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Um sonoro “NÃO” para a Globalização?

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Assistir o noticiário da “Governews” tem o condão de me tragar para a twilight zone. Lá, aparentemente, todos são mordazes críticos da saída do Reino Unido. Repórteres e correspondentes estão atônitos pela decisão autônoma e inconteste no referendo que já pode ser considerado um divisor de águas para o futuro (ou falta de futuro) da União Europeia. Acusam indivíduos, genericamente identificados como “os mais velhos” ou “o interior”, de extremistas, nacionalistas, (…), “ultraconservadores” que escolheram o Brexit.

Decidir por deixar o bloco europeu parece ter o dom de tornar qualquer cidadão comum em uma espécie terrível e odiável de xenófobo e até eurófobo (sic). Programas e mais programas, sucessivamente, ainda reagem de modo confuso ao sonoro LEAVE dito pela maioria dos britânicos (ainda que por pequena margem) porque os “globais”, da GloboNews, compreendem ser altamente temerário um “não” pronunciado, assim, para a globalização (que surpresa!). Tal conclusão, entretanto, só pode ser atingida diante de dois pontos de vista: do desonesto e do desinformado.

Não é nenhuma novidade que a Rede Globo de Televisão, em especial a GloboNews, reproduza ipsis litteris o “noticiário democrata” da mídia internacional. É exatamente isso que chamo de viés desonesto. Qual a necessidade de usar máscaras de isenção enquanto se transmite uma percepção política? É transvestida dessa mística que nossas notícias são veiculadas. Coberturas que são meras caixas de ressonância daquilo que é noticiado por CNN, The New York Times, BBC e The Economist, ou seja, veículos de mídia associados ao establishment asa da centro-esquerda/sociais-democracias mundiais.

As evidências desta afirmação estão por todo lado. Não é à toa que nenhuma palavra foi dita, em nossa mídia, sobre os ataques às mulheres da Europa, o teor violento no posicionamentos dos moderados muçulmanos da UK, ou, ainda, que se faça a defesa de uma falsa equivalência entre um cristão e um muçulmano na gestão da Constituição em um Estado laico. É papel de alguns (muitos) veículos de mídia reagir àquilo que é considerado um retrocesso ao multiculturalismo, ao secularismo, ao welfare state e às políticas de privilégios a grupos específicos.

Talvez não exista nenhum bloco político que tenha sido tão eficiente na promoção do imperialismo new left que a nomenklatura da União Europeia. Portanto, do ponto de vista daqueles que são desonestos intelectualmente, as verdades precisam ser mitigadas em nome dos delírios de um projeto hegemônico. A prática da intelligentzia demonstra que uma vez contrariada, sua reação precisa provocar uma comoção equivalente às frustrações produzidas ao projeto político embargado: desqualificar os inimigos, aqueles agentes políticos promotores das mudanças de rumos como Farage, Boris Johnson, Trump e até Bolsonaro, e anunciar as “punições” à população que decidiu contrariamente aos planos dos burocratas europeus, parecem ter sido seus meios escolhidos neste momento.

Por outro lado, não corroboro com a tese de que “tudo que me desagrada é fruto de uma mídia burguesa/esquerdista e golpista”. São um tanto pueris tais visões totalizantes e, porque não, totalitárias. Então, reservo um espaço para refutar a tese do: Brexit como um “não” para a globalização, como a manifestação de um ponto de vista do desinformado.

A verdade é que com a globalização o mundo vem passando por uma série de transformações relacionadas com o poder. Seja na política ou nos negócios, ele tem se tornando mais fragmentado e transitório. Pequenos grupos passaram a ser capazes de confrontar-se com grandes concentrações de poder, seja de exércitos, corporações ou, como neste caso, hegemonias políticas. Neste contexto, Brexit acaba sendo um fruto derivado da própria globalização, onde o reforço dado às identidades das comunidades locais sofreu um reforço em oposição às identidades aculturadas e cosmopolitas das capitais. Neste aspecto, corroborando com Roger Scruton, a defesa da soberania britânica, a promoção dos valores cristãos que configuram a identidade do Reino Unido e, por fim, a reação ao sistema jurídico napoleônico – o inverso da tradição da common Law – torna-se o ato mais europeu que o povo britânico poderia ter realizado desde o antagonismo a Hitler e Stalin. Logo, o recado dado pelos indivíduos está mais associado a uma resposta à mentalidade centralizadora dos burocratas em Bruxelas, por um povo insatisfeito e indignado com este déficit democrático que uma reação à globalização em si.

Por último, quero deixar registrado outro povo que, este sim, dá um sonoro não à globalização: o Islã. Trato aqui o Islã como um bloco mesmo sabendo que trato de um grupamento amplamente heterogêneo, pois somente me interessa um atributo – este comum aos grupamentos –  que é sua aversão ao modo de vida ocidental. Mas, este “não” você jamais ouvirá na sua televisão.

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Fernando Fernandes

Fernando Fernandes

Graduado em Direito (UFRJ). Mestrando em Filosofia (UERJ).

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