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Quem preside o Banco Central?

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banco-centralCerto dia, na data de entrega da lição de casa, um jovem, chamado Alexandre, disse para a sua professora que não pôde entregar sua tarefa escolar porque o papagaio comera o papel em que as respostas estavam escritas. É o tipo de coisa que levou até os amigos do garoto a afirmarem: “-Rapaz, você já foi melhor em dar desculpas”.

 Um episódio parecido ocorreu nesta semana, quando outro Alexandre, o que preside o Banco Central, anunciou opinião diferente da que o BC vinha dizendo ao mercado sobre o rumo da taxa de juros, depois que o presidente teve uma reunião extraordinária com a presidente Dilma. Em um inédito comunicado público na véspera da reunião do COPOM (Comitê de política monetária), Tombini externou sua preocupação com a projeção do FMI de que o PIB brasileiro poderia chegar a -3,5% em 2016. Para o mercado, o comunicado do BC foi um sinal de que, caso houvesse aumento da SELIC, ele seria menor que 0.50 ou 0.75 que chegaram a ser especulados. Dito e feito!

Como é sabido, a decisão foi pela manutenção da taxa em 14,25% e muitos analistas concordam que, do ponto de vista técnico, não foi uma decisão errada pois, o Brasil pode estar passando por um cenário de dominância fiscal – quando a política de aumento de juros perde sua eficácia no combate à inflação e tem consequências maiores no regime fiscal e no crescimento econômico – deixando o governo ainda mais endividado e estéril.

De qualquer forma, fica difícil de entender qual foi a novidade que Alexandre Tombini percebeu na projeção do FMI, uma vez que o boletim FOCUS, que é feito pelo próprio BC, já projetava antes do FMI, um PIB de -3% para o país este ano. Ou seja, por que o BC não sinalizou que não haveria aumento no início e gradualmente? Teria sido um problema de análise? Ou foi a convicção se “modificou” depois da reunião com a presidente?

Na prática,  a mudança repentina gerou ruídos na credibilidade do órgão e ainda levantou a lebre sobre ingerência política. A verdade é que usar o Fundo Monetário Internacional como pretexto convenceu tanto quanto as declarações políticas que ouvimos nesta semana por parte de um certo senhor, que afirmara não existir “alma viva mais honesta do que ele” ou de um outro candidato ao pleito municipal, que ao desistir de concorrer, deu a entender que acabara de descobrir que o PP de Maluf não é composto de anjos de candura. Pérolas à parte, toda essa confusão comunicativa da equipe econômica é preocupante porque a imagem do BC já esta abalada há algum tempo. Chegou-se ao ponto de não se ter mais certeza se o regime de metas de inflação, fundamental para saúde econômica, ainda existe de fato depois que a inflação de 2015 fechou em 10,67%, muito acima da meta de 4,5% e de seu teto 6,5%. Como fica a visão do mercado depois de mais um golpe de credibilidade?

Um banco central pode mudar de opinião, mas precisa haver algum fato, algo de concreto. A autoridade monetária não pode subordinar sua tarefa, que é técnica, às questões políticas e nem dar a entender que o fez, ainda que não seja o caso. E, nesses quesitos, Tombini mostrou não apenas inabilidade comunicativa, mas, também, que não compreende o poder que tem em mãos de influenciar expectativas. Ao contrário, tal trapalhada pode ter conseguido influenciar negativamente as expectativas futuras de inflação e se isso foi feito para salvar a própria cabeça, o que ele conseguiu foi deixá-la por um fio.

Enfim, se houve pressão política, indiretamente, será que Dilma concorda que presidentes devam ser meros objetos decorativos de quem os colocou lá? Resta saber, se ela também concorda que a incompetência seja algo significativo para apear alguém da função que exerce. Isso é, tomando o devido cuidado com possíveis contrassensos da própria resposta.

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Wagner Vargas

Wagner Vargas

Graduado em Comunicação Social pela Universidade Anhembi Morumbi, Mestrando em Administração e Gestão Pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV- EAESP), onde graduou-se em cursos de especialização em economia. Também é Sócio-Diretor da Chicago Boys Investimentos e atua com Assessoria de Imprensa, Comunicação Estratégica, Relações Públicas nos mercados: Siderúrgico, Varejo, Mercado Financeiro, Telecomunicações e em campanhas políticas. Integrante dos Conselhos de Economia e Investimentos em Inovação da CJE/FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), também é especialista do Instituto Millenium, onde produz entrevistas e artigos para o blog da Revista Exame.

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