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A eleição e o futuro da economia

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É bastante conhecido o slogan criado pelo economista e marqueteiro James Carville, em 1992, para a campanha de Bill Clinton: É a economia, estúpido! Fez tanto sucesso que se admite ter sido decisivo para o democrata vencer George Bush, pai. Carville soube perceber que os norte-americanos estavam mais preocupados com os problemas cotidianos da economia, como desemprego, preços altos e incertezas quanto a poderem honrar suas hipotecas, do que com a vitória do Tio Sam na Guerra do Golfo. É bem verdade que esse episódio tem exatos 30 anos, que vivemos no Brasil e não nos Estados Unidos e que nem só de economia vivem os eleitores, mas quem acompanha a política e as campanhas eleitorais em todo o mundo sabe que a situação econômica de qualquer país em tempos de eleições é de extrema relevância na escolha do voto.

Para começar, é preciso contrapor a visão econômica da equipe liberal de Bolsonaro com a da oposição, um grupo bastante heterogêneo, que mistura economistas tradicionais do PT com tucanos de última hora próximos aos financiadores do globalismo. Trata-se de um exercício extremamente fácil, tamanhas são as diferenças.

É uma questão de visão de mundo. Um lado coloca o Estado como condutor das atividades econômicas e, para isso, gosta de interferir aqui e ali, escolhendo politicamente setores e empresários amigos a serem beneficiados; decidir lá e acolá o que deve e o que não deve ser feito; defender, algures e alhures, empresas estatais para favorecer interesses políticos, tudo sempre em detrimento dos setores não contemplados com as bondades e, principalmente, dos consumidores; e, aqui e lá, impor regras, obstáculos burocráticos e gravames de todos os tipos. É claro que há, dentro dessa turma, algumas diferenças entre os economistas tradicionalmente socialistas do PT, mais chegados a um visual de Fred Flintstone, e os sociais-democratas globalistas de blazer e camisa social do PSDB, mas o que importa é que todos acreditam no “Estado babá” e olham para os cidadãos e os empreendedores como potenciais suspeitos ou, na melhor das hipóteses, como súditos ignorantes a quem precisam dar ordens, porque sabem o que é melhor para todos.

Liberdade econômica

Em contraponto, o lado dos liberais sabe que a estrada da prosperidade passa necessariamente, entre outros princípios, pelo respeito à economia de mercado, à liberdade econômica e de empreender, aos direitos de propriedade, passa pela desregulamentação, desestatização e desburocratização, por menor tributação e maior estabilidade das regras do jogo, com vistas a prover um ambiente saudável de negócios.

O lado da oposição acredita em soluções políticas centralizadas para os problemas econômicos. Já o da equipe atual prefere que as questões da economia sejam resolvidas pelo setor privado. Os economistas intervencionistas, desde Keynes, são freudianamente subjugados por um fetiche, que é o de fazer o governo gastar o nosso dinheiro, o que os torna viciados nos hábitos de tributar, endividar o Tesouro e inflar a demanda, seja emitindo dinheiro, seja aumentando as despesas públicas. Isso porque eles acreditam que tais atitudes evitam o desemprego, o que não é verdade, uma vez que o desemprego é causado justamente pelos excessos de gastos financiados com moeda sem lastro feitos no passado, assim como a indigestão acontece porque se comeu em excesso. Ao estimularem a demanda, agem como um médico excêntrico que receita uma feijoada para curar uma indigestão.

Os economistas da equipe de Bolsonaro, por sua vez, sabem que o crescimento autossustentado da economia é um processo de longo prazo, caracterizado por uma expansão contínua na capacidade de geração de oferta, e não de estímulos artificiais de curto prazo à demanda. Esse ganho de capacidade produtiva resulta de fluxos permanentes de investimentos privados, que se caracterizam por aumentos de produtividade. O crescimento, portanto, é uma questão de expansão de oferta, e não de inchação de demanda.

O passado

Que Brasil a equipe econômica de Bolsonaro herdou? Vamos ser simples e diretos? Herdou o resultado de cinco décadas de políticas econômicas de ministros social-democratas, desde Delfim Netto. O resultado dessas políticas, inevitavelmente, no longo prazo, é aumentar o desemprego e criar inflação. Seu alcance é de meio palmo à frente. Comportam-se eternamente como maus bebedores de uísque que, acreditando que a euforia das primeiras doses pode continuar a ser mantida, permanecem bebendo até que a animação dê lugar à embriaguez. Essas políticas podem levar a surtos de aquecimento, a espasmos de expansão puxados pela demanda, mas, inevitavelmente, acarretam os dois maiores males macroeconômicos, que são a inflação e o desemprego. A visão econômica social-democrata fez a economia brasileira andar de lado por mais de quatro décadas. Não foi outro o motivo que levou os governos do PT a deixarem um legado de 12 milhões de desempregados e inflação em alta, sem crise externa, sem covid e sem guerra. O governo Bolsonaro pegou a economia no início de 2019 ainda se recuperando dos estragos produzidos pela inacreditável “Nova Matriz”, que começaram a ser remendados depois do impedimento da então presidente, em 2016.

