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Economia e futebol: quais os motivos da hegemonia brasileira no continente?

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Os dois torneios intercontinentais que jogamos estão dominados por times brasileiros, que monopolizam as finais. Na Sul-Americana, o Athletico Paranaense vai pegar o Red Bull Bragantino e, na Libertadores, SE Palmeiras e Clube de Regatas do Flamengo se enfrentam em Montevidéu. Aliás, sobre este último, se não fosse a derrota do Fluminense Football Club para o Barcelona Guayaquil , a semifinal seria totalmente verde e amarela. Não é de agora que os times brasileiros se mostram superiores aos seus vizinhos, pois, de 2010 até hoje, 8 campeões saíram do nosso país.

A pergunta que fica é quais são os motivos da hegemonia brasileira perante as outras nações do continente, e é isto que vamos explorar no texto de hoje.

Em primeiro lugar temos que aceitar que a Taça Libertadores da América nunca foi conhecida pela sua diversidade de vencedores. Dos 61 títulos até hoje (contando o de 2021), os argentinos e brasileiros somados ganharam 45, o que significa que, de cada 4 ganhadores, 3 ou são nossos compatriotas ou são portenhos. Todos os outros países somados não alcançam a quantidade de títulos do segundo colocado da lista, o Brasil. Além disso, mais da metade dos títulos argentinos vêm de dois clubes: Boca (6) e Independiente (7). Dessa forma, parece-me que, para entender a hegemonia brasileira, é preciso também entender o que aconteceu com o futebol argentino, mas isso vou deixar um pouco mais para o final.

Primeiro vamos aos números dos dois países. De acordo com o site Transfermarkt.de , os plantéis dos times brasileiros e argentinos somados têm em valor de mercado, respectivamente, 1,08 bilhões e 772 milhões de euros. A terceira colocada é a liga colombiana, que vale 250 milhões de euros, seguida pela chilena com 161,08 milhões. Porém, é interessante observar como ambas estavam 10 anos atrás. Em 2010-11, o valor de mercado da liga argentina era de 845 milhões de euros, enquanto a brasileira valia 424 milhões. Em outras palavras, os argentinos reduziram o seu valor de mercado, enquanto os brasileiros aumentaram o seu em quase 150%.

Como as equipes brasileiras conseguiram aumentar tanto os salários de seus jogadores? Em primeiro lugar está o aumento expressivo dos direitos televisivos dos clubes. Somadas, as temporadas de 2009 a 2011 renderam aos clubes brasileiros 1,4 bilhão de reais (2,4 bilhões em valores atualizados). Porém, somente no ano de 2019, o valor total recebido pelos clubes da televisão ficou em 1,7 bilhão de reais. Colocando de uma maneira bem resumida, isso significa que os times brasileiros começaram a receber o dobro do que recebiam em 2009. Com mais dinheiro, obviamente, as equipes brasileiras começaram a contratar melhor (e também a vender melhor). É difícil saber quanto as equipes argentinas ganham com TV, pois, de acordo com o jornalista Dario Zenz, essas informações não são públicas (devido provavelmente à corrupção), mas creio que é quase impossível que os valores sejam sequer perto dos números do Brasil.

Uma das coisas que o dinheiro proporciona é a possibilidade de dizer “não” ou, pelo menos, não aceitar qualquer proposta que apareça. As equipes brasileiras conseguiram vender os seus jogadores bem melhor que seus pares da Bacia do Prata. Nos últimos 10 anos, as maiores vendas brasileiras para a Europa foram, respectivamente, Neymar Jr. (88 milhões de Euros), Vinicius Jr (45 milhões) e Lucas Paquetá (38 milhões). As vendas argentinas não chegam nem perto: Lautaro Martínez (25 milhões de euros) e Lucas Alario (24 milhões). Curiosidade: Messi começou sua carreira no Barcelona e seu talento não rendeu nenhum peso aos nossos hermanos.

