do mundo. Porém, foi em 1922 que, ao ler a obra Socialism – uma crítica devastadora ao planejamento central de Ludwig von Mises – que decidiu assistir aos seminários deste – considerado o centro do debate econômico em Viena. O professor Mises passou a exercer profunda influência sobre a obra de Hayek, tendo o jovem acadêmico concordado com as conclusões de Mises, mas nem sempre com seus argumentos.

O método da Escola Austríaca, inaugurada por Carl Menger em 1871, dava ênfase ao indivíduo e à natureza subjetiva da informação econômica. Entre as premissas, estava a de que há uma ordem no mercado independentemente de um controle central, um pensamento que influenciou vários dos conceitos elaborados posteriormente por Hayek.

Com o apoio de Mises, fundou o Instituto Austríaco de Pesquisa de Ciclos Econômicos, tornando-se posteriormente professor da Universidade de Viena. Em 1929, publicou “Teoria Monetária e os Ciclos do Comércio”, obra em que ele expandiu as ideias da EA e a premissa de que os preços e serviços, incluindo as taxas de juros, são vitais para os planos dos consumidores e produtores. A ideia central de Hayek era a de que os preços continham sinais de informação, promovendo ajustes harmoniosos e espontâneos dentro de uma sociedade de mercado. Contudo, a intervenção governamental na economia pode causar falhas ou sinais distorcidos levando, eventualmente, a uma recessão.

Em outras palavras, para o austríaco os preços transmitem conhecimento para que a economia funcione adequadamente, mas esse conhecimento pode ser distorcido pela intervenção governamental.

Desde a primeira obra, dessa forma, o jovem Hayek entrou em colisão com as duas tendências mais dominantes do pensamento econômico da época, o Socialismo e o Keynesianismo.

Assim, Hayek participou do debate sobre o cálculo econômico do socialismo. Ele incrementou o argumento inicial de Mises de que o socialismo era tecnicamente impossível. Sem o ajuste de preços baseado na propriedade privada não haveria sinais para os planejadores socialistas calcularem o valor relativo de bens e serviços, nem informação para decidir quais métodos de produção eram mais eficientes. O conhecimento econômico é disperso entre os indivíduos, o que faz com que o planejamento central desejado pelos socialistas seja impossível e, caso tentado, os resultados sejam catastróficos.

Dessa forma, argumentou que as intervenções centralmente planejadas são arbitrárias e podem ser destrutivas para a prosperidade econômica.

Keynes X Hayek

No início da década de 1930, foi convidado para ministrar palestras em Londres para expor sua visão da Grande Depressão Americana. Sua exposição, certeira e completa, arrebatou a plateia, e ele foi convidado para lecionar na London School of Economics.

Sua pesquisa sobre Ciclos de Negócios (booms e busts) o deixou famoso na LSE, envolvendo-se, a partir daí, no debate público com John Maynard Keynes, com quem disputa o título de economista mais importante do século XX.

Keynes era contrário à nacionalização de toda a economia, mas considerava papel do governo estimular o crescimento. Ele argumentava que a única saída para a espiral descendente de desemprego e baixo consumo era uma intervenção governamental de larga escala e com gastos públicos. Foi contra-argumentado pelo austríaco de que a medida traria inflação e que os ajustes eram uma parte inevitável do ciclo de negócios e que os preços deveriam flutuar sem interferência. Além disso, as distorções nos preços gerada pelas intervenções sugeridas por Keynes resultaria em coisas erradas sendo produzidas em quantidades erradas no tempo errado.

Hayek sugeria deixar o sistema, que havia sido descoordenado pelo governo via inflação da oferta monetária, recuperar-se naturalmente e que as intervenções artificiais defendidas por Keynes apenas adiavam e agravavam uma correção necessária.

As discordâncias entre ambos também se davam por meio do método: Keynes utilizava indicadores agregados macroeconômicos, como o percentual de desemprego e o PIB. Para Hayek, contudo, eles escondiam informações econômicas importantes, individualizadas e dispersas e, por conseguinte, a análise deveria se concentrar em transações individuais.

Em 1936, todavia, a obra de Keynes “Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda” representou um ataque à economia liberal clássica. Hayek não dispôs um contra-ataque público por considerar que as ideias da obra não teriam sucesso, além do fato de Keynes frequentemente mudar de ideia – uma falha admitida pelo próprio Friedrich anos mais tarde.

A opinião pública passou a pender para o controle governamental sobre a vida econômica e contra as ideias do austríaco. O presidente americano Franklin Delano Roosevelt aderiu às ideias de Keynes e expandiu dramaticamente o papel do governo na vida americana. O fim dos anos 1930 e início dos anos 1940 foram difíceis para Hayek.

A dispersão do conhecimento

Ainda na LSE, Hayek desenvolveu melhor sua Teoria da Ordem Espontânea, em que os preços eram sinais de informação, necessários para o funcionamento da sociedade em geral, afirmando de forma contra-intuitiva que poderia haver ordem em uma sociedade ainda que não houvesse ninguém ordenando. Ademais, sociedades não poderiam ser organizadas adequadamente sem os sinais que provêm de um sistema de empreendedorismo sustentado livremente por preços e lucros.

A divisão do trabalho, pensada inicialmente por Adam Smith, tornou-se, na visão de Hayek, a “divisão do conhecimento”. O mercado, portanto, seria um meio para que as pessoas pudessem se beneficiar, capitalizar o que sabem que é diferente de outras pessoas, compartilhando, por intermédio de suas ações, conhecimento.

Por conseguinte, um planejador planejador central não poderia reunir todo o conhecimento da sociedade para criar a mesma ordem e prosperidade que ocorre espontaneamente em um livre mercado, algo que impediria qualquer tipo de inovação. (Continua na segunda parte)

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Luan Sperandio

Luan Sperandio

Analista político, colunista de Folha Business. Foi eleito Top Global Leader do Students for Liberty em 2017 e é associado do Instituto Líderes do Amanhã. É ainda Diretor de Operações da Rede Liberdade, Conselheiro da Ranking dos Políticos e Conselheiro Consultivo do Instituto Liberal.

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