O presente

A segunda questão é sobre o estado atual da economia. Entre 2003 e 2016 — período tenebroso em que economistas e políticos petistas davam as cartas —, a economia, ao fim e ao cabo, andou em marcha à ré, enquanto a equipe econômica do atual presidente, em apenas quatro anos, abriu e asfaltou a estrada da prosperidade, sem segredos e planos mirabolantes, mas apenas com duas grandes mudanças de atitudes. A primeira refere-se aos três regimes macroeconômicos: o governo mostrou enfaticamente, logo de início, que atuaria na trajetória — ou seja, na estrutura, e não na conjuntura — do regime fiscal, com base na máxima “mais mercado, menos Estado”; que buscaria a autonomia do Banco Central para determinar o regime monetário, o que acabou acontecendo; e que o regime cambial passaria a ser o de taxa de câmbio flutuante. E a segunda mudança de postura, pouco divulgada por uma imprensa sempre hostil, mas extremamente importante, foi uma série de reformas no âmbito microeconômico, com medidas de fôlego visando a aumentos de produtividade e ao fortalecimento do setor privado.

Já havíamos perdido tempo demais com políticas econômicas de viés esquerdista, e o preço pago por essa insensatez foi altíssimo.

No campo macroeconômico, a economia brasileira vai muito bem. Nosso Banco Central foi o primeiro a perceber a necessidade de atacar a inflação que se seguiu à pandemia, o que fez o índice que mede o crescimento dos preços no Brasil, pela primeira vez na história, ficar abaixo dos índices dos países mais importantes, como os Estados Unidos e os da Zona do Euro. Em termos de desempenho do PIB, também estamos obrigando mês após mês os bancos e organismos que fazem projeções a revê-las para cima, ao contrário do que vem acontecendo no restante do mundo. O segredo? Mais mercado, menos Estado. Inflação caindo e economia crescendo, tanto que já superamos toda a queda da pandemia e, no último mês de julho, já estávamos 5,4% acima do PIB de 2016.

A segunda mudança de atitude, que levou às chamadas reformas microeconômicas, explica a robustez da recuperação pós-pandemia — em V — e que estamos no caminho certo. Esses são apenas alguns dos avanços: (a) sem amarras, com mais competição e marcos legais saudáveis, como, por exemplo, o de startup, nossas empresas estão inovando mais, gerando empregos de qualidade com sustentabilidade; (b) em termos de inovação, alcançamos o primeiro lugar na América Latina, pelo ranking do Global Innovation Índex — outputs; (c) já passamos de 10 milhões de empreendedores no Brasil, graças a vários melhoramentos no ambiente de negócios; (d) mesmo com a pandemia, a guerra e a crise global, a massa de rendimentos reais dos trabalhadores bateu recorde histórico, pela recuperação do emprego e dos salários; (e) já estamos no 30° lugar, entre os países mais populosos do mundo, em termos de abertura comercial, um recorde para o Brasil e atingimos 46% do PIB em corrente de comércio internacional, graças a medidas para melhorar a competitividade, facilitar o comércio e reduzir tarifas de importação. Com a remoção de barreiras burocráticas, já se pode abrir uma empresa em menos de 24 horas, algo inimaginável antes; (f) na construção civil, atividade usada como parâmetro para toda a economia, segundo a Sondagem da Indústria da Construção, da CNI, chegamos ao nível máximo desde 2012, ou seja, dez anos; (g) o crédito a empresas e famílias aumentou mais de 50% em relação a janeiro de 2019, com menos crédito direcionado e, portanto, com um mercado mais livre, como resultado de medidas como o cadastro positivo, a nova lei de falências e todas as outras que melhoraram o ambiente de negócios no país.

O futuro

Uma evidência forte de que estávamos no caminho certo para crescer estruturalmente eram os numerosos e vultosos investimentos que estão sendo realizados por miríades de empresas, em todas as regiões, além dos que já foram contratados para o futuro. Esses investimentos se caracterizam por maior produtividade e significam mais empregos e maior renda. Ou seja, representam o mais efetivo dos programas sociais. Nos 12 meses até julho deste ano, recebemos US$ 66 bilhões de investimentos estrangeiros diretos no Brasil, alcançando 3,7% do PIB. Apenas no mês de julho, entraram no país US$ 7,7 bilhões, quando o mercado esperava apenas US$ 4,9 bi. E isso em um ano repleto de instabilidades no mundo.

Em menos de quatro anos e enfrentando condições bastante adversas, a visão liberal da equipe econômica, ao resultar em um conjunto robusto de reformas, tornou o Brasil um destino seguro para investir e foi suficiente para colocar a nossa economia, seguramente, entre as que mais crescem de forma sustentável, de maneira a tornar realidade o desenvolvimento.

Nota do editor: Para saber a visão do autor sobre os próximos anos, após a vitória de Lula, leia o texto: O milagre da multiplicação das incertezas.

* Texto adaptado de versão publicada na Revista Oeste, Edição 134, de 14/10/2022.

Ubiratan Jorge Iorio é economista, professor e escritor. Instagram: @ubiratanjorgeiorio                                  Twitter: @biraiorio

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