Com mais dinheiro da televisão e das vendas (e também com a ajuda de alguns mecenas, como é o caso de Palmeiras e Atlético-MG), começaram contratações de peso. As últimas mais pesadas foram a de Hulk, Diego Costa e David Luiz. Além de fortalecer o futebol nacional, o poder econômico brasileiro também enfraquece nossos vizinhos. Nacho Fernández Iglesias, vendido pelo River Plate ao Galo, foi um dos grandes responsáveis pela eliminação de seus antigos empregadores. No Flamengo, temos o uruguaio De Arrascaeta, que, na opinião deste que vos escreve, é o melhor meio-campista em atividade na América do Sul.

Agora vamos entrar em um problema particular das equipes argentinas, mais especificamente da sua economia, que afeta diretamente a competitividade financeira de seus clubes, conforme explica o já citado Dario Zenz. No país, há algumas cotações de dólares diferentes, mas a que nos interessa neste momento é a do “Dólar Oficial” e o chamado popularmente de “Dólar Blue”. Como o nome já diz, o primeiro é o valor determinado pelo governo e o segundo é o valor de mercado e, obviamente, o primeiro é bem inferior ao valor real. Explicando em poucas palavras, os times argentinos, quando vendem jogadores ao exterior, recebem o valor do dólar oficial, e isso acaba sendo refletido nos salários dos atletas. Além disso, por força de lei, as equipes portenhas pagam o contrato dos futebolistas no câmbio oficial, que é há anos-luz da realidade (a inflação oficial não consegue acompanhar a real). Assim, conforme explicou Rodolfo D’Onofrio, presidente do River Plate, “qualquer país limítrofe paga melhor”.

Por último, outro fator que na minha opinião explica a maior competitividade das equipes brasileiras frente às argentinas é a dificuldade do campeonato. Cair para a série B na Argentina é muito difícil: são considerados a soma de pontos nas últimas três temporadas e, no final, o candidato ao descenso da série A joga uma partida com o candidato à ascensão da Série B. No Brasil, caem quatro todos os anos e não tem muita conversa. Desta forma, as equipes brasileiras possuem um belo incentivo para manter equipes competitivas, pois, caso contrário, têm seus torcedores e times humilhados.

Se o futebol argentino deseja voltar a ter competitividade, recomendo que Javier Milei seja eleito presidente do país o mais rápido possível, mas isso é um assunto para um outro texto.

*Artigo publicado originalmente por Conrado Abreu na página Liberalismo Brazuca no Facebook.

Fontes: https://www.torcedores.com/noticias/2019/07/quais-paises-tem-mais-titulos-na-historia-da-libertadores

https://www.transfermarkt.com.br/campeonato-brasileiro-serie-a/startseite/wettbewerb/BRA1/plus/?saison_id=2010

https://www.transfermarkt.com.br/campeonato-brasileiro-serie-a/startseite/wettbewerb/BRA1/plus/?saison_id=2021

https://www.transfermarkt.com.br/superliga/startseite/wettbewerb/AR1N

http://www.espn.com.br/blogs/fernandofleury/97636_direito-de-transmissao-quanto-vale-um-nacional

https://ge.globo.com/futebol/times/corinthians/noticia/noticias-corinthians-pedrinho-dinheiro-venda.ghtml

https://www3.bcb.gov.br/CALCIDADAO/publico/corrigirPorIndice.do?method=corrigirPorIndice

https://www.transfermarkt.pt/neymar/transfers/spieler/68290

https://www.transfermarkt.com.br/lucas-alario/profil/spieler/193782

https://www.ambito.com/deportes/donofrio/es-imposible-que-un-jugador-que-hoy-mira-el-valor-del-dolar-se-quede-argentina-n5134671

https://ge.globo.com/blogs/meia-encarnada/post/2021/06/26/um-tombo-monumental-rebaixamento-do-river-plate-completa-10-anos.ghtml

 

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