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Quem são os explorados?

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igualdade-direitos

Ao lado do mercado de peixe de Santos está a banquinha de um senhor que ganha a vida vendendo temperos. Mesmo que seus produtos sejam um pouco mais caros do que os vendidos nos supermercados e na feira-livre próxima a minha casa, faço questão de comprar com ele o tomate, o coentro e a cebola que uso em minhas moquecas por causa de sua simpatia e do seu capricho na arrumação da banca. Para minha surpresa, no começo do mês passado encontrei outra pessoa em seu lugar, uma mulher nova, na casa dos vinte e poucos anos; e para minha tristeza, fui tão mal atendido que parei de comprar na banca.

Dias atrás, indo comprar peixe, vi que o “Tio” havia voltado. Fui até ele, perguntei sobre seu sumiço, fiz minha queixa e ouvi suas explicações. Devido a problemas familiares, ausentou-se da banca por algumas semanas. Para mantê-la funcionando, já que é dela que tira seu sustento, teve que contratar a tal mulher que conheci. Ao retornar ao trabalho, encontrou dívidas e muitas reclamações. Sua funcionária temporária tratou tão mal os fregueses que a maioria sumiu. Como se fosse pouco, ela manteve os pedidos junto aos fornecedores, gerando desperdícios e dívidas e ainda pegou para si parte do dinheiro que entrou.

De acordo com a moral socialista, a mulher mencionada deve ser tratada com todo o respeito e deve gozar de mil “direitos” que garantam sua dignidade. O Tio é o patrão opressor, que só pensa no lucro. Ela é a trabalhadora explorada, cuja dignidade é ameaçada pela ganância do patrão.

De acordo com a moral socialista, o caráter de uma pessoa é definido em função de sua posição na cadeia produtiva. Quanto mais baixa é a ocupação, melhor é o seu caráter e mais benefícios e “direitos” merece; quanto mais alto estiver na hierarquia de uma empresa, mais canalha, mais desonesta, mais gananciosa é a pessoa.

A “igualdade de direitos”, base do discurso socialista, rebaixa todas as pessoas dedicadas e honestas ao nível dos piores seres humanos. Se duas pessoas ocuparem a mesma função numa empresa, seu chefe não pode conceder um salário mais alto a uma delas como prêmio por sua produtividade. Pela lógica socialista, isso oprime o outro funcionário. Oprime o preguiçoso. Oprime o desleixado. Oprime o irresponsável. Oprime o incompetente.

O caso da banca de temperos representa tudo que envolve o socialismo. O Estado rouba a sociedade por meio dos impostos para sustentar leis e programas sociais que beneficiam, em sua maioria, pessoas como a funcionária relapsa do Tio. Tentemos imaginar a escala disso em todos os segmentos da economia, em todos os tipos e tamanhos de empresas e também nos intestinos estatais, onde o comportamento da funcionária em questão é quase um padrão. Quem paga por isso? Quantos trabalhadores não são recompensados por seus esforços por causa de leis que dizem que “todos são iguais”, portanto, devem receber os mesmos salários?

Infelizmente, a preguiça, a indiferença, a incompetência e o desleixo são características da maioria das pessoas, em diferentes níveis e entre todas as raças, religiões, culturas e classes sociais, porém, o conjunto dessas características afetaria apenas a vida de seus hospedeiros se não fosse o socialismo fazendo de tudo para SOCIALIZAR os desvios e as limitações das pessoas. Pela lógica socialista, as mil pessoas que ocupam uma mesma função numa empresa devem ganhar os mesmos salários, receber os mesmos benefícios e gozar dos mesmos “direitos”, independentemente do rendimento de cada uma. Além de impor tamanho absurdo – a punição dos dedicados em benefícios dos preguiçosos −, os socialistas ainda gritam que o capitalismo não oferece formas das pessoas pobres subirem na vida!

