O que você pode aprender com Steve Jobs
Obsessivo, explosivo e visionário. Essas são três características que permeiam toda a biografia sobre Steve Jobs, o “pai” da empresa Apple, que faleceu em outubro de 2011, deixando um enorme legado à sociedade.
A obra, escrita por Walter Isaacson, retrata em suas mais de 400 páginas toda a cronologia da vida de Steve Jobs, desde o seu nascimento, marcado pelo abandono por seus pais naturais e a posterior adoção pela família Jobs, até as suas batalhas finais contra o câncer.
Os primeiros anos da vida de Steve Jobs
É interessante notar que alguns eventos da infância ou da adolescência de Steve Jobs o acompanharam ao longo de toda a sua jornada, criando traços marcantes em sua personalidade. Um exemplo é o abandono por seus pais naturais logo após o seu nascimento. Jobs conviveu durante anos com a ideia de que fora abandonado, e isso o fez, por um lado, criar laços menos afetivos, sobretudo no âmbito familiar e, por outro, buscar referências paternais, pessoas mais velhas em que se apoiava e depositava grande confiança, como os primeiros investidores da Apple e o presidente executivo John Sculley, com quem acabou rompendo relações em 1985, quando Jobs foi colocado para fora da Apple.
O livro também conta com riqueza de detalhes a adolescência rebelde de Steve Jobs, que buscava na contracultura hippie uma forma bem distinta de viver: com muita meditação, drogas, músicas de Bob Dylan e uma radical dieta vegetariana (que manteve ao longo de sua vida). O modo distinto de viver, somado a altas doses de LSD, contribuiu para aflorar em Jobs uma mentalidade criativa e intuitiva.
A criação da Apple
Não obstante a filosofia de vida, Jobs nunca quis se isolar do mundo. Após largar a faculdade, que já não mais o interessava, retornou à Califórnia, passando a frequentar grupos e trabalhar em empresas de tecnologia, como a Atari, o que aumentou ainda mais o seu interesse pela computação e pela eletrônica.
No ano de 1975, com o seu fiel parceiro Steve Wozniack, que era um gênio da computação, a Apple fora fundada. Somando a criatividade e a capacidade comercial de Jobs, que tinha um perfil extremamente persuasivo, e a genialidade técnica de Wozniack, começaram a desenvolver computadores pessoais. Em 1977, com o lançamento do modelo Apple II, a empresa deslanchou.
Uma característica marcante de Jobs em toda a sua vida profissional foi o seu caráter explosivo. Apesar de ser cativante e carismático quando lhe convinha, Steve era também extremamente grosseiro e agressivo. Era muito comum ouvi-lo gritar com os empregados, xingar a equipe, falar que determinada ideia ou produto era uma “porcaria”. O autor do livro nominou isso de “sistema binário”: ou Steve amava determinada coisa, ou odiava. Não havia meio termo, o que deixava as pessoas apavoradas, com o medo da reação, que era sempre imprevisível.
Certa ou errada, essa característica sem dúvidas trouxe resultados. Steve Jobs era obcecado pelo produto e não queria nada menos que a perfeição. Isso acabava intensificando o modo ríspido de ser. Jobs certa vez disse que “ao esperar que elas façam grandes coisas, você consegue que façam grandes coisas. A equipe Mac original me ensinou que os participantes A+ gostam de trabalhar juntos, e não gostam se você tolera um trabalho B”.
A saída de Steve Jobs da Apple
Com foco no produto e uma equipe extremamente qualificada, Jobs comandou a criação do Macintosh, em 1984, que representou uma grande revolução na interface gráfica dos computadores pessoais e na integração definitiva entre hardware e software. O “Mac” foi concebido para que ninguém pudesse instalar um sistema operacional externo. A própria caixa do computador era praticamente inviolável. Jobs queria controlar a experiência do usuário de ponta a ponta, o que se tornou, cada vez mais, a marca registrada da Apple.
Dada a característica explosiva e perfil dominador, no ano de 1985 Jobs intensificou os seus atritos com os membros do Conselho de Administração da Apple e com o então presidente executivo, John Sculley. Como resultado da briga interna, Jobs foi expulso da empresa que fundou. Transtornado com a “derrota”, vendeu todas as ações que possuía na Apple (com exceção de uma, caso quisesse participar de alguma reunião de acionistas).
Com dinheiro em mãos e ainda com 30 anos de idade, Jobs buscou novos negócios. Criou a NeXT, uma empresa de computadores, inicialmente voltada para o ambiente educacional, que também desenvolveu hardwares e softwares integrados. Ainda na década de 80, Jobs comprou uma empresa que desenvolvia um aparelho de computação gráfica, voltada para a indústria do cinema, rebatizando-a de Pixar. Sob o comando executivo de Jobs, a empresa veio a ter enorme sucesso a partir da década de 90, sobretudo após o lançamento do filme Toy Story, em parceria com a Disney.
A volta de Steve Jobs para a Apple
No ano de 1996, quando a Apple estava numa decrescente e lutando para desenvolver um novo software, o Conselho de Administração fez uma nova aposta: iria comprar a empresa NeXT para ter direito ao software por ela desenvolvida. O principal interesse, na realidade, era trazer Jobs – agora mais maduro – de volta ao comando executivo da empresa, para resgatar a sua essência. Deu certo!
Em 1997, a Apple lançou o iMac, um computador pessoal com um design extremamente moderno e inovador; mas essa não foi a maior conquista. Nos anos que se passaram, a empresa deixou de ser apenas uma grande empresa de computação. Revolucionando o mercado da música, com o iPod e o iTunes, o mercado de telefonia, com o iPhone, e o mercado de computadores portáteis, com o iPad e a App Store, a Apple se tornou, em 2010, a mais valiosa empresa de tecnologia do mundo.
Interessante notar, no livro, o quão importante Jobs foi para que tudo isso se concretizasse. Além de protagonizar as famosas apresentações dos produtos, Jobs trabalhava intensamente junto às suas equipes em busca da perfeição. A ideia de criar um novo mundo, com produtos perfeitamente acabados e mais funcionais que qualquer outro que os competidores haviam tentado conceber.
Certa vez, Jobs foi perguntado que pesquisa de mercado ele teria feito para criar os seus produtos, e respondeu: “Alexander Graham Bell fez alguma pesquisa de mercado antes de inventar o telefone?”.
Com sua obsessão pelo produto, personalidade explosiva e criatividade implacável, Jobs revolucionou o mundo, gerou valor a toda sociedade a partir dos produtos da Apple, dos concorrentes que tentaram copiá-la e, sobretudo, dos milhões de aplicativos que foram desenvolvidos, criando oportunidades de negócio, facilidades e bem-estar para bilhões de indivíduos.
Ao trazer uma narrativa muito fiel, a história do livro é extremamente inspiradora e, apesar de todos os defeitos de sua personalidade, nos faz admirar ainda mais Steve Jobs.
Francisco de Aguiar Machado é Associado Alumni do Instituto Líderes do Amanhã.