Na semana passada, o Bureau of Labor Statistics (BLS) divulgou números que mostram que o nível de preço médio dos bens de consumo aumentou 4,2% nos Estados Unidos nos últimos 12 meses – a taxa mais alta desde 2008. Em outras palavras, o trabalhador médio americano que ganha o mesmo salário de 2020 sofreu um corte no seu pagamento através da inflação, chamado por muitos de “imposto invisível”.

Por que a inflação americana disparou logo agora? É devido a um fenômeno monetário. Imagine que, de repente, todo o dinheiro dos EUA se torne 10 vezes maior. Notas de dez dólares se transformam em notas de 100 dólares, contas bancárias com $10.000 se transformam em contas com $100.000.

E o que vai acontecer? Se os preços permanecem os mesmos, de repente as pessoas correm para comprar coisas novas. Como em um passe de mágica, uma garçonete vai conseguir comprar um Porsche. Alguém pode pagar a entrada de uma casa. Uma criança que ganha uma mesada generosa comprará sem dificuldade uma nova TV com um Playstation.

Isso parece ser algo legal, certo? Sim, até considerarmos o que acontece a seguir, quando os problemas aparecem.

Todos os carros à venda estão saindo do estacionamento. As prateleiras da TV estão vazias. As ofertas da casa aparecem apenas alguns minutos após a listagem. A SONY está sobrecarregada de novos pedidos. Apesar de haver mais dinheiro, ainda existe a mesma quantidade de bens. Com tantos clientes exigindo novos produtos, os vendedores têm 10 clientes brigando por um produto. O resultado é óbvio: os preços aumentam.

Para ser mais exato, conforme mostrou Milton Friedman no seu livro Livre Para Escolher, os preços dos produtos aumentarão na mesma proporção que a quantidade de dinheiro circulante. Um carro de 70 mil dólares vai passar a custar 700 mil e uma casa de 1 milhão vai passar a custar 10 milhões.

A quantidade de dinheiro (medida como “M2” pelo Federal Reserve) aumentou mais de 32,9% desde janeiro de 2020. Isso significa que mais de um quarto de todo o dinheiro em circulação foi criado desde então. Esta é uma mudança que não tem precedentes na história recente.

O dinheiro recém-impresso ajudou a financiar a enorme quantidade de gastos devido ao coronavírus, em especial benefícios para quem teve que “parar”. Em outras palavras, pessoas que não produziram nenhum bem ou serviço receberam dólares que acabaram de sair do forno. À medida que os lockdowns acabam e finalmente é permitido que os consumidores retornem à atividade econômica normal, o novo dinheiro começa a se mover pela economia com mais rapidez. Os bancos têm mais dinheiro para emprestar e as pessoas estão construindo novas casas. À medida que mais casas são construídas, a demanda por madeira aumenta. Conforme a demanda por madeira aumenta, o preço da madeira sobe.

Embora o novo dinheiro não chegue a todos os mercados em simultâneo, e possa levar algum tempo para que a demanda volte aos níveis anteriores ao lockdown, os números da inflação indicam que esse processo começou. Para que a inflação desacelere, ou os gastos da população teriam que diminuir, ou o governo teria que reduzir a oferta de moeda. Como já escrevi anteriormente, nada indica até o momento que Biden irá fazer sua parte. Também creio inimaginável que todos os americanos se juntem em uma grande corrente cooperativa para parar de gastar.

Vi muita gente dizendo que o novo plano de Biden significava a morte do neoliberalismo. De uma maneira bem resumida, a ideologia neoliberal surgiu entre as décadas de 70 e 80 como resposta à, entre outras coisas, inflação acelerada ao redor do mundo. Eu não teria tanta pressa em assinar o obituário.

*Artigo publicado originalmente por Conrado Abreu na página Liberalismo Brazuca no Facebook.