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Petrobras, a eterna “vítima” dos interesses políticos e dos interesses escusos

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“Built to suit” é uma modalidade de operação imobiliária que pode ser traduzida como construção sob medida, em que um investidor, através de contrato com o usuário final, viabiliza um empreendimento imobiliário segundo os interesses do futuro usuário, que irá utilizá-lo por um período pré-estabelecido, normalmente longo o suficiente para garantir o retorno do investimento e a remuneração pelo uso.

A maior vantagem desse tipo de transação para o usuário final (locador) é evitar a imobilização de grandes volumes de recursos em ativos fixos, que acabaria comprometendo o fluxo de caixa operacional – capital de giro.  Como já deu para notar, esse tipo de contrato só faz sentido porque o locador precisa de um imóvel sob medida, de acordo com características e especificações adaptadas ao seu negócio particular.  Evidentemente, não faria nenhum sentido realizar um contrato de locação sob medida, normalmente muito mais caro que os usuais, caso houvesse no mercado, disponíveis para aluguel, imóveis semelhantes e mais em conta.
Mutatis mutandis, foi um negócio dessa natureza que a empresa Sete Brasil – uma sociedade anônima formada entre os fundos de pensão Petros, Previ, Funcef e Valia, além dos bancos Santander, Bradesco e BTG Pactual – entabulou com a Petrobras para fornecimento de sondas de perfuração para o Pré-sal.  O negócio foi fechado em 2010, graças, dentre outros, ao prestimoso trabalho do então gerente de operações Pedro Barusco, que posteriormente viria a ser contratado pela própria Sete Brasil, onde trabalhou de 2011 a 2013.  Só para lembrar, Barusco é aquele mesmo que, através de acordo de delação premiada, aceitou devolver US$ 97 milhões ao erário.

A partir de uma ordem expressa (baseada inteiramente em aspectos políticos e sem qualquer preocupação técnica) do ex-presidente Lula para que os investimentos da Petrobras para a exploração do pré-sal fossem, preferencial e majoritariamente, feitos no Brasil, criou-se a Sete Brasil, cujo objetivo era financiar, inicialmente, a construção de 29 sondas, sendo treze (45%) em estaleiros estrangeiros e 16 (55%) em estaleiros nacionais, para posterior locação à Petrobras.  A vantagem do negócio para esta última seria retirar do seu balanço o peso de imobilizar o custo de 29 sondas caríssimas.

O investimento previsto inicialmente era altíssimo – cerca de US$ 25 bilhões.  Segundo informações do jornal Valor, em sua edição do último dia 19, os sócios já entraram com R$ 8,3 bilhões, além de tomarem emprestados outros US$ 4,6 bilhões.  Apesar de todo esse aporte, a situação financeira da empresa não é das melhores, tanto que a presidente Dilma já determinou que o BNDES e o Banco do Brasil concedam novos empréstimos à companhia.  Sem isso, seria difícil continuar bancando os custos.

Se os problemas fossem só esses, os bancos públicos poderiam resolver com a presteza de praxe.  Entretanto, há outros agravantes a tumultuar o imbróglio, o principal deles é o atraso previsto na entrega das sondas pelos estaleiros brasileiros, todos eles de propriedade de grandes empreiteiras envolvidas até o pescoço no Petrolão e cuja maioria dos executivos de alto escalão estão presos pela Operação Lava-Jato.

Enquanto os dois estaleiros estrangeiros (com vasto know-how na produção de sondas) estão com a produção bastante adiantada e devem entregar as sondas ainda antes do prazo previsto no contrato, os estaleiros brasileiros, criados apenas para isso, mas sem nenhuma expertise anterior, estão enfrentando atrasos irrecuperáveis, o que pode ocasionar, de acordo com o contrato, o pagamento de multas astronômicas ao contratante (Petrobras), além de atrasar bastante o cronograma de perfuração dos poços do pré-sal.
Agora vem o mais interessante.  A solução proposta pela Sete Brasil, mas ainda não aceita pela Petrobras, é um pedido de “waiver” (perdão) pelo atraso, além do arrendamento de sondas no mercado internacional, que seriam utilizadas enquanto as suas próprias não ficam prontas.  Segundo a Sete Brasil, com a queda do preço do petróleo no mercado internacional, o mundo vive uma superoferta de sondas e escassez de contratos de exploração.

Em resumo, o aluguel de sondas está barato.  Possivelmente muito mais barato do que a Petrobras vai pagar no contrato com a Sete, cujos valores contratados variam de US$ 530 mil a 545 mil por dia, dependendo da sonda.  De acordo com um executivo da Sete, ouvido pelo Valor, “essa solução não mudaria o programa de conteúdo nacional, não atrasaria o projeto e reduziria custos“.  O jornal informa também que os ganhos poderiam ser divididos com a Petrobras.  (Puxa! Como eles são magnânimos!)

Pelo andar da carruagem, no entanto, o pessoal da Petrobras, por enquanto, não está muito sensível à demanda.  Por e-mail, encaminhado ao Valor, a empresa foi taxativa: “A Petrobras espera que a Sete Brasil cumpra com o prazo e com o conteúdo local contratados“.  Aguardemos os próximos capítulos.

Pelas informações disponíveis até o momento, porém, podemos deduzir que o robusto investimento para a construção de sondas sob medida talvez não fosse de todo necessário, uma vez que, pelo menos de acordo com a proposta da própria Sete à Petrobras, existiriam no mercado sondas disponíveis para locação que dariam conta do recado, possivelmente a um custo mais baixo.  Mas isso é mero detalhe.
Enfim, é nisso que dá administrar uma empresa olhando apenas para o interesse político eleitoreiro, sem maiores cuidados técnicos e econômicos.  Pudera. Quem paga a conta (acionistas e pagadores de impostos) não é quem determina o gasto.

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

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