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Sobre o que é fazer a coisa certa

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Qual o limite da sua moral? Até que ponto suas convicções do que representa o certo e o errado se sustentam? A princípio, tais questionamentos podem parecer vagos, ou até mesmo suscetíveis a respostas igualmente vazias. Entretanto, o intuito do autor Michael Sandel é justamente o contrário, ao buscar aprofundar debates sensíveis, por meio da filosofia e profunda reflexão.

Michael J. Sandel é professor de filosofia, ministrando suas aulas na universidade de Harvard, onde é responsável também pelo curso “Justice”. Nascido nos EUA, em março de 1953, Sandel é reconhecido pelas obras Liberalismo e os limites da justiça, de 1982, e Justiça: o que é fazer a coisa certa, de 2009.

Em “Justiça”, o autor aborda diversos dilemas morais, sendo a maioria composta por casos reais, com o intuito de provocar no leitor a reflexão sobre o que é moralmente correto. Dentre os diversos cenários citados pelo autor, há o famoso dilema do bonde desgovernado que põe o observador em posição para uma difícil decisão: não atuar e, consequentemente, deixar o bonde desgovernado matar cinco trabalhadores, ou atuar, desviando o curso do bonde e evitando a morte dos cinco, porém utilizando a vida de uma sexta pessoa. Desse modo, cabe ao expectador decidir entre se omitir, aguardar o desfecho do atropelamento do bonde nas cinco pessoas ou atuar e sacrificar uma vida por um “bem maior”.

Ainda na obra, Sandel exemplifica esse cenário com um caso real, ocorrido no final do século XIX, em que quatro náufragos se encontram perdidos em pleno Oceano Atlântico, após acidente com seu navio. Após dias de privação de comida e água, um dos tripulantes se encontra muito doente e já próximo da morte. Dada sua situação de saúde e não possuindo família, o jovem é assassinado pelos demais, que passam a se alimentar de seus restos mortais. Trata-se, portanto, de um caso prático do sacrifício de um indivíduo em prol da maioria, do coletivo. E, aqui, cabe a reflexão: a escolha feita foi a mais justa?

Segundo Sandel, o conceito de justiça pode ser encarado sob três vieses: o do bem-estar, pela perspectiva da liberdade, ou baseado no conceito da virtude. No plano filosófico, o autor segrega a análise da justiça nesses cenários entre a ótica do utilitarismo e da liberdade individual.

No conceito do utilitarismo, de forma sintética, o conceito de moral, e por consequência justiça, está atrelado a situações que maximizem a felicidade no coletivo. Nessa perspectiva, o utilitarismo se baseia em virtudes e no bem-estar da maioria para justificar a justiça, como no caso dos náufragos, já que a maior quantidade de vidas foi salva.

Já o conceito de liberdade individual, como o próprio nome indica, prioriza o indivíduo acima do coletivo, fazendo de sua liberdade um conceito inegociável.

Os dois conceitos se antagonizam, colocando frente a frente o coletivo e o indivíduo, sendo debatidos por Sandel em seus cases ao longo da obra.

Em “Justiça”, o autor não se preocupa em apontar o caminho correto ou o errado em cada cenário. Pelo contrário, debate cada visão, explorando seus prós e contras, deixando a cargo do leitor decidir a ação mais adequada.

Embora não providencie qualquer solução ou resposta para os dilemas morais, “Justiça” é um excelente livro, cujo grande mérito é justamente a reflexão moral. A obra propõe debates capazes de testar os limites morais e abalar as convicções filosóficas de cada um. Assim, é justamente nesse ponto que “Justiça” é elogiável, ao colocar o leitor fora de sua zona de conforto e, portanto, fazendo-o evoluir.

Gabriel Barbosa – Associado I no Instituto Líderes do Amanhã. 

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