Se o governo deixasse a Petrobras…
Estão dilapidando o patrimônio público. Em pouco mais de três anos, já evaporaram cerca de 200 bilhões. Pudera. Relatório recente do Bank of América apontou a Petrobras como a empresa mais endividada do mundo. No mesmo diapasão, a Bloomberg calculou que sua dívida líquida já representa três vezes a capacidade de geração de caixa. Trata-se de um endividamento desastroso, especialmente para uma empresa com projetos de investimento tão dispendiosos pela frente.
Mas os problemas não param aí. A produção tem andado de lado há anos enquanto o consumo não para de crescer. Resultado: a conta petróleo fechou 2013 com um déficit superior a 20 bilhões de dólares. Tudo isso depois de, em 2006, com as mãos lambuzadas de óleo, o então presidente Lula ter bravateado a eventual entrada do Brasil na Opep. Sem falar de certas transações escandalosas que não saem das manchetes ultimamente.
Malgrado tudo isso, poucos políticos e analistas falam em privatização. A maioria é refém de uma opinião pública desinformada e iludida, ainda favorável ao controle estatal desse verdadeiro monumento do patrimonialismo pátrio. A doutrina estatizante inculcada durante décadas no imaginário brasileiro diz que o petróleo é um recurso natural estratégico para o desenvolvimento e, por isso, precisa ser mantido sob a guarda do Estado, para benefício do povo. Balela!
O Banco Mundial publicou, em 2006, um extenso e detalhado trabalho, intitulado “Onde está a riqueza das nações” , cujo objetivo foi medir a participação de três diferentes tipos de capitais — natural (recursos naturais), produtivo (bens de capital) e intangível (capital humano e qualidade das instituições) — na produção de riqueza de 120 países.
Os resultados mostram que, quanto mais desenvolvidas são as nações, menos elas dependem dos recursos naturais e mais utilizam os chamados capitais intangíveis. A comparação dos índices verificados entre os dez primeiros e os dez últimos do ranking analisado é bastante ilustrativa. Enquanto a participação dos capitais naturais no produto total de nove dos dez países mais ricos varia entre zero e 3% (a exceção é a Noruega, com 12%), nos países mais pobres ela nunca é inferior a 25%. Por outro lado, os capitais intangíveis têm um peso médio superior a 80% nas economias avançadas, enquanto navegam entre 40 e 60% na maioria dos dez países mais pobres. De toda a riqueza produzida no mundo, o estudo estimou em apenas 5% a contribuição dos capitais naturais, contra 17% dos capitais produtivos e nada menos que 77% dos intangíveis.
Esses resultados comprovam que não existe sequer correlação positiva entre desenvolvimento econômico e disponibilidade de recursos naturais. Não é à toa que nações como Japão, Cingapura e Suíça, por exemplo, localizados em regiões geologicamente pobres e geograficamente inóspitas, obtêm resultados econômicos bem melhores que muitos países com relativa abundância de riquezas naturais, como Nigéria, Brasil e Venezuela.
Se o governo estivesse realmente interessado no progresso e nos interesses do povo, deixaria a iniciativa privada cuidar da Petrobras e se concentraria em melhorar as nossas instituições e incrementar o capital humano.