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Parte IV – Temos o dever moral de combater o terrorismo

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guerra e paz

Um lugar comum na política internacional é sustentar um limite de coexistência insustentável. O lugar adequado de uma nação é o coração de um povo em liberdade e o povo ideal é aquele por onde transita a ordem menos selvagem e menos bárbara. O Oriente médio se configura como um espaço de guerra contínuo e a tensão explode a qualquer momento. Não há como reconduzir um povo à paz sem que a melhor lei e a melhor coordenação se estabeleça. Não é provável que a paz se instaure enquanto houver domínio daqueles que postergam o desenvolvimento de direitos válidos universalmente e se constituem como entraves para a consolidação de um patrimônio humano sob a forma de leis.

Negar a um povo a civilização e a democracia é negar a própria História e o seu desenvolvimento. Todos têm direito à paz, mas todos têm também direito à defesa daquilo que sustentam em seu íntimo como justiça. Políticas e posicionamentos bélicos não revitalizam o coração de um povo, mas quanto mais se postergar a inclusão de uma parte da História na própria evolução histórica, mais se possibilitará eclosões bárbaras e antidemocráticas como se costuma ver nos ataques terroristas.

É inegável que hoje temos uma situação diametralmente oposta às antigas e tradicionais guerras. Não há como proceder em tal situação com a covardia ou com a insipiência. Todas as bandeiras, todos os cultos, todas as nações e todas as ideias revolucionárias se comungam em um só ardor pela justiça e pela preservação das conquistas morais e civilizatórias de séculos e mais séculos da nossa História. Sem questionar o belicismo das potências que efetuam ataques aos grupos terroristas, convém notar que não se trata por ora de uma simples questão de poderio econômico, mas de constituição de uma aliança sólida entre todas as nações que se veem ameaçadas pela perversidade insólita de um grupo desterritorializado e que, por esse motivo, se confabula diante de nós.

Nada do que somos, nada do que estatuímos, nada do que amamos e nada daquilo em que acreditamos sensibiliza essas criaturas desprovidas de senso de justiça e de elo comum. Pede-se paz, permaneçamos em paz. Pede-se a guerra, não temamos, pois o quesito da justa medida haverá de operar também nesse caso. A justa medida é a necessária retaliação ao que se configura como a maior catástrofe desse século, o terrorismo, a bestialização, o suplício de gente de fé em nome de absurdos dogmáticos.

Temos, pois, o dever moral de combater o terrorismo. Temos o dever de resplandecer perante esses cruéis sanguinários como portadores de uma norma de conduta superior, como uma terra de gente sã, de gente livre e plena de coração. Temos como questão ainda mais urgente o despertar íntimo de cada criatura para a constatação em si mesma dessas verdades que nos conduzem ao levante atual contra todo ódio e toda ira que se autoproclama como religião.

Religar, unir, desfazer cortes substanciais de cultura, coligar, amainar, curvar-se ante a poderosa lei universal do amor. Isso é religião. Isso é luta digna de ser travada.

Constatamos hoje o momento mais traumático da nossa indecisa História que, entre conquistas e desvarios se faz contundente, forte e lúcida para o maior bem comum e para a maior harmonia universal. Quem estiver disposto à selvageria, curve-se à covardia diante do inominável terror. Quem estiver disposto a zelar pelos nossos anseios de paz, tenha em mãos a arma do combate digno: o coração reto e a presença indiscutível do sentimento de justiça. Pela primeira vez, estabelece-se uma contenda unilateral, pois apenas um lado reluz, enquanto o outro é treva insana. Quem quiser persuadir-se a si mesmo, consulte a própria consciência. Uma pequena vertigem fará ver que o edifício moral que nos sustém é o âmago profundo de todos nós.

O encontro total entre as civilizações só será possível por meio da convivência harmônica entre as diferentes culturas, mas isso não quer dizer que um ultimato ao mundo como aquele proclamado pelo Estado Islâmico possa ser administrado dentro da nossa cultura. Contingências culturais, ou seja, limitações e expansões do nosso projeto civilizatório são possíveis e necessárias. O que não é possível ou necessário é a postulação de um estado de demência estrutural dentro de um quadro que evolui. Concordamos que a estrutura da sociedade pede a heterogeneidade, mas rejeitamos que essa heterogeneidade se configure primariamente pela sua condição desarmônica ou pela sua degeneração. Coordenar o seu estágio mais elevado com alteridades sempre favorecerá uma visão ampliada do próprio social, enquanto coordenar desvios dentro de uma estratégia linear poderá implodir a própria sustentação social requerida. Por certo optaremos pela paz sempre que isso for possível, mormente lutaremos até o fim para salvaguardá-la. Mas, uma vez que a presunção dominante de um grupo terrorista ameace a liberdade daqueles que estão em paz, cabe à população e ao estadista em voga responder à altura contra a tentativa de dominação executada.

