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Perder faz parte da vida

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Assisti recentemente a um evento esportivo infantil no clube que frequento e reparei que, independentemente das colocações dos pequenos “atletas”, todos ganhavam medalhas iguais.  Ao ver aquilo, lembrei-me imediatamente de uma pesquisa sobre a qual havia lido na revista eletrônica Reason.  A referida pesquisa perguntou aos americanos se, nas competições infantis, somente as crianças vitoriosas deveriam receber troféus ou se todos os competidores mirins deveriam obtê-los.

A pesquisa foi feita na esteira de uma nova onda politicamente correta, preocupada com os eventuais danos psicológicos às crianças que fracassam em competições esportivas.  Felizmente para os americanos aquela sociedade ainda respira e a pesquisa mostrou que 57% deles acham que só os vencedores devem receber prêmios.

Cresci num tempo politicamente incorreto.  Medalhas de participação eram absolutamente impensáveis naquela época (até porque eram caras).  Ou você fazia jus aos seus troféus ou ficava chupando dedo e “invejando” os troféus alheios.  Minhas poucas medalhas eu costumava guardar com imenso cuidado e as exibia aos amigos e parentes com enorme orgulho.  Competição era coisa séria.

Talvez por conta de nossas próprias experiências, eu e minha mulher nunca abrimos mão de envolver nossos filhos com esporte competitivo.  Acreditamos que eles são mais saudáveis e duradouros que os esportes meramente recreativos, porque envolvem compromissos com o resto da equipe, com treinadores, etc.  Além disso, o esporte de competição nos testa de várias maneiras.  Nele, colocamos a prova nossas habilidades, nossa resistência e, principalmente, nossa capacidade de dar a volta por cima.

Embora meus filhos fossem bons atletas, os reveses sempre foram mais frequentes que os troféus, mas a minha avaliação particular é de que as inúmeras derrotas os ajudaram muito mais em seus respectivos desenvolvimentos do que as vitórias.  Alguém já disse que o caminho do sucesso é recheado de fracassos.

Sociedades sem competição são sociedades sem progresso.  Onde os melhores não têm incentivos para chegar ao topo, não existe desejo de avançar, de superar limites. Mas, acima de tudo, as competições são lições para a vida inteira.  Num ambiente competitivo, as crianças aprendem desde cedo que existem aqueles que podem correr mais rápido, nadar mais rápido, jogar melhor, enfim, aqueles que serão campeões e aqueles que, embora tentem com todas as suas forças, não obterão êxito, pois seus talentos estão direcionados para outras atividades.  E quanto mais cedo descobrirmos que atividades são essas, maiores serão nossas chances de sucesso na vida.

Evitar as competições e distribuir medalhas de participação, como querem os politicamente corretos, pode ser algo muito perigoso.  Arriscamos deixar as crianças despreparadas para a realidade da vida, que, afinal, não costuma ser nem um pouco fácil.  Se, por exemplo, você é preterido naquele emprego que tanto deseja, não há troféu para o segundo lugar.  Se o patrão resolve premiar o seu colega com uma promoção, deixando-o de fora, não haverá nenhuma medalha de participação para você.  Se aquela menina bonita em quem você está interessado não lhe dá bola e prefere o seu amigo, não haverá qualquer troféu para aplacar sua tristeza.

Feliz ou infelizmente, a vida nos reserva muito mais derrotas do que vitórias.  Se as crianças não puderem competir, será que aprenderão a lidar com os fracassos?

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

Um comentário em “Perder faz parte da vida

  • Avatar
    29/08/2014 em 10:08 am
    Permalink

    Tem toda a razão o articulista. Arrumar maneiras de negar a existência da derrota é a forma mais segura de criar uma geração de derrotados. A boa formação de um caráter exige compreender que nem a vitória é motivo justo para a arrogância e o desprezo pelos vencidos, nem a derrota é razão de humilhação, mas de reconhecimento da realidade, estímulo ao esforço e à superação. Apagar as fronteiras entre sucesso e insucesso não ajuda em nada. Além do que, ninguém é vitorioso ou derrotado em todos os campos. É bom experimentar os dois lados da coisa. Tirado isso, um diplominha de participação pode ser uma boa cortesia.

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