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Wilhelm Röpke: breves notas sobre o pensamento de um liberal na Alemanha do pós-guerra (Pt. 2)

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Hayek-Roepke

Arthur Dalmarco*

Para iniciar essa segunda parte de considerações sobre um dos expoentes da Escola de Freiburg, optei por pinçar algunselementos argumentativos interessantes nas leituras feitas por Wilhelm Röpkee por Friedrich August Von Hayek sobre o momento histórico abordado por esta série de artigos.Em que pese muito possa ser dito sobre as diferenças fundamentais entre ambos – habitualmente destacadas por eles próprios em algumas oportunidades, inclusive[1] –,a proposta desse artigo constitui-se em delinear, rapidamente, um acostamento entre a defesa que ambos faziam de uma sociedade livre, baseada em mercados livres.

Para tanto, empregando-se as obras “O Caminho da Servidão”[2] e “Humane Economy”[3], é possível perceber que o verdadeiro empreendimento de ambos, no período que compreendeu e sucedeu os momentos finais da Segunda Guerra Mundial, foi no sentido de desmistificar certa compreensão majoritária à época de que a frente “anti-fascista” poderia tranquilamente compreender a Rússia Soviética, que supostamente se aproximaria mais de um socialismo democrático – ao menos era a posição dominante na academia à época – do que das vertentes autoritárias representadas pelo nacional-socialismo.

Quantoaisso, afirmaRöpke: “Those who, like F. A. Hayek and the author of this book, were so deplorably tactless as to explode this myth know from experience what it means to challenge a popular misconception[4].

 

O aparente pessimismo de Röpke se justifica pelas palavras do próprio Hayek, em breve passagem:

A maneira pela qual, com poucas exceções, seus estudiosos e cientistas (Alemanha) acabaram por se colocar prontamente a serviço dos novos governantes é um dos espetáculos mais deprimentes e vergonhosos em toda a história da ascensão do nacional-socialismo. Apesar de cientistas e engenheiro, em alto e bom som, terem-se proclamado líderes da marcha para um mundo novo e melhor, sua classe foi uma das primeiras a prontamente submeter-se à nova tirania”.[5]

No entanto, Röpke minimiza as contundentes assertivas de Hayek quanto ao fenômeno de “submissão” que os intelectuais impuseram a si mesmos no período, acreditando que embora seja verdadeira a descrição do processo que os conduziu a tanto, ainda havia na Europa, de um modo geral, uma certa “herança histórica”, transcendente à dimensão exclusivamente econômica, que constituiu, também, um óbice as vontades mais exaltadas de abraçar coletivismos.

Se é verdade que a defesa de uma sociedade livre, para ambos, incluía necessariamente uma defesa de mesmo teor de um mercado livre, fato inconteste é que o faziam por diferentes vieses. A “economia humana” é vista por Röpke como uma terceira via institucional, que apesar de não reconhecer a dimensão econômica como exclusiva, ou mais importante, dimensão de análise das sociedades humanas, atribui a ela grande importância, motivo que o leva a catalogar uma variedade de limitações ao processo de mercado.

Dando grande importância às condições que fundamentam o livre mercado sob tal perspectiva, Röpke responde a uma questão que é, para sua obra, fundamental: em que nível ético devemos situar a vida econômica de uma sociedade que deposita grande confiança na economia de mercado?

Para ele, o estímulo que deve nascer de forma descentralizada na sociedade é uma zona contígua, pouco ingênua, entre o puro altruísmo, de dedicação despreocupada e calma contemplativa, e a mera luta para determinar vencedores e perdedores. Um caminho intermediário e ponderado, segundo suas palavras.

Se, para Röpke, a defesa de uma sociedade livre deve ser compatibilizada com as práticas e contornos políticos necessários a sua defesa (abordando em inúmeras oportunidades as condições e ações que foram, a duras penas, postas em prática na Alemanha do pós-guerra), o argumento hayekiano, até o momento em que o livro de Röpke é escrito, ainda não havia atingido a plenitude encontrada em Direito, Legislação e Liberdade, sobrevalorizando o papel que os controles econômicos empregados no período pré-guerra desempenharam na erosão dos fundamentos capazes de sustentar uma sociedade livre, e, por outro lado, subvalorizando a indicação de caminhos práticos às mudanças e posturas políticas necessárias para a defesa institucional de suas crenças.

A abordagem hayekiana de até então, bastante realista se comparada aos posicionamentos como os de Edward Carr (grande cientista político, e também entusiasta dos rumos autoritários tomados entre as décadas de 1920 e 1940), não contemplando, contudo, as nuances apresentadas por Röpke, principalmente nas esferas sociológica e de relações internacionais, muito ricas neste último. Para os que, como eu, tem grande estima pelo peso que “O Caminho da Servidão” tem enquanto defesa robustade uma sociedade livre em moldes claros, a complementariedade proporcionada pela leitura da obra de Röpke torna-se um grande divisor de perspectivas. 

Para aprofundar esse argumento, na terceira parte da série de artigos, iniciarei a abordagem, pontual, dos fundamentos da “economia humana” propriamente, seus contornos e raízes sociológicas, indicando como a visão de Röpke influenciou as instituições alemãs criadas à época, e o nascimento da “social market economy” que deu origem ao mercado integrado europeu atual.

*Arthur Dalmarco é Advogado tributarista

 

[1]RÖPKE, Wilhelm. A HumaneEconomy – The Social Framework oftheFree Market. Chicago: Henry RegneryCompany, 1960, p. 272.

[2] HAYEK, Friedrich August von. The Road toSerfdom. London: Routledge Press, 1944.

[3] Idem 1.

[4] Idem 1, p. 22.

[5] Idem 2, p. 182.

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