Nosso posicionamento é o da Democracia universal e não o da guerra. Porém, não adianta consorciar com quem não pensa e não há como negociar com quem não vê. Quem se compraz em mistificar a si mesmo e em fazer-se porta-voz da divindade através de terrores absurdos não haverá de compreender ou respeitar um acordo de paz. Lutemos sim pela paz, mas não nos deixemos cativar por posições em si mesmas desprovidas de fundamento por abrigar uma deficiência de conhecimento do percurso histórico percorrido pela nossa civilização. O Oriente haverá de encontrar a paz quando seus habitantes encontrarem o amor. Nada do que se dá entre os homens pode fomentar a paz sem que a própria espiritualidade desperte.

Por espiritualidade entendemos a comum anuência a uma porção nobre dentre os valores cristãos e a uma pequena parcela de resposta às indagações contundentes que nos afligem o coração. Espiritualidade é sentimento, é sabedoria, é amor. O maior desafio da História atual é conduzir os povos a uma melhoria dessas condições; é albergar um novo começo em novos corações, desafiando assim aqueles cuja intolerância conduziu ao fracasso todas as tentativas de solução dos conflitos que se configuram hoje como uma real ameaça aos sonhos de paz.

Trocar a ousadia desprovida de senso de justiça e de humanitarismo pela real e concreta firmeza na elaboração de leis e de possibilidades de convívio igualitário entre os povos é o desafio que nos devemos propor. Os porta-vozes das nações permanecerão em seus próprios dilemas e entregarão todas as chances de negociação caso não encontrem em si mesmos a fonte íntima de suas próprias contradições. Sustentemos a paz através da instância régia democrática e asseguremos que o desejo de todos aqueles que se precipitaram não haverá de ser suficiente para arrefecer o critério novo de unificação solidária.

Cada vez que a transformação política começa, os estudiosos e os letrados acercam-se de suas postulações, de seus ideais e de suas ideias para tentar compreender o que se passa e o modo como se configura a História, que atua vertiginosa, impalpável, febril e esmagadora. Esmagadora porque a consciência tenta obstinadamente em vão reencontrar o centro norteador de seu próprio caminho. Eles tracejam belas páginas e transformam a si mesmos na execução do circuito indefinido. Mas, cabe a pergunta, folhear o que a cultura já nos legou será suficiente para captar o sentido do agora? Revisitar teorias e velhas páginas aumentará a chance de se sair ileso do fluxo ininterrupto do devir?

Também aquele para quem a faculdade reflexiva pesa, embora o sonho idealista transmita certo ar de geração nova, continuamente se questiona acerca de suas próprias posições e atitudes diante dos acontecimentos históricos e sociais. Permanentemente ávido de alcançar uma ideia e intransigentemente sóbrio diante dos recursos ideológicos dos menos honestos, o homem que vive a História e que a reflete sai da pura contingência de si mesmo e salta na fileira das possibilidades de adesão que se configuram no momento dado. Por isso, temendo muito mais a própria covardia que a injusta acusação, o homem que luta e que age a despeito de seu caráter interior e naturalmente ausente, precisa constantemente rever a si mesmo, reacendendo em si a perfeita isenção de acordos que visem seu propósito individual para alçar-se tão somente à esfera lúcida da tenaz ideia de um fruto a colher pela humanidade sôfrega.

Possuir um ideal, uma ideia e uma luta será alcançar um projeto de vida que transcenda a própria vida e que a sustente luminosamente nos momentos desalentadores de quem se vê constantemente ameaçado pelo próprio crivo da consciência que se revira, que se anula e que se reconquista. Cada ente e cada tempo tem o seu papel e cada papel tem o seu motivo, cuja estruturação configura-se como o destino daquele que o vive, desenhando em cada um a confiança em si mesmo necessária para seguir adiante.

Que lutem todos aqueles a quem o ardor da luta convocar, mas lutem pela consciência adquirida na batalha interna do autodomínio; lutem pela possibilidade de aumentar o ciclo virtuoso daqueles que lograram êxito em se emancipar e lutem sempre pela libertação secular das mentes tendentes ao marasmo e à letargia. Não podemos aumentar nossa potência a não ser pela permanente conquista da nossa própria fé. Que essa fé seja o móbil de uma luta digna e que esse motor seja a toada das futuras gerações. Liberdade, Igualdade, Fraternidade: não há nada maior, no campo político, pelo quê se lutar.

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Catarina Rochamonte

Catarina Rochamonte

Catarina Rochamonte é Doutora em Filosofia, vice-presidente do Instituto Liberal do Nordeste e autora do livro "Um olhar liberal conservador sobre os dias atuais".

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