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Por que as teses de Marx e Engels não decolaram?

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Na semana passada, escrevi um texto dizendo que “praticamente todas as hipóteses de Marx foram por água abaixo”, e prometi me aprofundar mais sobre esse assunto em uma próxima publicação. Pois bem, o momento chegou. Nos próximos parágrafos, pretendo discorrer sobre algumas teses da dupla Marx e Engels e porque elas não decolaram. A quantidade de fracassos dos alemães em questão é grande e, assim, este texto será dividido em duas partes.

Aqueles que defendem as ideias marxistas costumam se colocar no “lado certo da história” e adotam, conscientemente ou não, um elemento central na análise do capitalismo de Karl Marx: a ideia de que o sistema capitalista seguirá um curso de desenvolvimento e, eventualmente, levaria a uma forma melhor e mais avançada de sociedade – o socialismo. Marx estava convencido de que aquelas décadas intermediárias do século XIX eram o crepúsculo do capitalismo industrial. Seus escritos deixam claro que ele acreditava que a revolução socialista estava muito próxima.

Hoje, há quase 200 anos da publicação do Manifesto Comunista, sua visão do século XIX parece nada mais do que uma ilusão de um revolucionário anticapitalista que queria acreditar que o “estado operário” estava a poucos anos de distância. É até de certa forma compreensível. Ser um “socialista científico” não gera muito entusiasmo nas pessoas. Não haverá muito engajamento por parte do público se você disser que a revolução vai chegar em dois ou três séculos, mas, se sair por aí dizendo que ela está bastante próxima, a quantidade de “likes” tende a ser bem maior. Aí nós já temos o primeiro erro de Marx: seu timing não funcionou como ele previa.

Outro ponto central da obra de Marx é que haveria uma concentração de riqueza cada vez mais em menos mãos, e um crescimento da miséria geral. Bem, nos 150 anos desde a publicação do primeiro volume de Das Capital, o que ocorreu foi um imenso aumento no investimento de capital que não levou à tal concentração de propriedades e nem resultou em pobreza crescente. Como tais fenômenos não ocorreram, tampouco sua consequência ocorreu: uma sociedade cada vez mais polarizada em duas classes — a “classe proprietária” e o “proletariado sem propriedade” (patrões e empregados, em português mais claro).

Em vez disso, o fenômeno social mais marcante dos últimos 200 anos foi a ampliação e o crescimento de uma vasta “classe média”. Em vez de “ricos” e “pobres”, há uma turma no meio, mais ou menos abastados. Um terreno nem preto nem branco, mas cinza, que Marx simplesmente ignorou. Hoje, vale ressaltar, a maior parte da população humana se encontra nesse grupo. Em vez de a acumulação de capital levar a uma concentração de riqueza e renda, ela trabalhou para dispersar a propriedade e a riqueza entre os membros da sociedade industrial.

Houve pelo menos duas razões para este ocorrido: a primeira foi o surgimento dos mercados financeiros. As instituições bancárias e financeiras modernas surgiram como intermediários para coletar e canalizar fundos para empréstimos de quem tem poupança para passar para as mãos de quem queria investir. Para minimizar o risco de perda de potencial inadimplência por parte dos mutuários, era vantajoso distribuir esses fundos para um amplo espectro de mutuários de tamanhos e tipos variados, graus de risco com encargos de juros correspondentes e exigências de garantias. O fluxo de capital para uma ampla variedade de empreendedores, que de outra forma nunca teriam sido capazes de iniciar ou expandir vários empreendimentos comerciais, criou novas e crescentes fontes de riqueza e acumulação. Em outras palavras: os bancos permitiram que mais gente conseguisse acessar o clube dos proprietários.

O segundo motivo é que Marx presumiu que a tecnologia de produção em massa resultaria na homogeneização das habilidades de trabalho necessárias para a atividade industrial, reduzindo-a ao mínimo denominador comum para várias tarefas na forma de salários mínimos de “subsistência”. Bem, a humanidade caminhou justamente na direção oposta. A industrialização e agora o “novo mundo” da alta tecnologia geraram uma demanda por uma ampla variedade e espectro de habilidades e talentos trabalhistas. O resultado não foi uma homogeneização do trabalho, mas sim sua heterogeneidade, variando em valor e tipo. Daí surgiu uma ampla gama de salários, isto é, não um nivelamento por baixo dos rendimentos. É uma estrutura complexa, com vários níveis entre si, refletindo uma distinção definida entre os trabalhadores e seus talentos e habilidades específicas no mercado.

Os dois motivos acima levaram ao surgimento da classe média, algo que é abominado pela esquerda – quem não se lembra da fundadora do PT, Marilena Chauí, dizendo que odeia a classe média? Um homem sem nada a perder é bastante perigoso. Agora um homem com algum tipo de propriedade tem algo a perder, logo é bem menos propenso a brincar de revolucionário.

Finalizo ressaltando que ainda há muito mais erros de Marx para serem abordados, mas, como dizem na TV: “aguardem as cenas dos próximos capítulos”.

*Artigo publicado originalmente por Conrado Abreu na página Liberalismo Brazuca no Facebook.

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