Eu sempre me lembro dos tempos em que minha mãe tinha uma pequena escola que nunca teve mais de 60 alunos, mas que nunca teve menos de 10 funcionários – até hoje não consigo acreditar que ela sobreviveu a isso. Uma das coisas que mais lembro é de seu cotidiano exercício de paciência ao lidar com as professoras. Além da maioria delas não demonstrar gosto pelo ofício, ainda eram desleixadas e muitas vezes irresponsáveis no cuidado com as crianças, a despeito das sistemáticas reuniões de capacitação que minha mãe oferecia. A triste verdade é que se tivesse acontecido algum acidente, teriam sido os nomes da escola e de minha mãe a estampar os jornais, não o da professora. Minha mãe teria sido processada pelos pais da criança, linchada pela sociedade e talvez até presa “por força da lei”, enquanto a professora responsável pela criança acidentada teria processado a escola alegando ter sofrido um “trauma psicológico”.

Lembro-me também das histórias de um de meus clientes que, a despeito da origem pobre, tornou-se dono de três restaurantes. Certo dia, um sujeito lhe procurou pedindo trabalho. Meu cliente lhe deu um emprego de pedreiro na pequena reforma que fazia num dos restaurantes, pagando-lhe um salário maior que o mínimo estabelecido pelo governo, mais o aluguel de uma kitnet, mais o almoço em seu restaurante. Resultado: O sujeito que outrora estava na pior, sem lugar sequer para dormir, a partir da segunda semana de trabalho passou a chegar atrasado e muitas vezes a faltar, sem dar satisfação. Meu cliente o aturou por mais de um ano até descobrir que ele também o roubava. Logo que foi demitido, o sujeito procurou um advogado e entrou com um processo no Ministério do Trabalho para ter seus “direitos”. Teve. Ganhou 5 mil reais e voltou a preencher o grupo dos “excluídos pelo capitalismo”.

A verdade é que o socialismo explora e oprime todos os indivíduos esforçados e talentosos, esmagando-os junto ao chão para que os preguiçosos e incompetentes não se sintam ofendidos pelo sucesso de alguém; e os principais explorados são os empresários, tratados como verdadeiros bandidos apenas pela posição que exercem.

O senhor da banca de temperos passará os próximos meses trabalhando apenas para pagar os prejuízos causados por uma única pessoa. Imaginemos, então, pelo o que se passa micros, pequenos e médios empresários que, além da espoliação fiscal e trabalhista, ainda precisam lidar com a má índole de dezenas, de centenas, de milhares de funcionários mal intencionados, porém, amplamente protegidos pelo Estado e pela cultura socialista. Creio que a grande maioria dos empresários (especialmente os menores) já foram vítimas da má-fé de funcionários e sofreram a humilhação de serem obrigados a indenizá-los por tê-los demitido.

O que os socialistas passivos – os ativos são cretinos mesmo − não entendem é que as medidas que regulam as relações de trabalho nas grandes empresas recaem com peso muito, muito maior sobre as micros, pequenas e médias empresas, com efeitos diretos sobre todos os assalariados que tentam subir na vida por meio de seus esforços e talentos. Uma grande empresa consegue lidar com a má índole de dezenas de funcionários, mas uma microempresa pode ir a falência com a irresponsabilidade de apenas um.

A verdade: Se não fossem as políticas igualitárias, provavelmente os preguiçosos seriam menos preguiçosos, os indiferentes seriam menos indiferentes, os incompetentes tentariam realizar melhor suas funções evitando desperdícios porque não contariam com a conivência do Estado; e também porque veriam colegas esforçados sendo premiados com salários melhores.

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João Cesar de Melo

João Cesar de Melo

É militante liberal/conservador com consciência libertária.

Um comentário em “Quem são os explorados?

  • Avatar
    23/05/2015 em 11:34 am
    Permalink

    João, muito bom texto como sempre, e posso dizer por experiência própria, você não está exagerando em nada. Também estou pagando – e caro – por um erro de um funcionário e se minha empresa escapar dessa, eu juro que vou me manter pequeno, mas nunca vou dar emprego a mais ninguém.

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